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A matemática emocional na música de Jlin

Na última década, conquistou um lugar único na eletrónica contemporânea. Björk, Philip Glass e Kronos Quartet participam no seu mais recente álbum, "Akoma". Toca este domingo na Galeria Zé dos Bois.

Cada novo álbum de Jlin é uma caixa de surpresas, um código do presente sobre como entender a música eletrónica enquanto aliada da composição contemporânea
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Cada novo álbum de Jlin é uma caixa de surpresas, um código do presente sobre como entender a música eletrónica enquanto aliada da composição contemporânea

Cada novo álbum de Jlin é uma caixa de surpresas, um código do presente sobre como entender a música eletrónica enquanto aliada da composição contemporânea

Normalmente, o convite surge por parte de Björk, o desejo de que alguém com ela colabore num álbum e faça com que as ideias da islandesa coexistam com a contemporaneidade. É uma fórmula que usa há várias décadas, fez escola e beneficia ambas as partes. A história de Jlin é diferente, é Björk que participa no seu álbum e não o inverso. Björk, Philip Glass e Kronos Quartet são alguns dos que fazem parte de Akoma, disco lançado este ano. No longa-duração anterior, Black Origami, William Basinski e Holly Herndon faziam parte dos créditos. No ano passado, Perspective, o tema que compôs para o coletivo Third Coast Percussion, foi nomeado para o prémio Pulitzer de música. De onde vem Jlin e como chegou aqui? Uma forma de ter a resposta é ouvir a música que faz, coisa que será possível fazer ao vivo em Lisboa este fim-de-semana. A artista norte-americana toca na Galeria Zé dos Bois no próximo domingo, pelas 21h.

Mas como é que isto aconteceu? A resposta ao caso Björk é fácil: “Era suposto eu produzir um tema para o último álbum da Björk [Fossora, de 2022], mas acabou por não acontecer porque eu estava sempre em digressão. As nossas agendas não se encontraram. Mas ela já me tinha enviado algum material e eu tinha trabalhado nele, só não o tinha finalizado. E quando comecei a trabalhar neste álbum, terminei-o e mostrei-lhe. Perguntei se podia usá-lo no meu álbum e ela disse que sim.” É esta a história de Borealis, tema de abertura de Akoma, contada por Jlin numa conversa com o Observador dias antes da sua passagem pela Zé dos Bois, uma das datas da digressão europeia que está agora a decorrer.

[Jlin numa performance no Metropolitan Museum, em Nova Iorque:]

Akoma é o terceiro álbum de Jlin, depois da estreia com Dark Energy (2015) e Black Origami (2017). Pelo meio ainda editou música que fez para outros contextos, como Autobiography (2018), obra composta para uma peça de Wayne McGregor, e o já referido Perspective (2023), todos editados pela Planet Mu. Em conversa, Jlin sente o trabalho que faz como “uma expressão vulnerável de mim mesma” e refere, por diversas vezes, o quão grata está pela aceitação que o seu trabalho tem junto das pessoas.

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Começou a fazer música em finais da primeira década deste século. Puxada pelo footwork — género musical com origem em Chicago —, trocava mensagens com DJ Rashad e RP Boo (nomes considerados lendários dessa mesma estética) e, apesar de não ser de Chicago, um dos seus temas entrou na compilação Bangs & Works Vol.2: The Best Of Chicago Footwork (2011), da Planet Mu. O lançamento fez parte da “missão” da editora inglesa em mostrar este género ao mundo e é, talvez, um dos últimos exemplos de como uma compilação surgiu no momento certo para divulgar e promover uma linguagem musical (e não só). Tanto que ainda hoje se fala na coletânea como momento essencial. Erotic Heat, o tema de Jlin, fez furor e isso abriu caminho para começar uma relação mais séria com a editora, algo que mantém até hoje.

Apesar do footwork estar nas suas origens, hoje mostra-se pouco disponível para falar disso. Faz sentido, apesar da música manter os BPM lá em cima e da polirritmia: as composições de Jlin já têm pouco a ver com footwork. Aliás, apesar de se poder dançar ao som das suas produções, o que acontece aqui já é qualquer coisa para lá da música de dança. Composição contemporânea sobre a forma de música eletrónica? Talvez. A verdade é que há algo nos ritmos e nas harmonias que Jlin tem procurado na última década — e na forma como têm evoluído — que mostram uma procura por algo diferente.

[o álbum “Akoma” na íntegra, no Spotify:]

É por isso que a esta música tem lugar na dança contemporânea. É por isso, também, que permite uma aproximação a Philip Glass: “Uma coisa que ele me disse, nas várias conversas que tivemos, é que preciso de ter paciência comigo, preciso de aprender a ser paciente para me permitir ultrapassar aqueles momentos em que sinto que há uma barreira criativa.” A colaboração com Philip Glass surgiu por causa da agência de Jlin, a Pomegranate Arts, com quem o compositor trabalha há anos: “Na altura, perguntaram-me o que eu queria, foram eles que comissariaram o meu último disco, mas eu ainda não sabia bem o que procurava. Sabia apenas que queria colaborar com o Philip Glass neste álbum”.

Na edição mais recente da revista The Wire, Jlin fala um pouco dessa aproximação. Lembra o momento em que viu o filme As Horas (2002), de Stephen Daldry, com a mãe e de como ficou fascinada com a banda-sonora de Philip Glass. Nessa altura, Jlin ainda não fazia música, tal só aconteceu anos mais tarde, em 2007 e, desde então, não tem parado. Não quer ser perfecionista, mas está constantemente a estudar a forma (quase) ideal de concretizar a melhor versão da criatividade que cada momento específico. Há uns anos, a Pitchfork começava por descrevê-la como “uma apaixonada pela matemática, que já trabalhou numa fábrica” e essas duas ideias ainda parecem existir na música que faz: “É como um problema matemático em que tens as respostas, mas não sabes qual é a pergunta. É isso que estou sempre a tentar fazer. Qual é a questão? Não sei, mas saberei quando chegar lá. Quando chegar lá, cheguei lá. Não interessa quando, mas o momento surgirá.”

Esta ambição tornou Jlin numa das artistas da eletrónica atual mais criativamente vivas da última década. Cada novo álbum é uma caixa de surpresas, um código do presente sobre como entender a música eletrónica enquanto aliada da composição contemporânea, sem perder nenhuma das características que lhe são fundamentais. Akoma é a mais recente prova disso.

 
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