As aparências podem iludir mas, em termos factuais, o Manchester City partia para o jogo em Goodison Park frente ao Everton na quinta posição da Premier League e fora dos lugares que dão acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Sim, havia “atenuantes”. O facto de ter um ou dois encontros de atraso em relação aos primeiros classificados, por exemplo. No entanto, e mesmo tendo em conta que na última semana a equipa foi à Arábia Saudita “passear” no Mundial de Clubes para mais um triunfo convincente do representante da Europa na prova, esses 34 pontos em 17 jogos mostravam também um “anormal” número de deslizes na principal prova do calendário inglês. Deslizes que, a partir de agora, teriam juros de cobrança mais altos.

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Que os citizens são uma das melhores formações da atualidade, ninguém tem dúvidas. Ainda assim, seja por lesões ou por erros pouco comuns, não conseguiu mostrar isso mesmo dentro das quatro linhas a nível de resultados numa trajetória que teve um triunfo com reviravolta frente ao Luton, que impediu a pior série de encontros consecutivos sem ganhar na Liga da carreira de Pep Guardiola (empates com Chelsea, Liverpool e Tottenham, derrota com Aston Villa), mas que voltou a ter outro deslize no Etihad Stadium antes de partir para o Mundial de Clubes, cedendo uma igualdade a dois com o Crystal Palace quando vencia por 2-0 aos 75′ e controlava por completo a partida. Agora, em Liverpool, procurava a redenção desse “desperdício”.

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“Tenho este sentimento de que o trabalho está feito. Eu pensava que isso ia acontecer quando ganhássemos a Liga dos Campeões, mas depois pensei na Supertaça Europeia, que nós não tínhamos, no Mundial de Clubes, que nós não tínhamos… Agora temos tudo”, começou por comentar na antecâmara da partida frente ao Everton. “As pessoas dão-te crédito só porque ganhamos mas tens de olhar mais longe. A partir do momento em que não ganhas, eles vão destruir absolutamente tudo. Quando não ganhas, não és nada, zero. Se estás no negócio de ser um treinador de futebol, tens de aceitar que as pessoas criticam só porque não ganhas. Ok, vamos tentar ganhar o próximo jogo. Não interessa o que fizeste no passado. Quanto mais ganhas, mais eles querem que falhes. Senti-me dessa forma desde o dia que ganhei o sexto troféu com o Barcelona. Mas esses títulos que vencemos são incríveis”, acrescentou ainda o técnico espanhol na mesma conferência.

“Antes da final do Mundial de Clubes disse à minha equipa: ‘A razão de estarmos aqui não é Istambul, não é o Inter, mas sim o Mónaco, o Liverpool, o Tottenham, o Lyon… A final contra o Chelsea que perdemos, os últimos minutos contra o Real Madrid nas meias-finais [de 2021/22]. Na altura doeu, agora já não dói. Isso ajudou-nos a vencer o Inter. É um processo. Os grandes clubes estão habituados a isso mas para nós foi novo, sentir que podemos fazê-lo, acreditar que podemos ganhar em todo o lado. Não é apenas trazer o Pep e as coisas acontecem imediatamente, é um processo de mudança. Por vezes estivemos mais perto e outras mais longe, mas no final é um processo. Chegámos aqui e terminámos oito anos de trabalho com muitas desilusões mas isso faz parte da vida e do desporto. Isso faz-nos sentir que estamos a ir para o último [ano] e os jogadores voltaram a fazê-lo”, destacou ainda Guardiola, quase que a deixar o mote para aquilo que será a segunda metade da época. E se o encontro não começou bem, o final não podia ser melhor: sem o Thor Haaland, lesionado, apareceu o Homem Aranha Álvarez, o mágico Phil Foden e o verdadeiro super herói do técnico, Bernardo Silva, com o sexto golo da temporada a fechar as contas depois de uma exibição onde voltou a mostrar a importância na equipa mesmo quando as coisas não estão a sair da melhor forma.

O início do encontro confirmou aquilo que se esperava, com o Manchester City a dominar com bola todos os momentos contra um Everton a explorar a profundidade com Beto (também com André Gomes a ser titular) mas com uma grande organização defensiva que permitia muitas vezes esboços de saída em transição rápida. Oportunidades, essas, só junto da baliza dos visitados e com Pickford a brilhar, travando as tentativas de Phil Foden na área (4′), de Matheus Nunes isolado com Julian Álvarez a fazer a recarga (14′) e de Grealish com um “bico à futsal” também na área (23′). Golos, nem vê-los. E foram mesmo os toffees a adiantarem-se no marcador, com Dwight McNeil a carrilar jogo pela esquerda antes da assistência para Jack Harrison (29′). Com surpresa, o Everton passava para a frente e à procura do segundo golo, com Ederson a fazer uma fantástica defesa que travou um avanço que poderia depois ser irreversível antes do intervalo (33′).

O conjunto da casa encontrava a sua zona de conforto, sendo que com Sean Dyche no comando não tinham qualquer derrota depois de marcarem primeiro em 17 jogos (13 vitórias e quatro empates). Mais: ainda no decorrer da primeira parte, John Stones lesionou-se num lance com Beto e foi mesmo substituído por Gvardiol, sendo que Rúben Dias, por doença, também não tinha sido opção. Pep Guardiola tinha de fazer algo ao intervalo para evitar mais um deslize numa fase em que levava apenas um triunfo nos últimos seis compromissos a contar para o Campeonato e essa metamorfose chegou sem mexer qualquer unidade.

Por um lado, a agressividade e intensidade com e sem bola aumentaram. Por outro, as zonas de pressão mais altas tiveram maior eficácia. Por fim, o Manchester City foi procurando outras forma de chegar à baliza de Pickford. Foi assim que chegou o empate logo no arranque do segundo tempo, com Phil Foden a arriscar de meia distância num remate sem hipóteses após assistência de Bernardo Silva que deixava tudo em aberto para o que faltava jogar (53′). Julian Álvarez ainda teve um livre direto para defesa vistosa do número 1 inglês mas o 2-1 não iria demorar muito mais, com Onana a cortar um remate de Aké com a mão na área e o argentino a marcar de penálti (64′). Matheus Nunes foi substituído por Kovacic para uma fase do encontro que já teria características diferentes e a decisão ficaria reservada para os minutos finais depois da pressão do Everton, com Bernardo Silva a aproveitar um erro na saída dos toffees para tirar um chapéu de classe (86′).