Milhares de pessoas estão este domingo reunidas na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para uma manifestação convocada pelo ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, impulsionadas pelas recentes críticas de suposta censura do Supremo e às investigações à tentativa de golpe de Estado.

A manifestação arrancou pelas 10h locais (14h em Lisboa) e, como conta a Folha de São Paulo, estava nas primeiras horas a ser marcada por discursos em tom religioso, por críticas ao juiz Alexandre de Moraes e pela exaltação de Elon Musk.

Num discurso em cima de um carro de som, perante milhares de apoiantes no Rio de Janeiro, o ex-presidente brasileiro deixou fortes elogios a Elon Musk e defendeu uma amnistia para os condenados pelo atraque aos Três Poderes, tal como já tinha defendido num comício perante uma multidão em São Paulo em fevereiro.

“Temos pelo Brasil órfãos de pais vivos”, disse Bolsonaro, em declarações citadas pela Folha de São Paulo. “A amnistia é algo que sempre existiu na história do Brasil. Ninguém tentou, por meio de armas, tomar o poder em Brasília. Aquelas pessoas estavam com a bandeira verde e amarela nas costas e muitas com uma Bíblia em baixo do braço. Não queiram condenar um número absurdo de pessoas porque alguns erraram invadindo e depredando o património, como se fossem terroristas, como se fossem golpistas.”

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Durante a intervenção, Bolsonaro pediu um aplauso para Elon Musko, o dono do X, que tem estado envolvido numa disputa com a justiça brasileira e se queixa de censura.

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Durante a intervenção, Bolsonaro classificou Elon Musk como um “mito da liberdade”, que pretende “que o mundo todo seja livre” — e pediu aos apoiantes que se mantenham unidos, para não irem “para o abatedouro como cordeirinhos”.

Bolsonaro já tinha convocado os apoiantes para estarem presentes em Copacabana. “No momento em que o mundo todo toma conhecimento do quanto está ameaçada a nossa liberdade de expressão e de quanto estamos perto de uma ditadura, é que eu faço um apelo a você, um convite”, disse o ex-presidente num vídeo divulgado nas redes sociais para convocar os seus apoiantes, numa tentativa de pressionar as investigações em curso contra o próprio.

As famosas camisolas “canarinhas” verdes e amarelas e as bandeiras brasileiras, que foram usadas pelo “bolsonarismo” durante a campanha presidencial de 2022, fazem também parte do cenário na orla de Copacabana.

De acordo com a imprensa local, mais de 20 deputados e senadores brasileiros arrecadaram cerca de 25 mil euros de forma a financiar a logística da manifestação, que contará com a presença de Bolsonaro, da sua mulher, Michelle, dos seus filhos parlamentares, governadores, entre os quais o governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, o pastor evangélico Silas Malafaia, para além de dezenas de deputados e senadores.

Dois trios elétricos (camiões de caixa aberta utilizados no Carnaval) acomodarão os convidados vip que para os discursos que dizem ser a favor da verdadeira democracia, da liberdade de expressão, contra a censura e contra as investigações à tentativa de golpe de Estado a 8 de janeiro de 2023, quando milhares de radicais invadiram as sedes dos três poderes em Brasília na tentativa de destituir Lula da Silva da presidência.

Em declarações à Lusa, o deputado federal José Medeiros, uma das figuras mais proeminentes do “bolsonarismo” na câmara baixa, afirmou que a missão é “assegurar direitos civis assegurados na constituição brasileira”.

José Medeiros deixou ainda duras críticas ao juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o ‘inimigo numero um’ da direita radical brasileira, acusando-o de estar a censurar muitos brasileiros através de “construções abstratas”.

Esta será uma repetição da manifestação a 25 de fevereiro em São Paulo, mas que agora ganhou novo ímpeto depois do bilionário Elon Musk, dono do X, ter entrada em cena e lançado repetidas críticas ao facto de redes sociais de apoiantes de Bolsonaro terem sido banidas pelo incentivo às manifestações que resultaram na tentativa de golpe de Estado e por terem espalhado informações, infundadas, sobre as urnas eletrónicas usadas nas eleições presidenciais e por uma suposta interferência do Tribunal Superior Eleitoral.

“De Moraes definitivamente interferiu nas eleições do Brasil”, escreveu Elon Musk nas redes sociais na quarta-feira.

Nas presidenciais de 2022, Lula da Silva venceu Bolsonaro, que se recusou a reconhecer a derrota, o que levou os seus seguidores a montarem acampamentos em frente a bases militares para protestar contra o resultado das presidenciais e para exigirem uma intervenção militar.

Oito dias após a posse de Lula da Silva, milhares de “bolsonaristas” saíram do acampamento em frente ao quartel-general do Exército em Brasília para atacar as sedes dos três poderes na tentativa de forçar um golpe contra o Governo recém-instalado.

Nos últimos meses, a polícia brasileira, o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal avançaram em investigações e punição aos executores desses atos. Cerca de 1.232 pessoas foram presas e acusadas, das quais 116 já foram condenadas a penas de até 17 anos de prisão.

As autoridades brasileiras ainda não chegaram a uma conclusão sobre a participação ou não do ex-presidente Bolsonaro na instigação desses atos nem sobre o papel dos financiadores, de funcionários públicos, incluindo militares, e de outras autoridades suspeitas de omissão ou de facilitação.