O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, convidou esta quarta-feira os talibãs afegãos para conversações, depois de um aumento das tensões entre os dois países e ataques aéreos paquistaneses em solo afegão.

“Queremos viver num ambiente muito pacífico com o nosso país vizinho e irmão. Queremos expandir o comércio, os negócios e as nossas relações bilaterais com eles”, disse Sharif num discurso transmitido pela televisão nacional.

Mas, infelizmente, “se o território de um país vizinho é utilizado para o terrorismo, isso é intolerável”, acrescentou, sem fazer referência direta ao Afeganistão ou aos talibãs.

A este respeito, Sharif apelou aos países irmãos vizinhos para que “elaborem um plano contra o terrorismo com seriedade e sinceridade de objetivos para o erradicar”.

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“As fronteiras do Paquistão são uma linha vermelha contra o terrorismo“, insistiu.

O discurso de Sharif segue-se aos ataques aéreos de segunda-feira nas províncias afegãs de Khost e Paktika, no âmbito de uma operação antiterrorista de Islamabade, que, segundo o governo interino dos talibãs, causou a morte de oito civis.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão afirmou, numa declaração posterior, que tinha atacado as bases aéreas do grupo insurrecto Hafiz Gul Bahadur, que recentemente atacou as forças de segurança no distrito paquistanês do Waziristão do Norte.

Este grupo é uma fação do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), o principal grupo talibã paquistanês, que é, por sua vez, um agrupamento de vários grupos insurrectos que surgiram em 2007 e que, embora não estejam diretamente alinhados com os talibãs afegãos, partilham a sua ideologia.

Os talibãs responderam aos bombardeamentos paquistaneses com ataques com armas pesadas contra as tropas paquistanesas do outro lado da fronteira e convocaram o encarregado de negócios do Paquistão em Cabul para exigir uma explicação.

No dia seguinte, os talibãs registaram um novo confronto na fronteira, mas até ao momento não foram confirmadas quaisquer baixas.

O governo paquistanês acusa o TTP de utilizar o solo afegão para realizar ataques no Paquistão, especialmente desde a queda de Cabul em agosto de 2021. Os talibãs afegãos, por seu lado, negam estas acusações.

Entretanto, já nesta quarta-feira, as forças de segurança paquistanesas indicaram terem abatido oito “terroristas” após um ataque ao porto da cidade de Gwadar, no sudoeste da província do Baluchistão, um incidente atribuído pelas autoridades ao grupo armado Exército de Libertação do Baluchistão (BLA).

Fontes de segurança citadas pela cadeia de televisão paquistanesa Geo TV disseram que um grupo de homens armados tinha lançado um ataque contra o complexo da Autoridade Portuária de Gwadar, mas sublinharam que a intervenção das forças de segurança tinha permitido repelir o ataque.

Testemunhas citadas por este meio de comunicação social relataram explosões e tiros na zona, mas as autoridades ainda não indicaram o número de mortos. A polícia sublinhou que a zona tinha sido isolada no âmbito da operação de segurança.

O Paquistão e o Afeganistão partilham uma fronteira volátil que se estende por cerca de 2.640 quilómetros, enquanto a fronteira porosa do país com o Irão tem cerca de 900.