Adota muitas vezes um comportamento “errático” e “instável”. Foi assim que o psicólogo Shaul Kimhi em 2001 definiu a personalidade de Sara Netanyahu, a mulher do primeiro-ministro israelita que foi acumulando escândalos durante a longa vida política do marido. A companheira de Benjamin Netanyahu recusa igualmente desempenhar um papel discreto e é acusada de se imiscuir nos assuntos do governo israelita, a que deveria — em teoria — ficar vedada, dado que não foi eleita para desempenhar funções políticas.
Esta sexta-feira, o canal 13 israelita avançou que Sara Netanyahu esteve presente em várias reuniões entre membros do governo que ocorreram esta quinta-feira. Fontes ouvidas por aquela estação televisão dizem que a mulher do primeiro-ministro não se inibe de aparecer em encontros entre ministros, mesmo que sejam discutidos tópicos considerados confidenciais. Alguns governantes, que decidiram não revelar a sua identidade, desabafaram que a mulher “monitoriza tudo o que se passa no executivo”, uma conduta que consideram ser “imprópria”.
Ao mesmo canal televisivo, o gabinete do primeiro-ministro israelita nega por completo estas acusações, sublinhando que Sara Netanyahu não “supervisiona nada” no governo. E justificou a presença assídua da mulher no complexo governamental de Kiryat Ben Gurion, em Jerusalém, devido aos “encontros frequentes que mantém com as famílias dos reféns”.
Não obstante, a imprensa israelita tem relatado vários episódios em que Sara Netanyahu tenta exercer a sua influência no governo. Por exemplo, a mulher do primeiro-ministro terá tentado, em janeiro, afastar o porta-voz do governo para os meios de comunicação estrangeiros, Eylon Levy. Segundo o Times of Israel, a companheira de Benjamin Netanyahu não terá gostado de alguns comentários do porta-voz e ter-se-á indignado pela participação daquele em manifestações contra a reforma judicial.
Certo é que Eylon Levy já não aparece com a mesma frequência à imprensa e espera-se que saia do cargo em breve — e a sua demissão ficará associada a Sara Netanyahu, que terá sido aquela que mais influenciou o gabinete do primeiro-ministro a demitir o porta-voz.
Sara Netanyahu tem culpado essencialmente os meios de comunicação sociais por denegrirem a sua imagem. Num encontro com o antigo Presidente norte-americano em 2017, a mulher chegou a confessar a Donald e Melania Trump que a imprensa a odeia. “Em Israel, os media odeiam-me, mas as pessoas adoram-nos — tal como acontece convosco”, disse. “Temos muito em comum”, concordou o antigo Chefe de Estado norte-americano.
No mesmo sentido, em 2019, numa visita a Lisboa, Sara Netanyahu admitiu que a família vive uma espécie de “inquisição”, numa alusão à expulsão dos judeus no século XVII da Península Ibérica, por conta da perseguição da imprensa e dos processos em tribunal do casal.
Mas mesmo os aliados na imprensa do casal Netanyahu criticam Sara. Os donos do jornal Hayom, alinhando com o Likud (partido do primeiro-ministro), chegaram a adjetivar a mulher como “louca”. “Ela é completamente louca. É obcecada as suas fotografias e com a aparência física”, afirmou o milionário Sheldon Adelson. A mulher Miriam corrobora: “O Bibi [Benjamin] é esperto. Ela [Sara] não está bem”.
Os maus tratos a empregados e os 100 mil dólares em refeições faustosas
São vários os episódios que demonstram o comportamento “errático” de Sara Netanyahu. Em 2020, uma antiga empregada de limpeza que trabalhou para ela processou-a — pedindo uma indemnização de 190 mil dólares (cerca de 176 mil euros) —, por conta dos maus-tratos verbais (e até físicos) infligidos pela mulher do primeiro-ministro.
O advogado da empregada de limpeza, Opheer Shimson, contou à Associated Press que a mulher que interpôs o processo “adorava o primeiro-ministro” e trabalhou na sua residência oficial como uma forma “de serviço à pátria”. “Mas ela ficou traumatizada” com a maneira como que Sara Netanyahu a tratou.
Quatro anos antes, Sara Netanyahu foi mesmo condenada por maus tratos a um empregado doméstico, Meni Naftali, e foi obrigada a pagar 39 mil euros. Após ter ouvido “numerosos testemunhos”, o juiz deu como provado que a mulher do primeiro-ministro propiciava “condições de trabalho prejudiciais” aos trabalhadores, nos quais se incluíam “insultos, humilhações, pedidos irracionais e surtos de raiva”.
Nos anos anteriores, Sara Netanyahu, recorda a Associated Press, despediu uma babysister dos dois filhos — Yair e Avner — por esta ter queimado uma sopa. Noutra ocasião, a mulher do primeiro-ministro atirou um par de sapato a um assistente.
Para além dos maus tratos aos seus funcionários, é associada a Sara Netanyahu uma certa imagem de despesista. É conhecida por adotar um estilo de vida extravagante — e terá utilizado fundos estatais para o sustentar. Em 2019, a mulher do primeiro-ministro gastou cerca de 100 mil dólares (aproxidamente 93 mil euros) em refeições faustosas em restaurantes de luxo.
Em tribunal, a mulher de Benjamin Netanyahu confessou que gastou aquela verba em jantares para amigos e familiares, ao mesmo tempo que mantinha um chef pessoal na residência oficial do primeiro-ministro. Neste processo, Sara Netanyahu chegou a acordo com a justiça, pagando cerca de 15 mil euros para que o caso fosse encerrado.
A guerra entre Israel e o Hamas, que veio descredibilizar a imagem do primeiro-ministro israelita no país, colocaram Sara Netanyahu numa posição ainda mais vulnerável e sob um escrutínio ainda mais apertado. Empenhando-se na questão da libertação dos reféns, a mulher tenta fugir das polémicas, mas estas acabam sempre por aparecer.
Em janeiro deste ano, numa reunião com famílias dos reféns, Sara Netanyahu acusou alguns familiares de “ajudarem o Hamas” com as suas críticas ao primeiro-ministro e à sua gestão da guerra em Gaza, somando mais um escândalo. Muitos familiares não gostaram e condenaram as suas palavras — e teve de ser Benjamin Netanyahu a intervir para pacificar a situação.