Nem sempre foi para esquecer, também não é propriamente uma prova que traga muitas recordações. Miguel Oliveira começava o primeiro dia do resto da sua vida no MotoGP com um Grande Prémio do Qatar onde iria fazer a estreia pela nova equipa Trackhouse Racing mas onde nunca tinha conseguido grandes resultados, em particular na principal categoria: 17.º lugar em 2019, 13.º posto em 2021, desistência em 2022 e ausência por lesão no último ano. Mais: nem a qualificação foi brilhante, nem a sprint correra da melhor forma, com uma 13.ª posição que pecou sobretudo pela incapacidade da moto em descolar do comboio e ascender lugares até à zona de pontos. No entanto, com uma prova com o dobro das voltas, abria-se a oportunidade de mostrar o que tem sido feito a nível de desenvolvimento de moto e era isso que motivava o piloto português.

As novas cores (ainda) não deram novos pontos: Miguel Oliveira fica em 13.º na corrida sprint do GP do Qatar

“Foi uma espécie de dia desapontante, com um ritmo competitivo e uma volta competitiva. Estive muito perto de passar à Q2 – especialmente muito perto no treino. Fui um bocado perturbado no meu tempo de volta mais rápida, não foi bom o suficiente para passar à Q2 e qualifiquei-me em 14.º. Depois, a corrida foi como que um efeito iôiô – eu era mais veloz do que os pilotos à minha frente mas não consegui encontrar modo de os ultrapassar e a corrida terminou e não houve mais tempo. Oxalá amanhã [domingo] consiga fazer um arranque ligeiramente melhor, tentar ganhar alguns lugares e depois tentar lutar por uma posição dentro do top 10″, apontara Miguel Oliveira depois do 13.º lugar sem pontos na sprint.

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“Ainda nos falta entender como ir um pouco mais rápido”, acrescentou mais tarde nas suas redes sociais, com a esperança de que um arranque melhor sem perder posições pudesse funcionar como rampa de lançamento para uma corrida onde se aproximasse do ritmo de Aleix Espargaró, da equipa de fábrica da Aprilia, que foi terceiro na sprint (Maverick Viñales acabou em nono). “Qualificámo-nos perto do top 10, pelo que esperávamos obter alguns pontos mas, infelizmente, não conseguimos. De certa forma, o Miguel conseguiu manter a sua posição de alguma forma. Na corrida principal, tenho a certeza de que vamos conseguir fazer melhor do que isto”, destacara também Wilco Zeelenberg, um dos diretores da Trackhouse.

O warm up inicial antes da corrida não foi propriamente nesse sentido. Maverick Viñales foi o mais rápido da sessão entre o tempo bem mais modesto de Aleix Espargaró, Raúl Fernández conseguiu o terceiro registo nesse período mas Miguel Oliveira não passou da 22.ª e última posição, rodando a mais de meio segundo do penúltimo e a impensáveis 2,3 de Viñales. Uma boa saída no arranque era ainda mais importante, sendo certo de que não haveria razão para o português não ter um rendimento mais próximo daquele que fez na qualificação e na sprint, que nada teve a ver com aquilo que fizera na manhã deste domingo em Lusail.

Estava tudo preparado para o arranque da temporada mas a nova equipa norte-americana acabou por estar em foco de forma indireta pelas piores razões: Raúl Fernández fez sinal com o braço por problemas na moto, não saiu de imediato da pista como mandam as regras e esta paragem acabou por fazer com que vários outros pilotos ficassem com a corrida condicionada, levando à entrada de elementos de todas as equipas para que a situação fosse normalizada. Estava tudo à espera do que poderia acontecer, sendo que entretanto a corrida já tinha sido reduzida de 22 para apenas 21 voltas, e o espanhol acabou por aparecer a correr junto das boxes para ir buscar a sua segunda moto, fazendo a volta de aquecimento e começando da última posição.

Tudo começou depois de forma regular, com Brad Binder a ter mais um arranque excelente a pressionar Jorge Martín e com Pecco Bagnaia a conseguir mesmo roubar a liderança ao espanhol. Já Miguel Oliveira, que teria uma long lap para cumprir, manteve a posição no arranque, caiu algumas posições para 15.º depois das ultrapassagens de Maverick Viñales e Johann Zarco, voltou a 14.º depois da queda de Jack Miller mas foi também superado por Marco Bezzecchi ainda antes da paragem que o iria afundar mais na classificação. Lá mais à frente, o rookie Pedro Acosta era o grande destaque com a volta mais rápida e uma grande ultrapassagem a Álex Márquez que colocou a GasGas Tech3 do espanhol já na quinta posição da corrida.

Miguel Oliveira cumpriu a penalização que vinha do Grande Prémio do ano passado na terceira e última volta que tinha para fazê-lo, caindo para 19.º numa corrida que teria de ser feita de trás para a frente tendo em vista a possibilidade de chegar aos pontos. Lá na frente, Bagnaia dominava com Martín na frente de Binder e Pedro Acosta a pressionar o quarto lugar de Marc Márquez. A 12 voltas do final, o português conseguiu subir a 18.º após passar Franco Morbidelli mas ficava com Raúl Fernández pela frente a 1,6 segundos, após uma paragem por penalização do Falcão superior a três segundos, sendo que o cenário de pontos na prova inaugural começava a tornar-se demasiado complicado a não ser que existissem desistências na frente.

Pedro Acosta continuava a ser o grande foco da prova e chegou mesmo a rodar no quarto lugar mas a gestão dos pneus (ou a falta dela) levou a que caísse vários lugares atrás de Marc Márquez, Álex Márquez e Enea Bastianini, estabilizando em sétimo até ver Fabio Di Giannantonio passar também para a frente. Mais atrás, Miguel Oliveira superou o companheiro de equipa para o 17.º lugar e foi forçando o andamento com várias melhores voltas para tentar ainda lutar por uma posição dentro dos pontos que chegaram para ultrapassar Augusto Fernández e Álex Rins, numa 15.ª posição que foi um mal menor perante o que enfrentara. Pecco Bagnaia, que conseguiu uma corrida irrepreensível, mostrou que aposta forte na conquista do terceiro título consecutivo no Mundial de MotoGP com um grande triunfo, à frente de Brad Binder e de Jorge Martín.