A energia nuclear surpreendeu o mundo em 1945, com o bombardeamento a Hiroshima e a Nagasaki, o que levou a que muitas indústrias tentassem aplicar às suas necessidades esta fonte de energia quase inesgotável. A partir do início dos anos 50, os norte-americanos começaram a desenvolver projectos para os primeiros submarinos e navios movidos com a energia gerada a bordo por um reactor atómico, pelo que foi sem surpresa que o submarino USS Nautilus, em 1958, conseguiu a proeza de navegar sob os gelos que cobrem o Pólo Norte, para apenas um ano mais tarde o cargueiro HS Savannah demonstrar que conseguia percorrer 560.000 km, a 20 nós, com apenas uma recarga das suas 32 barras de material radioactivo. E todo este potencial levou a Ford a pensar adaptar um pequeno reactor a um automóvel.
O projecto do primeiro carro movido a energia nuclear, o Ford Nucleon, surgiu igualmente na década de 50, com umas formas que os designers do construtor consideraram arrojadas e futuristas. Em 1958 foi divulgado num comunicado de imprensa e, pouco depois, até teve direito a um modelo à escala 3/8, mas o projecto acabou por nunca arrancar.
Um reactor nuclear é essencialmente uma máquina compacta de produzir calor. Muito calor, uma vez que o núcleo pode atingir uma temperatura de funcionamento superior a 2000ºC, que necessita de muita água para ser refrigerado e mantido dentro dos valores de segurança, pois de contrário o condutor irá ter de lidar com um pequeno Fukoshima (o desastre nuclear que teve lugar no Japão em 2011 por falta de refrigeração) na mala do seu automóvel. É depois esta água, transformada já em vapor a grande pressão e temperatura, que pode mover turbinas que geram electricidade e alimentam motores eléctricos que, por sua vez, movimentam o veículo. O projecto Nucleon da Ford seria impossível de materializar, a menos que se construísse um reactor extremamente pequeno e uma mangueira extremamente longa, pois seria necessário fazer correr água fria em quantidade em torno do núcleo para lhe conter a temperatura, algo que existe em abundância nos navios e nos submarinos.
O Nucleon parecia uma espécie de pick-up com base num automóvel, solução que foi muito popular entre os condutores norte-americanos até há umas décadas. E era precisamente a meio do que seria a caixa de carga que os engenheiros da Ford planeavam instalar o reactor, sem que se chegasse a perceber como pensavam refrigerá-lo ou até conter os danos provocados por um hipotético acidente de trânsito, que interrompesse a circulação do líquido de arrefecimento. Certamente foram estas questões que levaram o projecto a não ir mais além do que um modelo à escala.
Quando revelou o Nucleon, a Ford depositou nele algumas esperanças, sobretudo porque o modelo seria capaz de percorrer 5000 milhas, um pouco mais de 8000 km, sem necessidade de abastecer, segundo os cálculos do construtor. A ideia até podia parecer ser boa, mas só até nos apercebermos que o acto de “abastecer” este Ford consistiria em colocar no núcleo mais uma barra de material radioactivo, em que apenas se pode tocar com um fato que, à data, seria extremamente pesado e volumoso para não condenar a uma morte dolorosa não só o condutor, como toda a sua família.