O prolongamento da vida útil da energia nuclear na Europa é desnecessário para a descarbonização, indica um relatório do Gabinete Europeu do Ambiente (EEB, na sigla original), esta quarta-feira divulgado.

Segundo as conclusões do EEB, que junta 180 associações ambientalistas de 38 países, as energias renováveis, a poupança de energia e opções de flexibilidade podem substituir a energia nuclear, sendo viável a eliminação gradual da “frota nuclear envelhecida da Europa e alcançar a neutralidade carbónica até 2040”.

O relatório é divulgado na véspera de uma cimeira em Bruxelas sobre energia nuclear, que junta dirigentes políticos e empresas, para debater o papel da energia nuclear na redução dos combustíveis fósseis, aumentando a segurança energética e o desenvolvimento económico.

A cimeira será copresidida pelo primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, e pelo diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Mariano Grossi e surge na sequência da inclusão do nuclear na declaração da cimeira da ONU sobre o ambiente que decorreu no final do ano passado no Dubai (COP28), admitindo a energia nuclear como fonte de energia com baixas emissões de dióxido de carbono.

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No entanto, de acordo com o relatório do EEB, a construção de novas centrais nucleares é “uma estratégia irrealista para a descarbonização”.

Porque tem custos muito elevados e a construção é demorada está também em debate o prolongamento da vida das atuais centrais nucleares, algo que o relatório do EEB também contraria.

O documento mostra “que a atual frota nuclear pode ser eliminada gradualmente, a par dos combustíveis fósseis, à medida que os países da União Europeia (UE) transitam para um sistema energético drasticamente mais eficiente, alimentado por energias renováveis e apoiado por opções de flexibilidade”.

“À medida que as energias renováveis crescem e a procura de energia diminui, o papel da energia nuclear na Europa torna-se redundante. Veja-se o caso de Espanha, onde o aumento da energia eólica, solar e hídrica fez baixar os preços da eletricidade e obrigou as empresas de energia a suspender a energia nuclear para evitar perdas financeiras”, acrescenta.

O EEB salienta que a frota nuclear da UE está envelhecida, que todas as centrais, exceto duas, foram construídas antes de 2000, e que sem extensões de prazo a maioria das centrais deve encerrar até 2030. Segundo o organismo europeu, a contribuição da energia nuclear para o cabaz elétrico está em declínio na UE e os custos a aumentar.

O relatório conclui que os esforços de descarbonização dos Estados membros da UE devem dar prioridade à redução do consumo de energia na indústria, nos edifícios e nos transportes, ao mesmo tempo que aumentam a implantação das energias renováveis.

Por causa da cimeira, uma coligação internacional de ativistas vai organizar uma manifestação de protesto em Bruxelas. A organização ambientalista Greenpeace UE diz em comunicado que os ativistas protestam contra o que consideram “contos de fadas nucleares”.

Esta semana, mais de 500 organizações de todo o mundo assinaram uma declaração anti-nuclear, defendendo “energia segura, acessível e amiga do clima para todos”, e apelando aos governos para que não desperdicem tempo e dinheiro com esses “contos de fadas”.

Outra organização ambientalista, que junta associações europeias, a “Climate Action Network” (CAN Europe) apresenta também um documento segundo o qual a energia nuclear é “uma perigosa distração” da transição para um sistema energético baseado em energias renováveis, “e ameaça atrasar a urgente eliminação progressiva dos combustíveis fósseis”.

“Vemos com crescente preocupação o renascimento da energia nuclear”, diz Thomas Lewis, da CAN Europe, frisando que as energias renováveis são o substituto mais barato, mais rápido e mais viável para os combustíveis fósseis.