Já lhe chamaram Special One 2. Destacaram a forma como conseguiu criar uma identidade na equipa assente num modelo de jogo que em termos táticos não muda mas ganha nuances consoante os jogadores que tem à disposição e o adversário que tem pela frente, elogiaram a capacidade de potenciar jovens talentos, falaram da maneira como conseguiu mudar de forma radical a empatia entre plantel e adeptos. No entanto, há um outro ponto que distingue Rúben Amorim enquanto treinador e que não tem sido tão abordados nos vários perfis desenhados por jornais ingleses nas últimas duas semanas sobre o técnico do Sporting: a comunicação. Pelo que diz, pela timing com que diz, pela forma que diz. Tudo assente numa premissa, para dentro e para fora – não vale a pena dizer aquilo que não é, nem aos jogadores, nem aos jornalistas, nem a todos aqueles com quem trabalha de forma direta. E foi isso que voltou a acontecer na antecâmara do dérbi.

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No arranque da conferência de imprensa, e numa fase em que se intensificam as notícias sobre a hipótese de deixar o Sporting no final da temporada, Rúben Amorim voltou a fintar a questão do futuro mas também não conseguiu garantir que vai permanecer em Alvalade. “Se consigo garantir que fico? Não, não consigo. O Sporting está a tratar do seu futuro e não vou voltar com a palavra atrás. Primeiro vamos ganhar os títulos e depois logo se vê. Estamos no bom caminho. O futuro está a ser tratado há muito tempo e estamos a delinear o que será”, apontou o técnico. Na parte final da resposta, a ideia é clara: dentro de tudo o que pode ser planeado para 2024/25 ainda sem a confirmação da entrada ou não direta na Champions (que só chegará com o título), nada mudou. Em tudo o resto, em qualquer um dos cenários, também não.

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Não me quero alongar muito sobre o meu futuro. Devo muito ao Sporting e o que tiver de acontecer, acontecerá, mas não passará por pressão para sair porque devo muito ao Sporting. Sou muito feliz aqui”, garantiu Rúben Amorim, antes de se centrar nas respostas sobre o dérbi.

Rúben Amorim tem contrato com o Sporting até junho de 2026, devidamente blindado com uma cláusula de 20 milhões de euros para clubes estrangeiros e 30 milhões para formações nacionais. Até aqui, é tudo linear: se alguém pagar esse valor e o treinador quiser sair, não há muito mais para falar. No entanto, há muito que a ligação entre o técnico que chegou de Braga em março de 2020 a Alvalade é diferente. Mais estreita, de maior confiança, capaz de apontar algo de errado se alguém falhar. Por isso, sempre existiu um “compromisso sem contrato” entre as partes envolvidas de que, quando e se o momento de saída chegasse, iria ser abordado de forma natural. Aquilo que Amorim diz nas entrelinhas é que pode ter chegado a hora.

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Da mesma forma como foi sempre preservando a imagem pessoal e da sua carreira a todo custo depois da surpreendente chegada ao Sporting a troco de dez milhões de euros (que depois chegariam a mais de 14), a possível saída foi gerida da mesma forma. Quando estava mais em cima, com quatro títulos num ano, teve abordagens de outros clubes mas nunca deu seguimento. Quando as coisas não correram tão bem, como na última temporada, os leões também deram o seu sinal avançando com a renovação de contrato. Pelo meio, o Chelsea foi um dos conjuntos que procurou saber mais e ficou impressionado com o trabalho e capacidades do técnico sem que nada tenha avançado. Esta temporada, o não de Xabi Alonso propiciou o início de uma conjugação cósmica para que pudesse ser uma das principais alternativas a Jürgen Klopp no Liverpool.

Rúben Amorim vai sempre deixar o Sporting muito melhor do que quando chegou mas tem esse objetivo de conquistar de novo o Campeonato (e se possível a Taça de Portugal também) para dar o mote àquilo que deve ser a “cultura” do clube verde e branco: ganhar títulos não de 20 em 20 ou de dez em dez anos mas de dois em dois ou mesmo de ano a ano. Essa foi uma das maiores batalhas que encontrou desde 2020, promovendo com sucesso um “regaste de identidade” dos leões. O Liverpool não é o único clube “grande” que questionou pessoas próximas do técnico sobre o seu futuro mas era um destino que o treinador gostaria de acolher na primeira experiência no estrangeiro. Se não acontecer, outras portas se podem abrir. Amorim sabe disso. É por isso que pretende sagrar-se campeão e a partir daí perceber o que poderá ou não acontecer, com a garantia de que só irá deixar o Sporting se partir para um projeto com o qual se identifique.

Sobre o encontro, que irá contar com Pedro Gonçalves como titular ou suplente, Rúben Amorim recusou a ideia de “assinar” o empate por baixo caso pudesse por considerar que o Sporting tem todas as condições de vencer como aconteceu no último dérbi em Alvalade para a Taça de Portugal e deixou algumas das receitas para esse objetivo, a começar pela melhoria dos pontos que não correram tão bem na Luz.

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“Vai ser importante entrar bem, mais agressivos. Não há favoritos para este jogo mas terá mais influência quem entrar melhor”. Que Benfica espero? Espero que sejamos melhores, independentemente do que o Benfica fizer. Há certas situações que vamos melhorar de certeza absoluta. Espero um jogo muito dividido, espero que tenhamos melhor entrada e espero que sejamos melhores em todas as fases do jogo. Focámos muito o trabalho na nossa equipa, não há diferença no que vamos fazer tendo em conta o avançado do Benfica. Se é assim que se moldam campeões? Não sei… Tento ser justo com eles, dizer as verdades. Os jogadores são inteligentes e não vale a pena mascarar a realidade. Não engano os meus jogadores. O que há a retificar? De forma geral, a agressividade, a velocidade com que encaramos as situações, pequenos pormenores que entram no jogo”, apontou o técnico leonino, antes de falar de… Viktor Gyökeres.

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“Se espero que ele seja mais decisivo? É um passo importante para o título, é sempre importante vencer agora para ficarmos com uma vantagem de quatro pontos e mais um jogo por disputar. O Viktor faz o seu trabalho. Quando não faz golos, é olhar para o jogo. Fez o seu trabalho, pode sempre fazer melhor, esteve bem contra o Benfica e poderá ainda estar melhor no próximo jogo”, sublinhou, recordando ainda a bola no poste do avançado sueco que podia ter mudado o resultado na Luz e a própria perceção da exibição.