As vacinas de mRNA contra o melanoma – o cancro de pele mais mortífero – entraram na terceira fase dos ensaios clínicos e os investigadores envolvidos nesta pesquisa dizem que pode ser algo que “altera as regras do jogo” no combate a esta doença e, eventualmente, a outros tipos de cancro.
Estas são vacinas “personalizadas” que usam a mesma tecnologia das principais vacinas contra a Covid-19, o “RNA mensageiro”. Um ensaio (de fase 2) revelou que as vacinas que estão a ser desenvolvidas reduziram drasticamente o risco de recidiva do cancro em pacientes com melanoma. Após esse resultado animador, a University College London Hospitals NHS Foundation Trust (UCLH) está a coordenar um ensaio de fase 3.
O melanoma é um tipo de cancro que afeta cerca de 132 mil pessoas por ano (em todo o mundo), sendo que atualmente os doentes são tratados com cirurgia radioterapia, medicamentos e quimioterapia. A tecnologia mRNA permite que cada vacina seja feita à medida de cada paciente, dando “instruções” ao corpo sobre como atacar as células cancerígenas, contribuindo para evitar que a doença volte.
Citada pelo The Guardian, Heather Shaw, investigadora que está a coordenar o ensaio clínico de fase 3, disse que estas vacinas podem curar pessoas com melanoma e também estão a testadas em outros tipos de cancro, incluindo pulmão, bexiga e rins. “Esta é uma das coisas mais emocionantes que vimos em muito tempo”, afirmou a investigadora.
Esta tecnologia, ou melhor, a plataforma que tem por base o uso de mRNA (ARN mensageiro) permite desenvolver vacinas rapidamente porque não obriga a começar tudo de novo para cada novo alvo identificado, bastando introduzir uma nova porção de código genético (neste caso, sob a forma de mRNA). A preparação desta plataforma, nomeadamente para o tratamento do cancro, era o ponto em que a investigação estava antes da pandemia de Covid-19, “só que, se calhar, ia demorar muito mais tempo”, disse o investigador Nuno Vale em entrevista ao Observador em 2022.
“A Covid-19 veio dar um impulso a esta tecnologia, mesmo sem querer”, disse o investigador. O princípio geral é o mesmo: o código inscrito numa molécula simples de material genético do alvo (do vírus ou da célula tumoral) é capaz de criar uma mensagem (um antigénio) capaz de ser lida pelo sistema imunitário (em particular, os glóbulos brancos), levando à produção dos anticorpos, que se colam ao alvo a abater.
As moléculas de mRNA — com o código para o fabrico da proteína spike, outras proteínas virais e até moléculas do tumor — são colocadas dentro de pequenas bolhas de gordura (as chamadas nanopartículas lipiídicas), que servem de transporte, mas também protegem o mRNA do ataque precoce pelo sistema imunitário — como um carteiro que entrega uma encomenda importante em sua casa, sem permitir que a chuva ou um cão a desfaça.