“Ele vem? Nem sabíamos”. Alguns dos destacados dirigentes do PSD/Açores foram surpreendidos na noite de quarta-feira quando Luís Montenegro anunciou que vai à região durante a campanha eleitoral. Ficaram ainda mais “perplexos” por saber que estará na noite eleitoral. José Manuel Bolieiro já disse ao Observador que não vai acompanhar o líder nacional do PSD às Flores e ao Corvo e que estará “aqui [em São Miguel] a fazer campanha”, enquanto o líder do PSD nacional ficará “com as equipas de campanha que estão nas duas ilhas a fazer campanha em nome do PSD e da coligação”.

José Manuel Bolieiro tenta pôr água na fervura e diz que Luís Montenegro falou com ele e que “obviamente que é bem-vindo“. O líder do PSD/A tenta enquadrar as deslocações àquelas duas ilhas no Sentir Portugal (e não nas regionais) para não beliscar o plano autonómico: “Ele está a cumprir o que prometeu que era de — até à sua futura condição de primeiro-ministro — percorrer todos os municípios de Portugal. Por razões climáticas, quando esteve cá há 15 dias não foi possível ir às ilhas Flores e Corvo e agora vai e cumpre.”

Boleiro acrescenta mesmo: “Gosto de pessoas assim: que assumem compromissos e fazem tudo para os concretizar.” Sobre a noite eleitoral — que é o que verdadeiramente está a incomodar a estrutura regional — o líder do PSD/Açores é mais cauteloso: “Eu aceito que um líder nacional queira estar onde entender.” E avisa que não se deixará condicionar pela presença do líder nacional: “Eu sei e confio na minha capacidade autonómica de realizar o esclarecimento cívico aos açorianos para um bom resultado eleitoral e para a boa interpretação eleitoral dos mesmos.”

Em entrevista ao Observador no domingo, Bolieiro tinha comentado a presença de Luís Montenegro na campanha preferindo utilizar o tempo verbal no. passado: “Já veio“. E até revelou, na mesma entrevista ao Observador, que disse ao líder do PSD que não queria “pôr-lhe este encargo“, até para não “prejudicar a gestão do seu calendário”. E acrescentou: “Eu valho por mim”.

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A presença na noite eleitoral é particularmente sensível para a estrutura regional, já que o antigo presidente do governo regional dos Açores e presidente honorário do PSD/Açores criticou violentamente a ida de Luís Montenegro por ir à noite eleitoral da Madeira, acusando-o de ter um “momento penoso e particularmente infeliz” num “clima de vale tudo”.

Também na segunda-feira Mota Amaral aconselhou, de uma forma mais polida em declarações ao Observador, Montenegro a ficar no continente: “Subscrevo o que disse o presidente do PSD/Açores. Já cá veio. Está resolvido“. Mota Amaral, questionado novamente esta quarta-feira pelo Observador, entende que não deve fazer declarações sobre o assunto para não perturbar a campanha, remetendo para as anteriores.

“O que é que ele vem cá fazer?”, “isto a nós não nos dá jeito nenhum”, “que falta de noção”, “só vem atrapalhar” ou “mesmo que o Bolieiro quisse ir com ele às Flores e o Corvo não o deixávamos, porque a campanha ganha-se agora é aqui”, são algumas das frases que o Observador ouviu de altos dirigentes do PSD/Açores.

Já o cabeça de lista do PSD às legislativas pelo círculo dos Açores — num debate organizado pelo Observador e a Rádio Observador que será emitido e publicado esta quarta-feira — desvaloriza o eventual desconforto da estrutura regional: “Uma coisa é a ingerência na esfera de poder e da atuação autonómica
de cada estrutura. Outra coisa é querer estar com os seus, porque o partido é o mesmo evidentemente, e querer estar presente. Não vejo nada, nem problema nenhum nisso.  Em qualquer partido, seja qual for o líder, acho naturalíssimo.”

Paulo Moniz diz não ver desconforto se Bolieiro tiver de dizer que vai negociar com o Chega ou qualquer outro partido ao lado de Montenegro. “Ainda ontem disse que respeita sempre as autonomias e portanto ele respeitará aquilo que vierem a ser as decisões que possam ser tomadas pelo Presidente.”