Poucas pessoas nunca terão sido surpreendidas por veículos particularmente ruidosos, conduzidos por indivíduos cujo prazer reside mais no roncar do motor e nos consequentes “rateres” do escape, do que propriamente pela velocidade, rapidez ou comportamento exemplar do veículo. E este tipo de amantes de automóveis não são propriamente os donos de superdesportivos, mas sim os fãs do tuning, que parecem sentir algum prazer em incomodar os vizinhos com o ruído estridente dos seus motores. Pois bem, uma universidade canadiana publicou um estudo que associa este prazer por carros anormalmente barulhentos a tendências psicopatas.
Julie Aitken Schermer é professora de Psicologia, Gestão e Estudos Organizacionais na Universidade de Western, em Ontário. Passeava o cão quando foi, também ela, incomodada pelos “artistas” do tuning locais, o que a levou a pensar que seria necessário uma pessoa muito especial para sentir prazer naquele tipo de actividade. Daí a efectuar um estudo com alunos do curso de Gestão da universidade foi um instante, para tentar perceber os motivos que levam apenas algumas pessoas a gostarem de carros ruidosos, enquanto outras abominam essa prática que apura o roncar do tubo de escape.
Participaram no estudo 529 alunos, dos quais 289 eram homens, 234 mulheres e seis identificaram-se como “outros”. As questões versavam sobre temas como se “encaravam os seus automóveis como uma extensão deles próprios”, se “achavam cool carros muito ruidosos” e se “pensavam alterar os escapes dos seus carros para incrementar o ruído”, com a professora Schermer a cruzar estas respostas com o resultado de um estudo denominado Short Dark Tetrad (SD4), que visa detectar traços de personalidade maliciosa, incluindo narcisismo, psicopatia e instintos maquiavélicos.
Dos resultados de ambos os inquéritos a mais de meio milhar de indivíduos, foram tiradas conclusões como a existência de “uma forte correlação entre os indivíduos que gostam de dar nas vistas pelo barulho do seu escape e narcisismo”. Como se isto não bastasse, ficou igualmente claro que era “entre os mais apaixonados pelos estampidos violentos do escape que se encontravam mais indivíduos com sinais de psicopatia e sadismo”, segundo declarou a professora Schermer à CBC.
O estudo foi acolhido com uma certa dose de críticas por parte dos amantes de carros transformados que “gritam” acima do permitido pela lei e que adoram tanto as suas “bombas” de quatro rodas que até as tatuam no corpo. Potencialmente, os membros desta amostragem contribuem para os números de que se queixam as autoridades de Londres, curiosamente a cidade canadiana em que se localiza a faculdade, que confirmam um número crescente de multas e apreensões de veículos desde 2020, na ordem das várias centenas por ano.