Três jornadas sem vencer, para o FC Porto, não ilustravam apenas a pior temporada de Sérgio Conceição desde que chegou ao Dragão. Três jornadas sem vencer, para o FC Porto, ilustravam uma das piores temporadas da era Jorge Nuno Pinto da Costa. Ou seja, uma das piores temporadas das últimas quatro décadas.

Mas o problema do FC Porto vai além das três jornadas sem vencer. Já matematicamente afastado da conquista do Campeonato e muito longe do segundo lugar, a equipa de Sérgio Conceição terá de passar o resto da temporada a defender a terceira posição de Sp. Braga e V. Guimarães com uma margem de erro praticamente inexistente. Pelo meio, já no próximo fim de semana, Pinto da Costa e André Villas-Boas defrontam-se nas eleições mais disputadas dos últimos 40 anos nos dragões, num autêntico clímax após meses de enorme instabilidade institucional e interna.

Ficha de jogo

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Casa Pia-FC Porto, 1-2

30.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Rio Maior, em Rio Maior

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

Casa Pia: Ricardo Batista, Duplexe Tchamba, João Nunes, Leonardo Lelo, Nuno Moreira (Rúben Lameiras, 82′), Ângelo Neto (Samuel Justo, 74′), Yuki Soma (Kiki Silva, 86′), Zolotić (Pablo Roberto, 74′), Telasco Segovia, Felippe Cardoso (André Lacximicant, 82′), Gaizka Larrazabal

Suplentes não utilizados: Lucas Paes, Kevin Krygard, Fernando Varela, André Geraldes

Treinador: Gonçalo Santos

FC Porto: Cláudio Ramos, João Mário (Romário Baró, 45′), Pepe, Otávio, Wendell, Alan Varela (Grujic, 90+2′), Nico González, Francisco Conceição (Gonçalo Borges, 85′), Pepê, Galeno, Taremi (Danny Namaso, 85′)

Suplentes não utilizados: Gonçalo Ribeiro, Stephen Eustáquio, Wendel Silva, João Mendes, Zé Pedro

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Galeno (31′), Nuno Moreira (37′), Nico González (56′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Neto (59′), a Zolotić (66′), a Gaizka Larrazabal (78′), a Wendell (90+7′)

Este domingo, porém, ainda se jogava em campo. O FC Porto visitava o Casa Pia em Rio Maior e procurava regressar às vitórias depois das tais três jornadas sem ganhar e do apuramento para a final da Taça de Portugal alcançado na sequência da eliminação do V. Guimarães. Contudo, na antevisão, Sérgio Conceição garantia que não tinha grandes problemas na hora de motivar o grupo.

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“Estão motivados porque sabem que estão a representar este clube, sabem que estão na final da Taça de Portugal, que fizeram uma ótima Liga dos Campeões, que por algum demérito estão a lutar por lugares a que não estamos habituados. Falo de mim e da minha equipa técnica, estivemos sempre acima dos 80 pontos nos últimos seis anos, mas este ano o Campeonato não correu tão bem por algo que já foi muito badalado. Têm de perceber que representam este clube, que tem de haver uma base sempre presente diariamente, onde tem de haver uma exigência e rigor muito grandes no que é o nosso trabalho e ambição diárias, para que nos jogos possam ir lá para dentro com essa motivação, focados naquilo que é o nosso objetivo de sempre, a vitória”, atirou o treinador dos dragões.

Neste contexto e ainda sem contar com Diogo Costa por lesão e Evanilson por castigo, Sérgio Conceição não mexia no onze que tem sido mais habitual e mantinha Galeno, Francisco Conceição e Pepê no apoio a Taremi, que repetia a titularidade. Do outro lado, num Casa Pia que vinha de quatro sem ganhar, Gonçalo Santos lançava Telasco Segovia, Larrazabal e Felippe Cardoso na zona ofensiva.

O Casa Pia começou melhor, com Cláudio Ramos a ser desde logo crucial ao evitar o autogolo de Otávio depois de um desvio infeliz do central (3′). A partir dos 10 minutos iniciais, porém, o FC Porto assumiu o ascendente da partida com alguma naturalidade e deixou de permitir grandes aventuras ao adversário, começando a aproximar-se da baliza de Ricardo Batista com frequência e construindo oportunidades que iam justificando a vantagem.

Francisco Conceição foi o primeiro, com um remate forte que desviou num adversário e passou ao lado (11′), Pepe obrigou Batista a uma defesa atenta com um cabeceamento na área (13′), Alan Varela atirou por cima depois de um momento de qualidade individual muito acima da média (18′) e Pepê fez a baliza tremer com um pontapé que acertou em cheio na trave (23′). À passagem da meia-hora e até já a pecar por tardio, apareceu o golo.

João Mário tirou um passe vertical perfeito a partir da direita e desmarcou Pepê, que entrou na área e cruzou para o outro poste para ver Galeno receber, segurar, tirar um adversário da frente e atirar para a baliza (31′). O FC Porto chegava à vantagem de forma natural e merecida, explorando essencialmente a profundidade nas costas da defesa do Casa Pia e aproveitando alguma passividade adversária. Os lisboetas mal conseguiram reagir, com a defesa dos dragões a manter-se muito concentrada e organizada, mas o empate acabou por surgir num lance de bola parada.

Na sequência de um canto, Soma cruzou para a área, Duplexe ganhou a toda a gente no ar e desviou de cabeça para o segundo poste, onde Nuno Moreira apareceu completamente sozinho a finalizar (37′). Até ao fim da primeira parte, o Casa Pia ainda poderia mesmo ter carimbado a reviravolta em três ocasiões diferentes, com Soma a procurar o desvio de Felippe Cardoso (43′) e o próprio japonês a obrigar Cláudio Ramos a duas defesas atentas de forma consecutiva (45+2′). Ao intervalo, estava tudo empatado — e ficava a ideia de que o FC Porto perdeu o controlo do jogo nos últimos instantes e depois do golo sofrido.

Sérgio Conceição foi forçado a mexer logo ao intervalo, já que João Mário terminou a primeira parte com muitas queixas físicas e teve de ser substituído por Romário Baró, que entrou para o meio-campo e obrigou Pepê a recuar para a direita da defesa. O FC Porto começou melhor na segunda parte, voltando a instalar-se no meio-campo adversário e criando desde logo uma situação em que Galeno poderia ter marcado após cruzamento de Baró (47′), e o Casa Pia apostava cada vez mais no futebol direto e na exploração da profundidade.

Ainda antes da hora de jogo, o FC Porto acabou por conseguir recuperar a vantagem. Taremi recebeu na área e temporizou, antes de soltar para Nico e ver o espanhol tirar um adversário da frente antes de rematar em força para bater Ricardo Batista (56′). A partida perdeu alguma intensidade depois do golo, com os dragões a recuarem as linhas e a permitirem uma reação tímida do Casa Pia, ainda que a melhor oportunidade deste período tenha sido um livre direto de Taremi que passou ligeiramente ao lado (64′).

Gonçalo Santos mexeu já dentro dos últimos 20 minutos, lançando Samuel Justo e Pablo Roberto, e o Casa Pia estava cada vez mais subido no terreno, enquanto que o FC Porto abdicava cada vez mais de atacar de forma apoiada. O cansaço e a fadiga, porém, acabaram por arrastar o jogo até ao final já sem grande qualidade ou esclarecimento, destacando-se apenas um remate de Nico (88′) e outro de Gonçalo Borges (90′), ambos desenquadrados.

Até ao fim, e com um lance entre Cláudio Ramos e Samuel Justo na área dos dragões a levantar ainda alguma polémica, já nada mudou. O FC Porto venceu o Casa Pia em Rio Maior e regressou aos triunfos três jornadas depois, voltando a igualar o Sp. Braga no terceiro lugar do Campeonato — e tudo num dia em que Nico voltou a ser dos melhores da equipa de Sérgio Conceição, marcou um golo e recuperou a ordem natural das coisas, apesar de não ter colocado ordem na casa.