Na fase de grupos da Taça das Nações Africanas, que começou há praticamente um mês, Nigéria e Costa do Marfim estavam ambos no Grupo A. A Nigéria somou sete pontos, com duas vitórias e um empate, e a Costa do Marfim somou três pontos, com uma vitória e duas derrotas. Este domingo, encontravam-se na final da competição.

O último mês foi um autêntico carrossel na principal competição de seleções de África, com vários selecionadores despedidos, desilusões como o Senegal e o Egito e surpresas como Angola ou Cabo Verde. No fundo, a Nigéria foi mesmo o único favorito a corresponder às expectativas, enquanto que a Costa do Marfim conseguiu ultrapassar uma fase de grupos que superou como um dos melhores terceiros classificados para poder sonhar no torneio organizado em casa.

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Em Abidjan, a capital económica costa-marfinense, a Nigéria de José Peseiro procurava concluir com chave de ouro uma Taça das Nações Africanas quase perfeita e conquistar a competição pela quarta vez. Do outro lado, a Costa do Marfim procurava concluir uma das histórias mais impressionantes dos últimos anos do futebol internacional — ou seja, ganhar a Taça das Nações Africanas em casa, pela terceira vez, depois de despedir o selecionador Jean-Louis Gasset na fase de grupos e ser orientada pelo adjunto Emerse Faé até ao fim.

“Jogar uma final é sempre importante. Esta é a minha primeira CAN e as emoções em África são muito especiais. Mas agora é a final e tudo faremos para vencer. Aprendi muito aqui. Há alegria quando ganhamos, mas é difícil quando perdemos. Por isso é que é muito importante encontrar o equilíbrio. Temos um grande plantel, cheio de jogadores que realmente querem vencer pela Nigéria. Estamos ansiosos por jogar num estádio cheio. Vamos lutar com espírito de sacrifício, é um encontro com 50/50 de hipóteses”, explicou José Peseiro na antevisão da partida, onde Zaidu foi titular.

Do outro lado, Emerse Faé ainda se mostrava incrédulo com aquilo que a equipa conseguiu alcançar. “Não tenho palavras, ainda tenho dificuldade para entender tudo isto. Estamos felizes, muito emocionados. Tudo isto parece um sonho, se andarmos para trás duas semanas. Mas enquanto temos 10% de chances temos de continuar a acreditar, porque é isso que torna o futebol uma coisa bonita. Tudo mudou quando passámos a fase de grupos, o apuramento deu-nos a força de que precisávamos, motivou-nos. Sabíamos que já não podíamos fazer pior do que na fase de grupos”, atirou o antigo médio do Nantes, do Reading e do Nice, que tinha Diomande no banco de suplentes.

Num Alassane Ouattara Stadium totalmente lotado e completamente pintado de laranja — e com o inevitável Didier Drogba nas bancadas –, a Costa do Marfim começou melhor e dominou a primeira meia-hora da final. Ainda assim, acabou mesmo por ser a Nigéria a colocar-se em vantagem ainda na primeira parte. Na sequência de um canto cobrado na esquerda e depois de um primeiro desvio ao primeiro poste, Troost-Ekong apareceu vindo de trás e cabeceou com muita força para abrir o marcador (38′). 

José Peseiro mexeu no início da segunda parte, trocando Chukwueze por Moses Simon, e a Costa do Marfim chegou ao empate pouco depois por intermédio de Kessié, que cabeceou ao segundo poste após novo canto cobrado na esquerda (62′). Emerse Faé reagiu com uma dupla substituição, lançando William Singo e Diakité, e o golo que deixou um país inteiro a festejar surgiu já dentro dos últimos 10 minutos. Adingra acelerou na esquerda e cruzou para a área, onde Sébastien Haller surgiu a desviar para colocar a Costa do Marfim na frente da final e causar uma autêntica explosão de alegria em todo o estádio (81′).

Já nada mudou até ao fim e a Costa do Marfim acabou mesmo por conquistar a CAN em casa e pela terceira vez, depois de 1992 e 2015 — e depois de ultrapassar a fase de grupos no terceiro lugar, despedir um selecionador e ter um adjunto como interino até ao fim da competição. E se o filme de Hollywood ainda não tivesse todos os ingredientes para um autêntico e absoluto final feliz, o que dizer do herói do golo da vitória: Sébastien Haller, o avançado do Borussia Dortmund que venceu um cancro no ano passado e esteve oito meses afastado dos relvados.