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Há registo de protestos pró-Palestina e contra a guerra em Gaza em várias universidades norte-americanas, levando até Joe Biden a fazer o primeiro discurso à nação sobre o tema. O Presidente dos EUA realçou que existe liberdade de expressão, mas deixou críticas a quem gera o caos. Ao mesmo tempo, rejeitou que as manifestações levem os EUA a alterar a posição sobre o conflito no Médio Oriente e afastou a intervenção da Guarda Nacional.

Protestos em universidades. Biden diz que há “direito a protesto, mas não o direito a criar o caos” e afasta intervenção da Guarda Nacional

A Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) centra as atenções e já foi palco de mais de duas mil detenções. Durante o dia, helicópteros sobrevoaram o campus para assustar e dispersar a multidão, houve barricadas destruídas e gás lacrimogéneo. A tensão subiu na UCLA na noite de quarta e madrugada de quinta-feira, um dia depois de confrontos violentos entre manifestantes pró-Palestina e um grupo de contra-manifestantes que atacaram as tendas com paus e varas.

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Isso mesmo levou a multidão que a polícia tentou dispersar esta madrugada a gritar “Onde estiveram ontem à noite?”. Na Dickson Plaza, a praça da UCLA onde foi instalado um acampamento de centenas de manifestantes pró-Palestina, a polícia avisou ao início da noite de quarta-feira que se não dispersassem, os manifestantes seriam detidos.

Foi o que acabou por acontecer. Mais de seis horas depois do aviso, a polícia entrou no acampamento. Numa primeira fase, sem grandes confrontos nem resistência por parte da multidão. Mas depois de saírem e de cercarem o campus, voltaram a entrar — e desta vez de forma mais rápida.

Segundo a Associated Press, helicópteros da polícia sobrevoaram a UCLA e ouviram-se explosões de dispositivos que produzem uma luz brilhante e um forte ruído para assustar e dispersar a multidão. A polícia destruiu barricadas com contraplacados, paletes, vedações metálicas e contentores de lixo do acampamento e derrubou toldos e tendas.

Os manifestantes seguraram guarda-chuvas como escudos e foram avisando os colegas para se prepararem com água caso a polícia lançasse gás lacrimogéneo, que segundo a imprensa norte-americana, já chegou a ser lançado sobre a multidão.

As imagens divulgadas pela imprensa internacional mostram jovens com algemas de plástico sentados ou ajoelhados junto às autoridades enquanto a polícia tentava dispersar a multidão. Segundo a polícia da Califórnia, foram detidas mais de 100 pessoas. Na quarta-feira, a polícia tinha revelado que  já foram detidas 1.600 pessoas nos protestos pró-Palestina nas várias universidades norte-americanas. 

Segundo o The New York Times, uma hora depois da operação policial, a barricada principal que protegia o acampamento foi desmantelada. No seu lugar está agora um cordão de manifestantes que gritam “Não ataquem estudantes”.

A UCLA anunciou que vai prolongar as aulas à distância esta quinta e sexta-feira. A universidade pede que os alunos e pessoal docente e não docente evitem a Dickson Plaza. Numa mensagem à comunidade escolar, avisou que “declarou o acampamento e todas as tendas e estruturas não autorizadas na Dickson Plaza como ilegais“. “A Universidade exige que todos abandonem imediatamente o acampamento e as áreas adjacentes, bem como todas as estruturas e tendas não autorizadas, até nova ordem”, referem.

Os manifestantes têm apelado a um cessar-fogo em Gaza e pedem às universidades que cortem ligações com empresas israelitas, incluindo as que fornecem material militar a Israel.

Os protestos na universidade de Rutgers, em New Brunswick, Nova Jérsia, levou ao adiamento de exames durante a manhã, afetando mais de mil alunos. A direção fez um ultimato aos manifestantes: quem não saísse até às 16 horas locais do acampamento (21 horas em Lisboa), enfrentaria as consequências, podendo ser acusados de invasão de propriedade. Os estudantes desmantelaram o acampamento, dizendo que chegaram a um acordo com os administradores da instituição de ensino.

Em Portland, na Portland State University, a polícia tentou esvaziar o campus, resultando em mais confrontos entre as autoridades e os estudantes. Houve pelo menos 12 detenções e objetos atirados às forças policiais, revelou o New York Times. Foi divulgado entretanto que na terça-feira um condutor  …

Na Univesidade do Wisconsin, a polícia até conseguiu, na quarta-feira, retirar as dezenas de tendas colocadas à frente da biblioteca, fazendo 34 detenções. Esta quinta-feira, apareceram mais 30 tendas, sinalizando a resistência dos estudantes. Até agora, notou o NYT, não foram feitos esforços para desmantelar o acampamento.

A polícia também foi chamada a intervir na Universidade de Columbia e já se registaram alguns incidentes. Na terça-feira, um agente do departamento da polícia de Nova Iorque disparou uma arma durante os protestos. Não havia estudantes nas proximidades, segundo relatou a CNN, que acrescenta que ninguém ficou ferido. O caso está a ser investigado pelas autoridades.

Várias universidades britânicas estão a montar acampamentos pró-Palestina. Uma universidade encerrada em Paris esta sexta

Os protestos não estão limitados apenas aos EUA. Várias universidades britânicas começaram a criar acampamentos pró-palestinianos e contra a guerra na Faixa de Gaza, mas os organizadores sublinharam que não esperam uma repetição da violência que se regista nos protestos do outro lado do Atlântico.

O primeiro acampamento universitário foi montado na semana passada em Warwick e, mais tarde, nos campus de Bristol, Sheffield, Manchester, Leeds e Newcastle, segundo os organizadores.

A líder do grupo Campanha de Solidariedade com a Palestina, Stella Swain, sublinhou esta quinta-feira aos meios de comunicação social que esta semana e na próxima “mais locais vão aderir à chamada de protesto”.

“Todos os protestos até agora foram completamente pacíficos e não há nada que indique que não o serão. Haveria muito pouca razão para uma resposta [da polícia]”, frisou.

Esta responsável acrescentou que os protestos pacíficos no Reino Unido incluem estudantes que abordam questões como o colonialismo, considerando as manifestações de “eventos pacíficos, mas educativos”.

Swain sublinhou que espera que nenhum político, quer apoie a causa ou não, queira ver a polícia britânica agir como a polícia norte-americana fez com os manifestantes estudantis.

Na Universidade de Manchester, um acampamento foi montado esta quarta-feira na área de Brunswick Park.

“Podem ter a certeza de que faremos todo o possível para manter as coisas como sempre e instamos os manifestantes a agir em conformidade”, realçou um porta-voz desta instituição de ensino.

“Estamos muito conscientes da necessidade de garantir que todos no nosso campus permaneçam seguros e protegidos e isso será de grande importância”, acrescentou.

Ainda na Europa, em França, o Instituto de Estudos políticos de Paris decidiu encerrar as suas principais instalações esta sexta-feira devido a uma nova ocupação por dezenas de estudantes pró-palestinianos, enquanto o Governo francês apelou à manutenção da ordem pública nas universidades.

A ministra do Ensino Superior, Sylvie Retailleau, tinha pedido aos reitores das universidades francesas que garantam a “manutenção da ordem pública”, recorrendo a “todos os poderes” à sua disposição, nomeadamente em termos de sanções disciplinares em caso de distúrbios ou de recurso às forças policiais.

Na sequência de um debate interno sobre o Médio Oriente, na quinta-feira de manhã, que qualificaram de “dececionante, mas não surpreendente”, os estudantes do comité palestiniano do Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como Sciences Po, anunciaram o lançamento de uma “concentração pacífica” no átrio da escola e o início de uma greve de fome de seis estudantes “em solidariedade com as vítimas palestinianas”.

Esta quinta à noite uma centena de estudantes votou, em assembleia geral, a ocupação do campus, disse à AFP um membro do comité palestiniano, que não revelou o seu nome.

As greves de fome vão continuar até que “se realize uma votação oficial e não anónima no Conselho do Instituto para a Investigação de Parcerias com Universidades Israelitas”, disse Hicham, do Comité Palestino.

Após uma mobilização tensa no final da semana passada, o protesto foi suspenso depois de a direção ter concordado em organizar um debate interno.

“Foi um debate duro, com algumas posições bastante claras e muita emoção”, disse Jean Bassères, administrador provisório do Sciences Po, apelando à “calma” antes do início dos exames, na segunda-feira.

Jean Bassères afirmou ter “tomado posições bastante firmes sobre determinados assuntos”, recusando “muito claramente a criação de um grupo de trabalho proposto por alguns estudantes para investigar” as relações do Sciences Po com as universidades israelitas, e apelou “ao sentido de responsabilidade de todos”.

Não muito longe da Sciences Po, em frente à Universidade de Sorbonne, onde a polícia já tinha intervindo na segunda-feira para retirar os manifestantes, cerca de 300 estudantes de vários campos universitários reuniram-se esta quinta-feira à tarde e montaram um acampamento com cerca de vinte tendas.

Os manifestantes gritaram “Somos todos filhos de Gaza” e “A Palestina viverá, a Palestina vencerá”, antes de serem retirados, uma hora mais tarde, por mais de uma centena de membros das forças de segurança, segundo um jornalista da AFP.