Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto conseguiram, através de um “espião colorido”, mapear a comunicação do cancro do pâncreas, abrindo portas para novas terapias, foi esta quinta-feira anunciado.

Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto esclarece que o estudo, publicado esta quinta-feira na revista Nature Communications, permitiu “pela primeira vez mapear a comunicação do cancro do pâncreas”, cancro com elevada taxa de mortalidade.

Para conseguirem avançar com o mapeamento, os investigadores criaram um “espião colorido”, que permite “acompanhar a viagem das vesículas que são secretadas pelas células tumorais pancreáticas”.

“Imaginemos um ‘big brother’ dentro de um pâncreas com células tumorais, uma espécie de espião que permite perceber tudo o que acontece e, especificamente, como é que este tipo de cancro se desenvolve de forma silenciosa”, refere o i3S.

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Apesar de se saber que as células cancerígenas do pâncreas segregam vesículas extracelulares e que essas vesículas estabelecem a comunicação local e à distância a outras células, desconhecia-se a forma como as vesículas se distribuem no espaço e tempo, que órgãos as recebem e qual o impacto.

Para dar resposta a estas hipóteses, os investigadores criaram “um ratinho geneticamente modificado com um cancro do pâncreas, cujas células tumorais segregam vesículas com cor”.

“Isso permitiu-nos mapear com que células e órgãos estas vesículas comunicam, que mensagens transmitem e de que forma ajudam o tumor a desenvolver-se”, afirma, citada no comunicado, Sónia Melo, que liderou a investigação.

Durante a análise da distribuição das vesículas e progressão do tumor, os investigadores concluíram que “a comunicação não é aleatória, mas sim direcionada e coordenada, por forma a permitir a progressão da doença e modificar órgãos à distância a seu favor”.

“Um dos principais órgãos que recebe comunicação destas vesículas segregadas pelas células tumorais pancreáticas é o timo, onde são produzidas as células do sistema imunitário”, esclarece a investigadora.

De acordo com Sónia Melo, a informação que o pâncreas envia “poderá modificar a resposta imune ao tumor, impedindo as células imunes de o reconhecer”.

A distribuição das vesículas de células tumorais do pâncreas foi comparada com o percurso feito pelas vesículas de um pâncreas saudável, tendo os investigadores provado que, quando provenientes de um pâncreas sem cancro, estas vesículas “são importantes para conter a angiogénese”, isto é, a formação de novos vasos sanguíneos estimulada pelo crescimento tumoral.

Assim, “podem ser uma forma de manter o equilíbrio global do corpo humano e a aptidão dos órgãos”.

“Estas descobertas têm potencial para melhorar os cuidados prestados aos doentes, uma vez que os exossomas podem ser utilizados como alvos terapêuticos, nomeadamente, através do bloqueio destas vias de comunicação”, acrescenta a investigadora do i3S e do Comprehensive Cancer Centre Raquel Seruca, do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto.