Há vida para lá do apito final do árbitro que manda toda a gente para casa após 90 minutos de visita a um mundo à parte. No regresso, a realidade e os dilemas do dia a dia estão à porta de casa. Sem a distração da bola a rolar, tomam-se posições e desenvolvem-se opiniões que podem ou não ser expressas no estádio. A Alemanha tem história com bancadas políticas em que as cabeças pensantes não entram em standby face ao mundo lá fora.

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Na zona da claque, onde se encontram os adeptos mais fervorosos, mas também os mais empenhados politicamente, ergueu-se, em 2018, uma mensagem: “O Eintracht vive da diversidade”. Naquela altura, existia já um fenómeno que tem mostrado cada vez mais fulgor nos últimos tempos. A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita, subia o tom dos discursos anti-imigração que continuam a ser reciclados até aos dia de hoje. Peter Fischer, o presidente do clube, chamou “ninhada” à organização. “Enquanto estiver aqui, não vão existir nazis no Eintracht Frankfurt”, assegurou. A AfD defendeu-se chamando “fora de jogo democrático” ao comentário.

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Peter Fischer esgotou os 24 anos que durou a sua presidência no início deste mês. Para trás ficou a conquista de uma Liga Europa e de uma Taça da Alemanha, mas a luta do dirigente continua. “O meu desejo na vida não é que o Eintracht Frankfurt volte a ser campeão ou vencedor da Champions. O meu desejo na vida é que essa m**** de nazis desapareça, que expluda no ar, onde quer que seja. Vomitem na cara deles todos os dias. Lutar pela democracia e pela coexistência é fundamentalmente importante para mim”.

O discurso de Peter Fischer na última Assembleia Geral à frente do clube foi aplaudido pelos adeptos que têm o progressismo a correr-lhes no sangue. A Alemanha, em termos gerais, tem seguido outro caminho. A AfD vai conquistando uma fatia cada vez maior do espaço político, tal como demonstram as sondagens. Xabi Alonso, treinador do Bayer Leverkusen, foi outra figura da Bundesliga a demarcar-se na deportação massiva planeada pelo partido de extrema-direita.

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“Somos um clube colorido. Temos 112 nacionalidades connosco. Não há lugar para a discriminação, o racismo e o anti-semitismo no desporto. Qualquer um que não cumpra isso, acabará expulso”, reforçou Fischer. O próximo presidente do Eintracht Frankfurt vai ser Mathias Beck, eleito com 98,9% dos votos na Assembleia Geral mais participada de sempre do clube com 2.500 sócios reunidos. “Não nos afastaremos nem um centímetro dos nossos valores”, reiterou.