De volta à primeira linha partidária depois dos anos de afastamento na geringonça, Francisco Assis tem vários avisos para deixar ao novo PS. Em entrevista ao Observador, durante o congresso do partido, o antigo dirigente socialista avisou que o PS pode estar a “escolher muito mal” os seus adversários, se escolher como alvos o Presidente da República e a direita tradicional.
“Espero que não cedamos à tentação de fazer do Presidente da República um adversário do PS”, alertou, defendendo, ao contrário da maioria dos socialistas que têm feito intervenções, que após a demissão do primeiro-ministro não teria sido possível indicar outro nome. Mais: o facto de ainda assim António Costa ter tentado fazê-lo, propondo o nome de Mário Centeno “sem que os órgãos internos” do PS se tivessem pronunciado, tornou a situação “intolerável do ponto de vista democrático — não vivemos numa tirania interna”.
Depois de no seu discurso ter alertado para o perigo de o PS misturar os “adversários” e os “inimigos da democracia” no mesmo saco — leia-se a direita tradicional e radical”, reconheceu que no PS “há gente que tem feito isso”, mas acreditando que o PS no geral não o fará. “E espero que não faça”.
“O PSD é um grande partido democrático, connosco construiu a democracia portuguesa, não há nenhum risco de o PSD ceder a um discurso de extrema-direita e estar a querer contaminar partidos democráticos com a ideia de que eles próprios já incorporaram vírus antidemocrático é altamente negativo”, realçou, saudando também o regresso do CDS ao Parlamento e rejeitando um discurso de “demonização”: “Não podemos ter a pretensão de viver num mundo em que todos pensem como o PS”.
“Feliz” por voltar a estar alinhado com a direção do partido, avisou ainda que o PS não deve ficar “prisioneiro da contemplação do passado” ou preso em discussões sobre a herança do costismo. “Pedro Nuno teve mais cuidado em afirmar-se claramente e afirmar que não era herdeiro de coisa nenhuma. Um líder que queira ser herdeiro não é líder nenhum, não consegue afirmar-se”. Não sendo Pedro Nuno “um autómato ou um herdeiro”, Assis acredita que terá capacidade de se demarcar do passado e fazer caminho próprio.