“Se não passarmos à final é assim mesmo, a vida segue e vai estar sol”. Quando muitos apontavam a receção ao B. Dortmund como o jogo que iria definir toda a temporada, após as conquistas da Supertaça e da Ligue 1 (e ainda está na final da Taça de França, frente ao Lyon daqui a duas semanas), Luis Enrique revelava uma calma e descontração que funcionavam quase como contraste com o peso do encontro em termos internos tendo em conta essa autêntica obsessão que se tornou a vitória na Liga dos Campeões. Agora, chegava a hora da verdade. E sendo certo que a segunda parte na Alemanha mostrou que a equipa tinha tudo em aberto, a necessidade de ter outra eficácia na baliza e não nos postes podia ser a chave para a reviravolta.

A batuta de Vitinha merecia uma orquestra mais afinada: B. Dortmund vence PSG num festival de golos falhados

O PSG sofreu uma revolução discreta ao longo do último verão. Messi acabou contrato e saiu, Neymar foi vendido para uma nova realidade chamada Arábia Saudita, as contratações centraram-se em elementos que, sendo conhecidos, tinham menos “nome” mas mais capacidade de progressão também pela média mais baixa de idades. O técnico espanhol foi contratado para construir uma nova base no conjunto parisiense e não teve problemas em riscar quem considerava estar a mais, tendo agora pela frente a possibilidade de voltar a uma final da Liga dos Campeões que ganhou em 2014/15 pelo Barcelona (que eliminou nos quartos da prova). Entre essa base entrava um jogador que ia sair da base, Kylian Mbappé. E todos os olhos estavam centrados também no avançado francês que já ganhou quase tudo na carreira menos a Champions.

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Num ambiente fabuloso para o qual contribuíam e muito os milhares de adeptos alemães que se deslocaram até Paris, este seria o último encontro europeu do jovem jogador que está a caminho de Madrid para reforçar o Real e também aquele que ficaria como imagem final de todo o percurso nos parisienses. Também por isso, havia dúvidas sobre a possibilidade de voltar a jogar mais pela esquerda e não tanto pelo meio como sucedeu em Dortmund, algo que Luis Enrique promoveu com a saída de Barcola para a entrada de Gonçalo Ramos no onze inicial. De forma quase “injusta”, sete anos e vários recordes como o facto de se ter tornado o melhor marcador de sempre do clube estavam a ser avaliados à luz de 90 ou 120 minutos de jogo.

Nessa perspetiva, tudo correu mal. O PSG partia numa rara ocasião como favorito a chegar à final, jogava em casa e teve tempo para trabalhar numa semana “limpa” apenas para nova batalha com o B. Dortmund mas, entre mais quatro bolas aos postes como tinha acontecido na Alemanha, voltou a falhar. Os anos passam, essa autêntica barreira por mais milhões que o clube vá gastando nem por isso. Tal como Hummels, central alemão de 35 anos que voltou em 2019 ao clube onde já estivera depois de três anos no Bayern para lutar por aquilo que não conseguiu na Baviera e acabou por ser decisivo no regresso à final da Champions 11 anos depois, com o sonho de voltar a conquistar o título europeu como em 1997 com Paulo Sousa.

Como seria expectável, o encontro começou com o PSG a tentar assumiu o comando das operações frente a um B. Dortmund que, assumindo maiores períodos sem bola, nem por isso deixava de ter um jogo vertical na procura dos espaços para desequilibrar no último terço. Foi isso que marcou o quarto de hora inicial, com Mbappé a ter um primeiro remate na sequência de uma segunda bola descaído na esquerda para defesa de Kobel (6′), Adeyemi a beneficiar de um trabalho qual pivô de futsal de Füllkrug para atirar forte e ver essa tentativa desviada por Lucas Beraldo para canto (12′) e Gonçalo Ramos, na sequência de um passe de Vitinha a quebrar linhas para a entrada da área, atirou forte mas não enquadrado (13′), Ryerson aproveitou mais um trabalho de costas para a baliza de Füllkrug para um remate forte que ficou nas malhas da baliza contrária (20′). Nem o PSG se mostrava demasiado ansioso para marcar, nem o B. Dortmund se mostrava demasiado ansioso com a necessidade de não sofrer mas continuavam a faltar finalizações na área contrária.

Só mesmo depois dos 25 minutos iniciais começou a haver mais PSG em termos ofensivos também a partir do momento em que Vitinha agarrou mais no jogo a partir do meio-campo, com Dembélé a tentar o golo de ângulo impossível após uma grande jogada que começou nos pés em Nuno Mendes (31′) e Kylian Mbappé a ver Hummels ter um corte decisivo de carrinho na hora certa quando ia rematar sozinho na área (35′). Ainda assim, e entre mais uma tentativa de meia distância de Vitinha que acabou nas mãos de Kobel (42′), a grande oportunidade acabou por ser do B. Dortmund, com Adeyemi a aproveitar uma descoordenação coletiva na recuperação do PSG, a correr mais de meio-campo e a obrigar Donnarruma a grande defesa (35′).

A segunda parte teria obrigatoriamente de trazer algo de diferente e bastaram cinco minutos para se ver o que não tinha existido no primeiro tempo. Primeiro, na sequência de um cruzamento da esquerda de Kylian Mbappé, Gonçalo Ramos conseguiu desviar a bola de Kobel e Zaire-Emery, sozinho, acertou no poste (48′). Depois, após um canto na esquerda do ataque batido por Brandt, Mats Hummels apareceu ao segundo poste sozinho para desviar de cabeça para o 1-0 (50′). Os alemães tinham chegado a Paris em vantagem e tinham esse avanço reforçado na bola parada contra um PSG que tinha de mostrar o que não mostrara.

Às vezes mais com coração e vontade do que com cabeça, os franceses reagiram. Vitinha deu o mote com mais uma jogada com assistência para Ramos na área com remate do avançado português muito por cima (60′). Logo a seguir, Nuno Mendes tentou também a meia distância de pé esquerdo que bateu no poste (61′). E, no minuto seguinte, Mbappé e Dembélé trabalharam na esquerda mas o desvio de Gonçalo Ramos, que sairia pouco depois, saiu muito ao lado (62′). O encontro estava inclinado de vez, com Hummels a fazer uma falta que deixou muitas dúvidas se foi dentro ou fora da área mas o livre de Asensio a não dar nada. Houve mais tentativas, com um desvio de cabeça de Marquinhos a rasar o poste e mais uma bola na trave de Kylian Mbappé (que estava em perfeito desespero com outro remate à trave) e outra de Vitinha de fora da área que bateu aonda com mais estrondo no travessão com Kobel batido, mas o resultado estava feito.