Era um confronto de titãs de onde iria sair o provável favorito à conquista da Liga dos Campeões. Em Munique, Bayern e Real Madrid disputavam a primeira mão de uma meia-final que era uma autêntica final antecipada — e defendiam duas versões bastante distintas do significado da eliminatória.

De um lado, o Bayern Munique jogava a óbvia salvação da temporada. Depois de 11 anos consecutivos a conquistar a Bundesliga, a equipa de Thomas Tuchel deixou escapar o título para o estreante Bayer Leverkusen e olhava para a Liga dos Campeões como uma forma de não ter a época mais infeliz da última década. A sorte ajudou até às meias-finais, com os sorteios a ditarem encontros com Lazio e Arsenal nas eliminatórias, mas agora de enfrentar o Real Madrid.

“É um grande jogo, uma meia-final incrível. Como adepto, é uma partida incrível. Este jogo é como se fosse uma final. Temos de fazer o melhor possível neste jogo, porque o nosso objetivo é chegar a Wembley. É importante a tática, a sorte, mas também a liberdade em campo. A tática é uma ferramenta. É como um carro, mas nós é que conduzimos. Os jogadores têm de ter liberdade para colocar em prática as suas ideias de jogo. Se tivermos de desafiar a sorte, vamos fazê-lo”, explicou o treinador alemão.

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Do outro lado, com a La Liga praticamente assegurada, o Real Madrid jogava o complemento da temporada. Depois de falhar a final na época passada, ao perder com o futuro campeão europeu Manchester City nas meias-finais, a equipa de Carlo Ancelotti afastou precisamente os citizens na ronda anterior e chegava à visita a Munique com a intenção clara de voltar a conquistar um troféu que acreditava sempre que é seu por direito.

“O Real Madrid nunca é subestimado nesta competição porque todos sabem o que podemos fazer. Temos o respeito de todos. Não estou preocupado, estamos confiantes para enfrentar uma equipa que não teve uma grande Bundesliga, mas teve uma grande eliminatória com o Arsenal. A história conta muito, na Liga dos Campeões, e isso funciona a nosso favor. Somos duas equipas que não têm uma identidade muito clara, ambos podemos jogar de maneiras diferentes. Não tenho nenhuma variante tática em mente”, atirou o técnico italiano.

Assim, num Allianz Arena a rebentar pelas costuras, Tuchel lançava Jamal Musiala, Thomas Müller e Leroy Sané no apoio direto a Harry Kane, com Alphonso Davies, Gnabry e Raphaël Guerreiro a começarem todos no banco. Já Ancelotti tinha Vinícius e Rodrygo sustentados por Jude Bellingham, apostando em Kroos e Tchouaméni no meio-campo e deixando Modric e Camavinga como suplentes.

O Bayern começou melhor, com o Real Madrid a permitir uma facilidade pouco habitual na hora de entrar no último terço dos merengues, e Lunin teve o primeiro susto logo nos instantes iniciais depois de uma combinação entre Kane e Sané (2′). O mesmo Sané rematou por cima pouco depois (8′), Musiala também falhou o alvo (13′) e os alemães fecharam o primeiro quarto de hora com mais de 60% de posse de bola e seis remates contra zero.

Ainda antes da meia-hora, porém, o Real Madrid explicou o porquê de ser quase sempre favorito na Liga dos Campeões. Na primeira aproximação à baliza de Neuer, Kroos tirou um passe perfeito a rasgar toda a defesa do Bayern e deixou Vinícius completamente isolado na cara do guarda-redes, com o brasileiro a atirar de primeira para abrir o marcador (24′). Os alemães só voltaram a causar perigo já perto do intervalo, com um livre direto de Kane que passou muito perto da baliza de Lunin (43′), e o Real Madrid fechou mesmo a primeira parte a vencer de forma surpreendentemente confortável.

Thomas Tuchel mexeu logo ao intervalo, trocou Goretzka por Raphaël Guerreiro e o Bayern só precisou de pouco mais de 10 minutos para dar a volta ao resultado. Sané empatou na sequência de um enorme lance individual, com um pontapé muito chegado ao poste já na área (53′), e Kane carimbou a reviravolta pouco depois na conversão de uma grande penalidade (57′). Carlo Ancelotti reagiu com a primeira substituição, lançando Camavinga no lugar de Nacho, mas o Real Madrid não tinha capacidade para responder.

O treinador italiano voltou a mexer à entrada para o último quarto de hora, lançando Modric e Brahim Díaz, e Vinícius teve a primeira oportunidade dos merengues na segunda parte ao aparecer novamente na cara de Neuer, mas o guarda-redes levou a melhor (79′). Pouco depois, o empate surgiu mesmo: Kim Min-jae fez falta sobre Rodrygo na área dos alemães e Vinícius, na conversão da grande penalidade, não falhou e bisou (83′).

Já nada mudou até ao fim e Bayern Munique e Real Madrid empataram na Alemanha, deixando tudo em aberto para a segunda mão e para o Santiago Bernabéu. Num dia em que os alemães foram quase sempre superiores, os espanhóis mostraram a lógica do costume: quando o assunto é a Liga dos Campeões, nunca podem ser descartados.