O programa científico BioRescue anunciou numa conferência de imprensa em Berlim, na quarta-feira, que realizou com sucesso a primeira fertilização in vitro num rinoceronte, avanço que pode ser a salvação do rinoceronte-branco do norte.
A inédita transferência do embrião foi feita com sucesso, no Quénia, para Curra, uma fémea de rinoceronte-branco do sul. Segundo avançou a DW, o embrião resultou da fecundação em laboratório de um óvulo de uma fémea da Bélgica com o esperma de um macho da Áustria, depois levados até ao Quénia, onde se encontrava Curra.
No entanto, apesar de o procedimento ter tido sucesso, Curra veio a morrer depois de alguns meses por ter contraído uma bactéria, que não lhe permitiu levar a gravidez até ao fim. No entanto, não foi um falhanço da ciência. Pelo contrário, trata-se de um progresso que abre portas à possibilidade e à esperança de salvar a espécie do norte, garante o BioRescue.
Este é um projeto científico ao abrigo do Instituto Leibniz para a Pesquisa de Vida Selvagem e Zoológica, em Berlim, na Alemanha, dedicado ao desenvolvimento de tecnologias de reprodução com o objetivo de salvar espécies ameaçadas de extinção, como é o caso do rinoceronte-branco do norte, atualmente o mamífero mais ameaçado do mundo.
Desta subespécie restam apenas duas fémeas, mãe e cria, que se encontram no no parque de Conservação de Vida Selvagem OI Pejeta, no Quénia, para onde foram transferidas em 2009. Devido a problemas de infertilidade, comuns nestes animais, nenhuma das duas consegue engravidar. Assim, para salvaguardar a sua continuidade, os cientistas pretendem fertilizar um rinoceronte-branco do sul com um embrião de um rinoceronte-branco do norte.
O programa científico da BioRescue, preservou, desde 2019, 30 embriões de rinocerontes-brancos do norte, em Itália e na Alemanha, mas decidiu não avançar com a sua transferência até saber finalmente se o procedimento seria bem-sucedido. Os pesquisadores afirmaram que, para assegurar a diversidade genética da espécie, os 30 embriões não serão suficientes — uma vez que pertencem todos à mesma fémea — e admitem por isso recorrer à modificação genética.
Rinoceronte branco do norte. Como a ciência ainda pode garantir a sobrevivência da espécie
Thomas Hildebrandt, que encabeça o projeto BioRescue no Instituto Leibniz para a Pesquisa de Vida Selvagem e Zoológica, foi quem desenvolveu a técnica utilizada para a inserção do embrião.
Segundo a informação avançada pelo The Telegraph, Hildebrandt afirma que “a técnica está bem estabelecida para humanos e para animais domésticos, como cavalos e vacas, mas, para rinocerontes, é território completamente desconhecido. Levou muitos anos para que conseguíssemos ter sucesso e estamos radiantes por termos finalmente prova de que esta técnica funciona perfeitamente.”
A equipa espera transferir um embrião de rinoceronte-branco do norte em breve e prevê ter os filhotes gerados por fertilização in vitro dentro dos próximos dois ou três anos.
Depois de o último macho da espécie ter sido sujeito à eutanásia, em 2018, devido ao agravamento do seu estado de saúde, a espécie foi dada como funcionalmente extinta. Desde então que a esperança de a salvar assenta na fertilização in vitro.