Poucos esperariam que André Villas-Boas se tornasse protagonista da apresentação do documentário “Senhor Presidente – O Campeonato de uma vida”, a série documental sobre os quase 42 anos de Jorge Nuno Pinto da Costa na liderança do FC Porto. Mas o antigo treinador dos “dragões” e agora rival de Pinto da Costa nas eleições de 27 de abril surge a falar sobre o líder dos dragões na série que foi lançada esta sexta-feira na plataforma de streaming Amazon Prime e as mudanças na relação entre ambos tornaram-se óbvias.

A plateia da Fundação Serralves, no Porto, na qual estavam o antigo Presidente da República Ramalho Eanes, o ainda ministro da Saúde, Manuel Pizarro, o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, e nomes como João Soares, Valentim Loureiro, Jorge Mendes e Vítor Baía, viu um excerto de cerca de 45 minutos da série documental de três episódios — gravada em 2023 — que incluía uma passagem do antigo treinador a recordar a boa relação que tinha com Pinto da Costa e a confessar que até lhe escrevera uma carta. “Como nunca escrevi ao meu pai”, sublinhou.

Ora, Pinto da Costa garante que, se a relação se alterou, não é culpa sua. “Mudou ele, não o ouviu? Se alguém mudou não fui eu”, disse aos jornalistas quando questionado sobre esse episódio. E foi igualmente claro quando assegurou que não foi apanhado de surpresa. “A mim nada me surpreende. Só me surpreende se, um dia, a minha cadela me ferrar”.

Mas a sua reação – e nova demonstração de que a relação está degradada – foi ainda mais longe quando questionado sobre que reparo faria ao “filho” André. “Vai chamar pai a outro”, foi a resposta pronta de Pinto da Costa, que disse não ter sido ele quem convidou as personalidades presentes no documentário e, por isso, não poder dizer se a família Madureira – a contas com problemas na justiça – aparecerá.

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Ainda sobre o dia-a-dia dos dragões, e após a derrota na Champions, com a equipa de Sérgio Conceição com sete pontos de desvantagem em relação ao Sporting, que lidera o campeonato com um jogo a menos, e as meias-finais da Taça de Portugal por disputar, Pinto da Costa defende que os azuis e brancos “não podem estar a fazer contas”. “Temos é de ganhar os nossos jogos e é aquilo que queremos fazer”, reforçou.

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Aos jornalistas, deixou ainda a garantia que não abdicará do clube e que continuará a lutar para que o Futebol Clube do Porto “seja realmente aquilo que tem sido nos últimos 40 anos”: “Um clube dos sócios, um clube dos amigos, um clube de vitórias, um clube que pensa sobretudo em honrar a nossa cidade e o nosso país.”

“A minha mãe tinha razão, era o meu destino”

José Mourinho, Joan Laporta, Florentino Pérez, Fernando Santos, Pepe, Deco e Paulo Frutre, que se refere a Pinto da Costa como “o maior presidente da história do futebol”, são alguns dos convidados da série documental que permite entrar na esfera mais privada de Pinto da Costa.

Num dos detalhes mais pessoais, Pinto da Costa fala do apoio que recebeu da mãe para ser presidente do FC Porto. No discurso, após a transmissão, disse mesmo aos presentes: “A minha mãe tinha razão, era o meu destino”.  O documentário mostra ainda o líder dos azuis e brancos a explicar à neta Jasmim que o FC Porto não tinha um símbolo e que, na altura de criar um, adotou o dragão que constava no da cidade Invicta para usar também nos azuis e brancos.

Pinto da Costa surge ainda a falar sobre a sua amizade com José Maria Pedroto e de como este lhe queria deixar o seu relógio quando morresse. Hoje, a viúva do ex-treinador apoia a candidatura de Villas-Boas.

A série passa em revista algumas das mais marcantes conquistas do FC Porto nestas mais de quatro décadas. Duas delas são as vitórias internacionais de 1987: a Taça dos Clubes Campeões Europeus (agora Liga dos Campeões) frente ao Bayern de Munique – 2-1 para os dragões, com os golos da reviravolta a serem marcados por Madjer e Juary – e a Taça Intercontinental, final em que os azuis e brancos venceram os uruguaios do Peñarol (novamente por 2-1, desta vez no prolongamento, com os golos do FC Porto a pertencerem a Fernando Gomes e Madjer) e a neve que caiu em Tóquio a 13 de dezembro desse ano.

Outra vitórias do clube a que a série dá destaque é a conquista da então Taça UEFA relativa à temporada 2002/03 e cuja final frente ao Celtic foi disputada em Sevilha – um jogo descrito como “impróprio para cardíacos” com Derlei a dar a vitória no prolongamento (3-2 foi o resultado final). No documentário, José Mourinho confessa não ter visto o golo decisivo porque se encontrava a escrever a lista dos escolhidos para o desempate através de grandes penalidades (o terceiro tento chegou apenas aos 115 minutos, cinco antes de o encontro ter que ser decidido nos penáltis).

O mesmo José Mourinho, que ao comando dos azuis e brancos venceu ainda uma Liga dos Campeões, dois campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Taça de Portugal, surge a dizer que o dragão é o símbolo perfeito do clube porque “dragão é o presidente”. A Pinto da Costa, deixa uma nota pessoal: “É uma honra para mim fazer parte da sua história”.

Nos episódios, entram também momentos polémicos da presidência de Pinto da Costa como o caso Apito Dourado, no qual foi acusado de ter corrompido árbitros na temporada 2003/04. As acusações de tráfico de influências e corrupção desportiva acabaram arquivadas e a suspensão de dois anos decretada pelo Comité Disciplinar da Liga foi anulada pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol.

As cartas da família, o “Cântico Negro e o “General sem Medo”

O documentário dá a conhecer aos espectadores a vida do presidente dos dragões desde a sua infância até aos momentos atuais. Assim, fica-se a saber como Pinto da Costa esperava pelas cartas da família quando estava num colégio interno e que arranjou emprego como bancário depois de decidir não dar continuidade aos estudos.

Filhos, netos e a atual mulher dão um toque ainda mais pessoal à série. Cláudia Campo recorda como o marido é apaixonado por poesia e fado, momentos comprovados com imagens de Pinto da Costa a recitar “Cântico Negro” de José Régio e a cantar.

Como figura que passa além do campo desportivo, várias personalidades de relevo da cidade Invicta aceitaram participar e dar o seu testemunho sobre o dirigente desportivo. É o caso do reitor da universidade do Porto, António Sousa Pereira, e do atual autarca do Porto, Rui Moreira.

Há ainda espaço para outras revelações e Pinto da Costa descreveu Humberto Delgado como o seu primeiro ídolo fora do desporto, contado que esteve na Avenida dos Aliados quando este se deslocou ao Porto. O presidente do FC Porto diz que o general foi um exemplo de vida por não se deixar parar pelo medo e que o inspirou a “ir para à luta também sem medo”.