A campanha de André Villas-Boas à liderança do FC Porto tem sido feita entre vários momentos e diferentes áreas. Uma parte mais institucional, com apresentação dos principais nomes que farão parte da Direção, da Mesa da Assembleia Geral, do Conselho Fiscal e Disciplinar e do Conselho Superior. Uma vertente mais executiva, com os nomes que entrarão na administração da FC Porto SAD e respetivas pastas. Um caminho mais “desportivo”, com Mário Santos a ser o escolhido para liderar todas as modalidades. Agora chegava o ponto que a maioria dos sócios e adeptos mais quer saber: como fica o futebol. E o antigo treinador, a pouco mais de uma semana do sufrágio dos dragões, ia apresentar oficialmente a sua direção desportiva.
Sem grandes segredos, Andoni Zubizarreta era a figura de proa mais esperada por tudo e todos. O antigo guarda-redes internacional espanhol de 62 anos estava há muito identificado como a peça que Villas-Boas queria para ser o diretor desportivo, sendo alguém com quem ganhou muita proximidade com trabalharam em conjunto no Marselha. No entanto, os anúncios não ficariam por aí, tendo em conta que a direção desportiva que seria apresentada contava com os cinco pilares que pretende ver ligados à modalidade: o futebol profissional (com Zubizarreta a trazer uma pessoa de confiança), scouting, performance, formação com futsal quando for criado e futebol feminino. Também aqui surgiam nomes conhecidos do ex-técnico como o de Pedro Silva, que trabalhou com Villas-Boas no Zenit, no Shanghai SIPG e no Marselha.
Ainda assim, era em Zubizarreta que se concentravam todas as atenções. Nascido no País Basco e formado no Alavés, o antigo monstro espanhol das balizas (126 internacionalizações só pela equipa A) foi bicampeão no Athl. Bilbao na década de 80 além de ter ganho uma Taça e uma Supertaça antes de rumar ao Barcelona, onde teve o apogeu durante oito anos com quatro Campeonatos, duas Taças do Rei, duas Supertaças, uma Taça dos Clubes Campeões (a primeira do clube), uma Taça dos Vencedores das Taças e uma Supertaça Europeia. Entre 1994 e até ao final da carreira, em 1998, o número 1 esteve no Valencia. Após deixar os relvados, Zubi ficou ligado ao futebol, sendo diretor do Athl. Bilbao antes de voltar ao Barcelona a convite do então presidente Sando Rosell e sair cinco anos depois, em 2015, já com Josep Maria Bartomeu na liderança dos blaugrana. Mais tarde, o espanhol assumiu as funções ao serviço do Marselha até 2020.
Se em relação ao treinador a opção de Villas-Boas está há muito definida, não querendo falar com ninguém até se sentar com Sérgio Conceição para perceber aquilo que está na cabeça do atual técnico dos azuis e brancos no presente e no futuro, o edifício de todo o futebol era uma aposta forte da campanha da lista B para que os associados conhecessem um pouco mais da forma como o ex-campeão pelo FC Porto em 2010/11 entende a estrutura orgânica do core business do clube. Esta quinta-feira, chegava esse dia. E veio com a confirmação de Jorge Costa, treinador do AVS que vai também entrar na estrutura do futebol.
“O Zubizarreta foi alguém que se distinguiu como jogador, alguém que conhece, estuda e pensa o futebol. Obstinado pelo jogo mas com plena consciência da importância da construção do atleta e da estrutura que o forma. Vem de uma escola reconhecida por esse trabalho, implementou esse seu conhecimento noutros clubes, e hoje está aqui porque se identifica muito com o que somos. Fruto de termos trabalhado juntos, partilhamos a mesma visão para a construção de uma estrutura dinâmica, criação de cultura desportiva, formação, estratégia e planeamento”, destacou Villas-Boas. “Jorge, a ti faltam palavras para te descrever. E como assim é, vou começar a falar como sócio. ‘Bicho’! Vencedor, líder, garra, ser Porto e respirar Porto! Tudo isso mas não só isso. Liderança, ensino, gestão dos jovens e dos profissionais. Acompanhamento, motivação, gestão das equipas profissionais. Todo o teu saber Porto ao serviço do FC Porto. A casa onde nunca deverias ter saído, a casa à qual regressarás”, referiu sobre Jorge Costa.
Zubizarreta e Jorge Costa foram confirmados na direção desportiva de André Villas-Boas caso vença as eleições do FC Porto. pic.twitter.com/BQYYXyPlvZ
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“O futebol é uma paixão. O meu clube é o Athletic Bilbao, desde pequeno, a partir de agora será o FC Porto. A ilusão de estar num autêntico clube de futebol, isso para mim é um enorme desafio. Quando joguei contra o FC Porto, há muitos anos, tenho ideia de serem jogadores competitivos, intensos, com ritmo e qualidade de jogo e, sobretudo, com um amor muito grande à camisola. Isso é ADN Porto, ADN de um clube que queira ganhar sempre. Os produtos da formação são produtos a médio e longo prazo. Não podemos pensar que de repente vamos ter muitos na equipa principal. Vamos olhar para o que temos em casa, a mentalidade tem de passar por aí. Scouting é sempre uma área delicada nos clubes, são os nossos espiões que andam por aí, nem convém que apareçam muito”, comentou na cerimónia Andoni Zubizarreta.
A apresentação conjunta do diretor desportivo Zubizarreta e do lendário Jorge Costa como diretores do futebol profissional do FC Porto, numa iniciativa liderada pelo candidato à presidência, André Villas-Boas, é uma jogada estratégica magistral. Esta escolha não só enaltece a… pic.twitter.com/JVjGFpqHKR
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“A minha posição será de diretor para o futebol profissional, Sub-19, equipa B e principal, fazer a ponte entre as três. Isto em sintonia com o presidente, o diretor desportivo e os restantes departamentos. A minha missão é servir o FC Porto, não é servir-me do FC Porto. Quero muito ter o meu FC Porto de volta e para isso é preciso ter esses jogadores. Não basta serem bons, serem bons tecnicamente, é preciso algo mais. Posso dar um exemplo meu, daqueles anos de 2003 e 2004, em que ganhámos títulos europeus. Acordava contente, era dos primeiros a chegar, dos últimos a sair, havia ligação entre jogadores, equipa técnica, roupeiros, departamento médico… Tínhamos um rumo, sabíamos o que queríamos e como havíamos de lá chegar. Ninguém, se desviou desse rumo. Esse é o caminho para o sucesso”, destacou Jorge Costa.
À margem da cerimónia, Villas-Boas falou da atualidade do clube, do eventual incumprimento do fair play financeiro da UEFA ao acordo anunciado com a Ithaka. “Vai em linha no que temos discutido. Porquê a pressa? A venda de 30% dos direitos comerciais do FC Porto custa-nos muitos. Apesar do parceiro ser bom é uma sinal de falência operacional. Quando se vende algo que não se tem necessidade de vender… Sem colocar em causa a qualidade do parceiro, a aceleração do processo custa-nos muito. Teremos de conhecer as pessoas quando lá chegarmos, poderia ou não ter outro valor comercial o FC Porto tendo outra gestão… Quando se vende por inoperância, custa. Quando se vende a dez dias das eleições é grave também para os sócios”, começou por apontar o antigo treinador sobre o comunicado enviado à CMVM.
“É falso que a SAD incumpriu em determinados períodos e não noutros períodos. Essa é que é a questão. E aí faltam respostas. ninguém vai à UEFA tomar café. Estamos preocupados… Há ou não uma coima a caminho? Há ou não um perigo de suspensão? Todos vimos o senhor presidente muito tático, agarrado a um comunicado… O que nos parece é que pode haver algo a caminho, o que será muito grave”, apontou.
“Processo eleitoral? Podemos estar perante um caos operacional com a renovação de quotas no próprio dia das eleições. As pessoas que estão comigo atravessam-se por mim, alguns com perdas salariais significativas com espírito de missão como o que eu estou no FC Porto. É um sinal que todos queremos este momento de transformação. É importante fazer a cruz sem erro, sem riscar o boletim, sem colocar qualquer tipo de mensagem para que o voto possa contar”, concluiu nas declarações aos jornalistas.