A última semana do futebol feminino do Benfica teve duas linhas de pensamento: a da derrota magra contra o Lyon que deixava em aberto o apuramento para as meias-finais da Liga dos Campeões e a da ausência injustificada de Jéssica Silva das escolhas de Filipa Patão. Por um lado, celebrava-se; pelo outro, alimentava-se a polémica.
Ora, há uma semana e no Estádio da Luz, o Benfica começou a vencer o Lyon, sofreu a reviravolta mas saiu vivo da primeira mão dos quartos de final, disputando esta quarta-feira a mais do que histórica passagem às meias-finais. Jéssica Silva não foi convocada por Filipa Patão para o jogo da Luz e voltou a não o ser na goleada do fim de semana contra o Sp. Braga: o clube indicou em nota oficial que a jogadora estava a fazer “tratamento”, a treinadora fugiu às questões para sublinhar dias depois que “não há caso” e a internacional portuguesa reagiu nas redes sociais.
“Queria dizer, sobretudo aos nossos queridos adeptos a quem eu quero deixar uma mensagem, que estou totalmente comprometida com o clube. Totalmente. E tudo farei para representar o Benfica da melhor maneira, como sempre fiz. Tenho os meus valores bem assentes, a minha dedicação, o empenho, o profissionalismo, a paixão que tenho por isto. Está só a ser um momento mais duro, mas a única coisa que eu peço é que não criem novelas […] Peço que o foco seja no Benfica e peço também um bocado de respeito, que é aquilo que eu tenho e sempre tive pelo nosso clube”, disse Jéssica Silva num vídeo partilhado no Instagram.
Assim, na antecâmara da decisiva partida desta quarta-feira e já com a certeza de que a avançada portuguesa tinha regressado à convocatória, a dúvida prendia-se com o onze inicial — onde Jéssica Silva não estava, começando no banco de suplentes. A equipa feminina do Benfica disputava o jogo mais importante da sua história e, apesar de defrontar um Lyon que já ganhou oito Ligas dos Campeões, tinha o apuramento como um cenário possível e total permissão para sonhar.
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“Os impossíveis não existem, muito menos no futebol. E, mesmo que existissem, eu costumo dizer que os impossíveis são para nós. Já demonstrámos várias vezes ao longo de todos os anos que gostamos de coisas ditas impossíveis. Só são impossíveis até alguém as tornar possíveis. E depois temos de nos ligar a uma coisa que aconteceu sempre, à exceção do desafio em Barcelona: marcámos golos em todos os jogos, pelo menos um golo. E temos de ter essa capacidade de perceber aquilo em que somos fortes. Se conseguimos marcar sempre um golo, temos de ser competentes em não sofrer nenhum e marcar sempre mais do que o adversário. Temos tudo a ganhar e nada a perder e vamos com esse espírito para Lyon”, explicou a treinadora encarnada na antevisão da partida.
Neste contexto, Filipa Patão lançava Kika, Chandra Davidson e Marie Alidou no trio ofensivo, com Catarina Amado e Lúcia Alves abertas nos corredores e Andreia Norton e Pauleta a fazerem companhia a Jéssica Silva no banco de suplentes. Do outro lado, num Lyon que no fim de semana goleou o Lille e que está na liderança isolada do Campeonato, Sonia Bompastor colocava Diani, Le Sommer e Delphine Cascarino no ataque, com Van de Donk, Lindsey Horen e Sara Däbritz no meio-campo e Wendie Renard, Egurrola e Marozsán no banco.
Cascarino marca para o Lyon
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O Lyon começou melhor e de forma dominadora, com Le Sommer a protagonizar as duas primeiras oportunidades do jogo com um remate que Lena Pauels encaixou (7′) e um falhanço colossal depois de uma assistência de Diani (13′). O Benfica demonstrava muitas dificuldades para atacar de forma apoiada e consistente, mantendo-se muito afastado da baliza contrária e com um bloco baixo que não permitia ligações ao último terço, e só causou perigo já perto da meia-hora com um cabeceamento de Carole Costa que Christiane Endler encaixou (28′).
Cascarino ficou muito perto de marcar, surgindo na cara de Pauels na área a permitir a defesa da alemã (34′), e acabou mesmo por inaugurar o marcador já à beira do intervalo e com um remate de fora de área na sequência de desentendimento fatal entre Laís Araújo e a guarda-redes encarnada (43′). Logo depois, porém, o Benfica respondeu: Kika descobriu Lúcia Alves na direita e a internacional portuguesa tirou um cruzamento rasteiro para o coração da área, onde Marie Alidou apareceu a desviar (45′). Ao intervalo, o jogo estava empatado — mas o Lyon continuava na frente da eliminatória.
MIMI ALIDOU ✨
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Sonia Bompastor fez duas substituições ao intervalo, lançando Egurrola e Melchie Dumonay, e o Lyon demorou pouco mais de cinco minutos a recuperar a vantagem: Cascarino desequilibrou da esquerda para dentro, não teve qualquer oposição à entrada da grande área e atirou certeiro para bisar e voltar a bater Lena Pauels (51′). Logo depois, Filipa Patão mexeu pela primeira vez e tirou Andreia Faria para lançar Jéssica Silva, que regressava aos relvados depois de dois jogos sem sequer ser convocada.
A treinadora francesa fez a terceira substituição à passagem da hora de jogo, trocando Van de Donk por Amel Majri, e o Lyon ia controlando as ocorrências sem permitir grande reação ao Benfica — ainda que, sempre a partir do lado esquerdo e da qualidade de Marie Alidou, as encarnadas não deixassem de criar algum perigo quando conseguiam acelerar. Do outro lado, com um remate em arco de fora de área que passou pouco ao lado, Dumonay ficou muito perto de sentenciar a eliminatória (68′).
Bisa Cascarino
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O Benfica nunca baixou os braços, subindo as linhas e pressionando mais alto para explorar as costas da defesa do Lyon, e Chandra Davidson ficou mesmo muito perto de empatar com um cabeceamento ao lado na sequência de um canto (72′). O jogo começou a partir nos últimos 20 minutos, até porque a equipa portuguesa já não tinha a frescura física para recuar com tanta velocidade, Filipa Patão ainda lançou Andrea Falcón e Andreia Norton, e as francesas fecharam o apuramento com dois golos de Diani nos descontos (90+1′ e 90+6′) e numa fase em que já reinava a ausência de discernimento.
No fim, o Benfica não conseguiu dar a volta à eliminatória e foi eliminado pelo Lyon nos quartos de final da Liga dos Campeões com um resultado final que é demasiado pesado para aquilo que foi a história das duas partidas. Ainda assim, e depois de um ano em que a Seleção Nacional fez história ao chegar ao Campeonato do Mundo pela primeira vez, as encarnadas caíram de pé e deram passos cruciais para a construção do futuro: entre as exibições impecáveis na fase de grupos, resgatando um empate contra o Barcelona no Seixal, o histórico apuramento para os quartos de final e duas prestações muito coerentes e competitivas contra o Lyon, deixando claro que a qualificação nem sequer era assim tão impossível.
Diani a aumentar a vantagem
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Bis de Diani a fechar o jogo
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