A Sonae apresentou esta manhã os seus resultados de 2023 no Sonae Campus, na Maia. A apresentação contou com a presença da presidente executiva, Cláudia Azevedo, João Dolores, administrador financeiro (chief financial officer — CFO), e de João Günther Amaral, chief development officer (CDO) do grupo empresarial.
Em declarações aos jornalistas, Cláudia Azevedo afirmou que vê os resultados eleitorais como um “grito de mudança”. A líder da empresa não quis tecer qualquer comentário político relativamente a que programa eleitoral seria mais benéfico para as empresas, mas sublinha que a noite de domingo mostrou um grande descontentamento dos eleitores. “O que eu acho que é, no domingo, as pessoas mostraram uma vontade muito grande que as coisas mudem, tanto o número de pessoas que foram votar, como a forma como votaram”.
A presidente executiva apelou à estabilidade política e a um entendimento político, para que os líderes partidários consigam chegar a “políticas de futuro”, nomeadamente nas áreas da justiça, educação e saúde. “De repente, tenho a escola pública que não funciona tão bem, tenho a saúde que não funciona também, tenho a justiça que dura anos, e anos, e anos. E portanto vamos focar nisso, porque acho que toda a gente quer resolver isso, independentemente do partido”, afirma.
Cláudia Azevedo apela ao entendimento político e para que não seja feita oposição “por oposição”, mas para que seja feita uma “política construtiva”. A presidente executiva acrescenta que a Sonae, caso as empresas possam fazer alguma coisa, está disposta a “corrigir as coisas” para que os eleitores sintam que as políticas estão orientadas para as pessoas.
“Taxar o desenvolvimento de empresas portuguesas parece-me que não faz sentido”
O imposto sobre os lucros excessivos não faz sentido para Cláudia Azevedo. “Nós investimentos 600 milhões, é óbvio que, investindo 600 milhões, vamos ter mais lucros, temos novas lojas. E portanto, taxar o desenvolvimento de empresas portuguesas parece-me que não faz sentido”. Além disso, a líder da Sonae considera que este imposto não cria um clima saudável entre as empresas, nem que promova ao desenvolvimento das empresas em Portugal, e defende que deve haver mais empresas a pagar impostos. “O número de empresas que paga impostos é muito baixo”, diz.
A Sonae lucrou, no conjunto de 2023, 357 milhões de euros.
Sonae vai contestar pagamento de imposto sobre lucro excessivo
Em declarações aos jornalistas, João Dolores, CFO do grupo, avançou que foram apurados 1,3 milhões de euros de pagamento de imposto sobre o lucro excessivo e que vai contestar. “Nós não reconhecemos esse contexto de lucro excessivo e vamos naturalmente, contestar o pagamento deste montante.”, esclarece o responsável pela área financeira.
“O aumento de custos não é um acréscimo do nosso lucro”
A líder da Sonae aponta vários fatores para a subida de preços como a seca, as guerras, o aumento do custo da mãe de obra, e até com doenças presentes em alguns alimentos. “Se as coisas chegam mais caras, não podemos fazer muito mais”, esclarece a presidente da Sonae, sublinhando que o aumento dos preços “não é um acréscimo do nosso lucro”.
A líder da Sonae acrescenta que o setor do retalho alimentar em Portugal é altamente competitivo, com forte concorrência por parte de “uma multinacional muito grande”, referindo-se à Jerónimo Martins, empresa mãe da cadeia de supermercados Pingo Doce, mas também por parte de uma “das melhores multinacionais que há no mundo”. “Portanto, não há margem para não ter uma proposta de valor para os clientes.”, sublinha.
Ainda sobre a inflação, Cláudia Azevedo acrescenta que tem a expectativa “que a inflação alimentar baixe (…) e isso é imediatamente refletido nos preços nas prateleiras”.
Sonae vai continuar a ser acionista da Musti
No dia 11 de março, a Sonae anunciou a conclusão da Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre Musti, retalhista finlandês de produtos para animais de estimação domésticos, assegurando 80,65% do capital da empresa.
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Em declarações aos jornalistas, João Dolores diz que a Sonae está muito satisfeita com o que foi atingido na oferta e avança que a Musti vai manter-se cotada em bolsa, tendo a Sonae como a principal acionista. “O nosso objetivo principal era conseguir obter uma posição de controlo da empresa que nos permitisse estar, de facto, numa situação em que pudéssemos ajudar a empresa a crescer, a continuar a criar valor nas economias e nos mercados em que opera”, afirma o responsável financeiro do grupo, acrescentando que a Sonae acredita na sua capacidade de ajudar a Musti e no crescimento da empresa nórdica.
O CFO descreveu esta compra como, “talvez, o maior investimento num único ativo que a Sonae fez ao longo da sua história”.
Porém, apesar de ser um negócio além fronteiras, João Dolores esclarece que a Sonae não vai desinvestir nos negócios em Portugal para investir noutras geografias.
Telecomunicações e agricultores não preocupam a Sonae
Relativamente à possível venda da Altice, Cláudia Azevedo revela que não espera que tenha um grande impacto na Sonae, que é dona da empresa de telecomunicações Nos. A presidente executiva considera que a Nos “tem feito o seu caminho, um caminho bom”, e que a Sonae está habituada a concorrer. “Temos o nosso caminho na Nos traçado, um caminho de crescimento e rentabilidade, eu acho que a venda da Altice não muda”.
O que também não preocupa Cláudia Azevedo – pelo menos “para já” – são problema de abastecimento que possam vir a ser causada pelas manifestações dos agricultores em Portugal e na Europa. “Para já, não é uma preocupação”, diz. “Temos uma relação muito saudável com os agricultores. Estamos no mesmo barco, temos o mesmo objetivo. Nós gostamos cada vez mais de ter mais produtores nacionais, investimos muito nisso”.
Greve dos jornalistas é um reflexo de “um desafio de reinvenção”
A um dia da greve dos jornalistas, João Dolores diz que a Sonae, proprietária do jornal Público, respeita o direito à greve, e que, “nessa perspetiva, o dia de amanhã é um dia de respeito da nossa parte”.
O economista afirma que o grupo entende que a greve “é um reflexo do enorme desafio que os meios de comunicação social enfrentam hoje em dia, não só em Portugal mas na Europa e no mundo, e é um desafio de reinvenção”. Para João Dolores, este desafio tem que ver com as plataformas digitais e com as fontes de receita que os órgãos de comunicação social tinham, e que estão “a ser canalizados por outro lado.” “Estamos num momento de reinvenção do que é que vai ser o futuro de cada uma destas plataformas e é nesse contexto que aparece este momento de, como diziam, pela primeira vez em 40 anos, haver uma greve de jornalistas”.