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A noite em que Rafa se soltou a dois dias de ser um jogador livre (a crónica do Benfica-Famalicão)

Este artigo tem mais de 6 meses

Famalicão deixou tudo em aberto até ao fim entre uma bola no poste e defesas de Trubin mas Rafa, que acaba contrato em junho, resolveu as contas com o jogo em que melhor definiu no último terço (3-0).

Rafa marcou e assistiu na saída a ganhar do Benfica em 2023 frente ao Famalicão
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Rafa marcou e assistiu na saída a ganhar do Benfica em 2023 frente ao Famalicão

PATRICIA DE MELO MOREIRA

Rafa marcou e assistiu na saída a ganhar do Benfica em 2023 frente ao Famalicão

PATRICIA DE MELO MOREIRA

Três jogos, três objetivos atingidos e a autêntica tempestade entre uma má campanha na Liga dos Campeões e dois empates consecutivos no Campeonato a dar lugar à bonança com mais metas reforçadas para tudo o que ainda falta na temporada. O futebol tem esse condão de, como um dia referiu o ex-líder do V. Guimarães Pimenta Machado, o que hoje é verdade, amanhã poder ser mentira. Foi isso que aconteceu de novo, neste caso com o Benfica e com o contexto de Roger Schmidt no comando da equipa. Aquela reação dos adeptos na segunda parte da igualdade com o Farense na Luz após a substituição de João Neves não foi apagada mas faz parte do passado. Tal como os principais temores europeus, com o triunfo em Salzburgo a garantir ainda a passagem ao playoff de acesso aos oitavos da Liga Europa. Tal como a eliminação precoce da última época na Taça da Liga, com a goleada ao AVS a confirmar a passagem à Final Four. Tal como a quebra no Campeonato, com a vitória pela margem mínima em Braga a mudar o rumo da campanha. Seguia-se o Famalicão.

Benfica vence Famalicão com golos de Arthur, Rafa e Musa e lidera Campeonato isolado à condição

“Queremos fazer um bom jogo e ganhar. Jogámos contra o Famalicão há poucas semanas e sabemos que é uma equipa extremamente organizada, com muita qualidade coletiva e individual, particularmente na frente. Qualquer momento pode ser decisivo. Sabemos que pode ser difícil mas estamos preparados, o espírito está em alta”, tinha resumido, entre vários elogios ao adversário que tinha pela frente perante a hipótese de subir à liderança isolada do Campeonato à condição (o Sporting joga apenas este sábado em Portimão). “O Famalicão está a jogar um bom futebol. Estão bastante bem na classificação, são fortes taticamente e jogam bom futebol, têm um plano claro e sabem o que fazer nos diferentes momentos do jogo. Têm jogadores rápidos, com capacidade para desequilibrar. Temos de ter cuidado com os cruzamentos, com as bolas paradas e com a parte tática em geral. Estamos à espera de um jogo difícil. Vejo uma equipa em boa forma e esta é uma boa oportunidade para que outros estejam preparados para fazer um bom trabalho”, realçara.

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Sem particulares preocupações com aquilo que pode ser o mercado, seja no capítulos das entradas (e são cada vez mais as notícias que dão conta na aposta em pelo menos mais dois laterais), seja no interesse dos principais clubes europeus em jogadores como João Neves ou António Silva, ressalvado também que os dois regressos de Bah e David Neres serão quase como “reforços” dentro do próprio plantel, Schmidt partia para a última partida do ano civil de 2023 com uma confiança reforçada em dar continuidade não só aos últimos resultados mas também à estabilidade que a equipa foi recuperando. “Acho que já tivemos oportunidade de fazer jogos muito bons. A nossa abordagem esta época é diferente mas acho que atingimos um equilíbrio na equipa. Estamos bem ofensivamente, pressionamos muito bem e recuperamos a posse de bola com facilidade. Estamos a bom nível. Temos de ser mais eficazes, estamos a falhar muitas oportunidades e isso é evidente quando analisamos a estatística. Mas vejo alegria no relvado, nas ligações entre os jogadores e acho que estamos a bom nível, à semelhança do que aconteceu na temporada passada”, salientara.

Em paralelo, havia uma dificuldade extra que chegou a provocar até algumas dúvidas no universo encarnado e que passava pela ausência de Ángel Di María para poder prolongar o período de férias um pouco mais tal como Otamendi, que neste caso cumpria castigo. “A decisão de dar algum descanso prolongado a Di María foi uma decisão que tomei. Acho que tem feito muitos jogos não só aqui mas também pela seleção. Acho que merecia um boa pausa. O horário do jogo é difícil e exigente e achei por bem dar-lhe este descanso prolongado”, explicou, na antecâmara de uma partida onde não contaria também com Tengstedt, autor do único golo em Braga e que sofreu uma lesão naquela que era a melhor fase desde que chegou à Luz.

Com isso, sobravam algumas dúvidas em relação ao onze. Gonçalo Guedes era uma opção teoricamente certa para substituir Ángel Di María na ala mas podia também jogar mais na frente ou mesmo não entrar de início em detrimento de Tiago Gouveia, que há muito “reclamava” uma oportunidade de início. No eixo ofensivo, Musa até tem sido mais vezes lançado na segunda parte à frente de Arthur Cabral mas o brasileiro nem por isso partia atrás na corrida, tendo em conta que essa aposta tinha mais a ver com as características que a equipa necessitava perante o contexto que o jogo apresentava. Sem abrir o jogo em relação às opções, Roger Schmidt aproveitava para “motivar” o antigo jogador da Fiorentina, que ganhou um outro alento depois do calcanhar decisivo nos descontos da partida em Salzburgo que valeu a passagem à Liga Europa.

“O Arthur já cá esteve meio ano. Claro que o início não foi fácil mas está a trabalhar arduamente nos treinos. O objetivo dele é ser um avançado de topo no Benfica e damos-lhe o apoio que ele precisa. Tem a qualidade, a mentalidade e estamos a certificar-nos de que ele consegue jogar a bom nível no Benfica”, frisara. Voltando à titularidade, o brasileiro deu a melhor resposta possível marcando o primeiro golo no Campeonato logo na primeira oportunidade que teve no encontro após assistência de Rafa, que cumpria o jogo 300 pelo Benfica e 500 nos seniores. E se João Neves mostrou que é cada vez mais um jogador que não consegue jogar mal (até mesmo quando andava a fazer a ala direita fugia à mediania coletiva quando as exibições não saíam) e está cada vez melhor, esta foi mesmo a noite de Rafa, o avançado que teve o jogo com maior definição da época no último terço com um golo e duas assistências apenas a dois dias de tornar-se um jogador livre.

Ficha de jogo

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Benfica-Famalicão, 3-0

15.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: André Narciso (AF Setúbal)

Benfica: Trubin; Aursnes (Jurásek, 73′), Tomás Araújo (Gustavo Marques, 88′), António Silva, Morato; João Neves, Kökçü (Florentino Luís, 70′); Tiago Gouveia (Gonçalo Guedes, 70′), Rafa Silva, João Mário e Arthur Cabral (Musa, 70′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Chiquinho, Gerson Sousa e Hugo Félix

Treinador: Roger Schmidt

Famalicão: Luiz Júnior; Nathan (Martin Aguirregabiria, 65′), Mihaj, Otávio, Francisco Moura; Topic, Zaydou Youssouf (Gustavo Assunção, 88′); Chiquinho (Afonso Rodrigues, 65′), Gustavo Sá (Pablo, 81′), Théo Fonseca (Dobre, 65′) e Jhonder Cádiz

Suplentes não utilizados: Zlobin, Lacoux, Justin e Liimatta

Treinador: João Pedro Sousa

Golos: Arthur Cabral (31′), Rafa (85′) e Musa (88′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Chiquinho (37′), Otávio (61′), Kökçü (62′), Musa (80′) e Gustavo Assunção (90+2′)

O encontro começou com a confirmação da entrada de Tiago Gouveia pelo flanco esquerdo, passando assim João Mário para a direita no apoio a Rafa e Arthur Cabral. A ideia de Schmidt passava por dar largura pelo lado que tinha o lateral menos ofensivo e promover as subidas de Aursnes para que João Mário tivesse mais jogo pelo corredor central, sendo que foi pela esquerda que o Benfica criou as duas primeiras oportunidades com Tiago Gouveia a ganhar no ombro a ombro com Nathan antes do remate para defesa de Luiz Júnior (5′) e com Rafa a receber um cruzamento atrasado de Morato para atirar de primeira ao lado estando em posição privilegiada na área sem marcação (6′). Cádiz, num desvio de cabeça por cima, ainda tentou responder mas o Famalicão sentia grandes dificuldades para consolidar o seu jogo com e sem bola frente a uma equipa da Luz apostada em chegar cedo à vantagem e com mais um remate enquadrado de Kökçü (15′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Famalicão em vídeo]

A principal diferença em termos de esquemas entre as duas equipas passava pelo elemento mais próximo do avançado, com Rafa a ter características mais ofensivas e Gustavo Sá a juntar-se muitas vezes à dupla de médios. Foi isso que permitiu que o Famalicão equilibrasse a percentagem de posse com o Benfica, tirando assim protagonismo aos encarnados no último terço mesmo sem conseguir criar lances de perigo junto da baliza de Trubin. Nem mesmo perante erros em zona proibida, como voltou a acontecer com Otávio ainda à saída da sua área (as notícias sobre um eventual interesse do FC Porto em contratá-lo não parecem ter sido bons conselheiros…), as equipas aproveitavam, neste caso com a combinação entre Rafa e Arthur Cabral a não sair. Não foi aí, foi pouco depois: João Neves teve um trabalho individual de mestre encostado à linha no flanco direito, lançou Rafa na profundidade e o cruzamento rasteiro encontrou Arthur Cabral na pequena área, a fazer o 1-0 com um desvio por cima de Luiz Júnior que inaugurou o marcador (31′).

O Benfica tinha começado com a corda toda, teve depois uma fase de menor ímpeto, tentou de seguida mais umas acelerações. Dentro dessa “irregularidade”, houve um que nunca falhou e andou sempre ligado a todas as correntes: João Neves. A recuperar bolas, a intercetar passes, a distribuir jogo sempre com visão vertical, a pisar os terrenos que a equipa necessitava mediante as colocações de João Mário, Tiago Gouveia ou Kökçü. Mesmo não tendo intervenção direta no golo, foi do médio que estava a encher o campo que surgiu aquele momento de desequilíbrio que conseguiu deixar por terra a boa organização defensiva dos visitantes, sendo que tão depressa fazia a diferença descaindo mais sobre a direita para dar o corredor central a João Mário como aparecia pelo meio a ganhar bolas para lançar novas ofensivas. O intervalo chegaria sem mais lances de perigo junto das balizas mas com um Benfica mais perto da área contrário pelo que conseguia fazer sem bola.

Mesmo sabendo que algumas coisas teriam de mudar, os dois técnicos optaram por manter as opções inicias no arranque do segundo tempo para perceberem também aquilo que o jogo poderia dar no regresso depois do descanso. A falta de oportunidades manteve-se, as características da partida tiveram algumas alterações, com o Famalicão a conseguir chegar mais vezes ao último terço e a deixar mesmo um aviso que seria anulado por fora de jogo por Théo Fonseca que não conseguiu evitar a “mancha” rápida de Trubin após um passe em profundidade. Esse lance foi quase um “despertador” para o Benfica em terrenos mais adiantados, com João Neves, na sequência de um canto trabalhado na esquerda do ataque que teve pelo meio um fantástico passe de Kökçü, a obrigar Luiz Júnior a uma defesa apertada (56′) antes de nova tentativa de fora de João Mário que ficou também nas mãos do guarda-redes brasileiro e a melhor oportunidade para o Famalicão, com Chiquinho a surgir isolado 1×1 contra Trubin na área mas a permitir a defesa do ucraniano (59′).

Depois de um período de alguma monotonia, o jogo tinha acelerado a sério e não ficaria por aí, com mais uma oportunidade clara para o Benfica com Rafa a ligar a mota, a assistir Arthur Cabral e o avançado a atirar forte para uma defesa por instinto de Luiz Júnior para canto com o ombro (63′). O jogo podia ter “fechado” nesse momento em que a Luz já estava de pé a celebrar o golo que não apareceu mas o brasileiro voltou a ser salvador, permitindo que o Famalicão continuasse a acreditar entre várias chances que começavam a merecer outro destino: Théo Fonseca atirou forte na área para defesa de Trubin para a frente (65′), Youssouf acertou em cheio no poste num remate de meia distância de pé esquerdo (72′) e logo a seguir Gustavo Sá desviou de cabeça muito perto do alvo um cruzamento de Francisco Moura (73′). Os últimos minutos chegavam com tudo em aberto até voltar a aparecer Rafa: aceleração pelo meio, bola em Guedes na esquerda, passe para o centro em Musa e amortecimento qual pivô de futsal para o remate do avançado português (85′). O encontro estava “fechado”, Rafa ainda tinha mais e ainda foi a tempo de isolar Musa para o 3-0 final (88′).

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