O partido no poder em El Salvador garantiu uma maioria absoluta no parlamento, algo que poderá permitir ao Presidente Nayib Bukele alterar a Constituição, anunciou o Tribunal Superior Eleitoral.
Duas semanas após as eleições legislativas e presidenciais, a comissão eleitoral disse que o partido Nuevas Ideas (Novas Ideias) garantiu 54 dos 60 deputados no Congresso de El Salvador, com partidos aliados a conquistarem mais três lugares.
Na oposição, a histórica Aliança Republicana Nacionalista (Arena, direita) terá dois deputados e o partido Vamos (centro-direita) um.
A Frente de Libertação Nacional, de esquerda, que tinha quatro deputados, ficará de fora do parlamento pela primeira vez desde a assinatura dos acordos de paz de 1992, quando o país saiu de uma ditadura militar de décadas e entrou na democracia. “Agora, ele não precisa de nenhum outro partido“, disse à agência de notícias Associated Press (AP) Eduardo Escobar, advogado da organização não-governamental Ação Cidadã, que explicou que anteriormente Bukele teria pelo menos de obter o apoio dos partidos aliados.
O partido do Presidente terá também o poder de alterar a Constituição, que proíbe os líderes de exercerem mais de dois mandatos consecutivos.
Bukele tornou-se o primeiro Presidente de El Salvador a ser reeleito democraticamente. No entanto, legalmente, será o primeiro de dois mandatos possíveis, depois de uma polémica alteração, em 2021, de um critério de interpretação da Constituição.
Em entrevista à AP no início de fevereiro, o vice-presidente, Félix Ulloa, deixou aberta a possibilidade de Bukele concorrer a um terceiro mandato caso a constituição do país seja alterada.
A contagem dos votos tornou-se objeto de escrutínio depois de uma série de irregularidades e falhas que resultaram no colapso do sistema de transmissão de resultados. Por causa do caos, a comissão eleitoral de El Salvador pediu uma contagem manual dos votos das eleições legislativas e de parte dos votos presidenciais, vencidas por Bukele com 84,7% dos votos.
Membros da oposição destacaram supostas irregularidades, como boletins não dobrados ou marcados com caneta em vez do giz de cera designado. Alguns dos partidos apelaram para uma votação. Observadores eleitorais da Organização dos Estados Americanos (OEA) criticaram também os atrasos e “falta de controlo” por parte do Tribunal Supremo Eleitoral da contagem de votos, o que deixou as decisões “nas mãos dos representantes dos partidos políticos”.
O Novas Ideias “assumiu uma atitude dominante e intimidadora contra pessoas que representam outros partidos e contra observadores”, disse a OEA, citando um caso em que membros do partido impediram observadores de testemunhar a contagem de votos.
A organização também denunciou ataques contra centenas de jornalistas, mas não chegou a pedir uma nova votação.