A primeira mão da meia-final da Liga dos Campeões entre Bayern Munique e Real Madrid foi uma espécie de espelho da história recente da competição: os alemães jogaram mais, os merengues marcaram exatamente os mesmos golos. No fim, e tal como já tinha acontecido na ronda anterior contra o Manchester City, a equipa de Carlo Ancelotti não foi superior, não foi melhor e não foi dominante — mas mostrou que não precisa de nada disso para sair por cima.

Esta quarta-feira, agora no Santiago Bernabéu, o Real Madrid recebia o Bayern Munique um dia depois de o Borussia Dortmund afastar o PSG e tornar-se o primeiro finalista da Liga dos Campeões. Pelo meio, os merengues conquistaram o Campeonato durante o fim de semana, aproveitando a hecatombe do Barcelona contra o Girona — algo que não impedia Carlo Ancelotti de assumir que os alemães foram superiores na primeira mão.

Uns jogam, os outros são o Real Madrid: Bayern e espanhóis empatam em Munique e deixam tudo em aberto

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“Respeitamos o adversário porque são muito fortes e foram melhores do que nós no primeiro jogo. Precisamos de fazer um jogo com mais intensidade, melhor a nível defensivo. Antes do jogo haverá preocupação, mas vamos desfrutar. Não temos uma identidade, eu adapto-me aos jogadores. O facto de as minhas equipas não terem uma identidade clara é um mérito, não é uma falha. É uma qualidade”, atirou o treinador italiano.

Do outro lado, num Bayern Munique que tinha toda a intenção de salvar uma temporada onde já deixou fugir a Bundesliga pela primeira vez em 11 anos, Thomas Tuchel explicou que este seria um jogo “tipo onda”. “Com várias fases. Ambas as equipas vão ter de sofrer. Ambas as equipas sabem ter a bola e sabem jogar na transição rápida. Vai ser um jogo complexo. Nas fases em que tens a vantagem, tens de ter sorte e ser eficaz. Precisamos de recuperar com a posse de bola e temos de nos proteger, porque o Real Madrid é muito bom no contra-ataque. É muito simples: quem ganhar, vai a Wembley, e nós queremos ir”, explicou o técnico alemão.

Assim, Ancelotti tinha Rodrygo e Vinícius na frente de ataque, com Tchouaméni e Kroos numa zona intermédia e Jude Bellingham e Fede Valverde a surgirem também no apoio, sendo que Modric, Camavinga e Lucas Vázquez eram todos suplentes. Já Tuchel apostava em Gnabry, Jamal Musiala e Sané nas costas de Harry Kane, deixando Thomas Müller no banco.

Ao contrário do que aconteceu em Munique, o Real Madrid começou melhor e poderia ter inaugurado o marcador logo nos 10 minutos iniciais, com Rodrygo a falhar por pouco o desvio depois de um cruzamento venenoso de Carvajal (7′). Logo depois, Vinícius acertou em cheio no poste de Neuer, que ainda evitou o golo de Rodrygo na recarga (13′). Os merengues continuaram a insistir, com Vinícius a protagonizar outro remate que passou ao lado (15′), e a vida de Thomas Tuchel ficou ainda mais complicada logo depois.

À passagem da meia-hora, Gnabry ficou no relvado, ainda foi assistido pela equipa médica, mas acabou mesmo por ter de ser substituído por lesão, motivando a entrada forçada de Alphonso Davies. A reação dos alemães à superioridade do adversário apareceu logo depois, com Kane a rematar para uma grande defesa de Lunin (29′), mas o resultado não foi mesmo desbloqueado até ao intervalo e tudo continuou empatado no final da primeira parte.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a primeira ocasião de perigo pertenceu ao Bayern, com Davies a acelerar na esquerda e a rematar para assustar Lunin (47′), mas a lógica da primeira parte depressa foi recuperada. O Real Madrid voltou a instalar-se no meio-campo adversário e acumulou oportunidades, com Rodrygo a testar Neuer novamente com um remate (56′) e um livre direto (60′) e Vinícius a passar pela milésima vez como manteiga pela defesa alemã antes de forçar nova defesa do guarda-redes (61′).

Pouco depois, deu-se o golpe de teatro. Já depois de Lunin parar um bom remate de Musiala (67′), Davies desequilibrou na esquerda após receber de Kane, puxou para dentro e atirou um remate perfeito para abrir o marcador (68′). Carlo Ancelotti respondeu com uma dupla substituição, lançando Modric e Camavinga, e os merengues até colocaram a bola no fundo da baliza, mas o lance foi anulado por falta de Nacho sobre Kimmich (73′).

Thomas Tuchel refrescou a equipa a cerca de 15 minutos do fim, trocando Sané por Kim Min-jae claramente para blindar a baliza de Neuer, Carlo Ancelotti ainda lançou Joselu e Brahim Díaz, e o resultado voltou a mexer já perto do fim: Vinícius rematou, Neuer largou a bola e Joselu empurrou (88′). Logo depois, deu-se Santiago Bernabéu. Rüdiger apareceu na área num lance de insistência e cruzou para o meio, onde o mesmo Joselu surgiu a bisar e a vestir a capa de herói (90+1′), com o golo a ser inicialmente anulado por fora de jogo e posteriormente validado pelo VAR.

No fim, o Real Madrid deu a volta a um resultado que parecia perdido, venceu o Bayern Munique (2-1, 4-3) e carimbou a presença na final da Liga dos Campeões contra o Borussia Dortmund, regressando ao mais importante jogo europeu dois anos depois. Afinal, ao contrário do que os alemães tentaram, o feitiço dos maiores magos nunca se vira contra eles próprios.