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Com "Golden Montana", a notícia é: ei-lo que regressa, Alek Rein

Este artigo tem mais de 6 meses

Editou um primeiro álbum em 2016. Oito anos depois, o sucessor e o retorno a um mundo de fantasia, entre guitarras psicadélicas made in USA e as desventuras urbanas de Portugal no século XXI.

"Golden Montana" parece existir neste limbo entre a realidade e a fantasia, com Alek Rein a movimentar-se livremente neste espaço
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"Golden Montana" parece existir neste limbo entre a realidade e a fantasia, com Alek Rein a movimentar-se livremente neste espaço

FOTOS: VERA MARMELO

"Golden Montana" parece existir neste limbo entre a realidade e a fantasia, com Alek Rein a movimentar-se livremente neste espaço

FOTOS: VERA MARMELO

Ficámos surpreendidos com a resposta porque, dadas as referências a guerreiros, dragões, demónios, bruxas e outros seres fantásticos nas canções que escreve, imaginámos que Alek Rein teria todo o gosto em passar a noite deleitado com as narrativas passadas na idade média que surgem em Dungeons and Dragons. Mas Alexandre Rendeiro, dono deste heterónimo musical, não é fã.

Na realidade, o cantautor luso-americano revela-nos que nem consome assim tanto conteúdo ligado à fantasia – ainda que, em tempos, tivesse sido adept das cartas Magic: The Gathering. “Não sou aficionado por esse género, seja em séries, livro ou cinema”, começa por explicar. “Mas, por outro lado, adoro folclore. Adoro estudar as diferentes ramificações que tem em diferentes países e culturas ou as várias simbologias associadas a certas criaturas místicas”, afirma.

Esta vontade já tinha surgido em Mirror Lane, o disco de estreia de Alek Rein, editado em 2016, onde esta assinatura criada por Alexandre Rendeiro deu voz a uma alucinante aventura que misturava a ficção científica com a fantasia, enquanto os sons da folk psicadélica, com um piscar de olhos a referências dos anos 60 e 70, como Donovan ou T-Rex, serviam de pano de fundo.

Depois de uma ausência de oito anos, que o artista não se alonga a justificar – “não se deveu a nenhum fator concreto. Também não tenho um grande ímpeto de produção”, diz-nos – onde aproveitou para trabalhar noutro projeto a solo, Oriano, colaborar com Sun Blossoms (projeto musical de Alexandre Fernandes, e que neste novo disco e na banda ao vivo assume as funções de baixista) ou Filipe Sambado (que serve como produtora) e para escrever para o Jornal A Batalha, Alek Rein está de regresso com novas histórias para contar.

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[o novo álbum “Golden Montana” está disponível na íntegra através do Spotify:]

Neste disco, é relatado como a família da personagem emigrou da Alemanha, no final do séc. XIX, para o estado de Montana, nos Estados Unidos. Por lá, através de uma técnica pioneira de dry farming, criou a marca de tabaco Golden Montana. No entanto, Alek revolta-se contra este negócio familiar e torna-se um músico ambulante.

Para criar este traço de personalidade, Alexandre inspirou-se na figura do bardo, um contador de histórias profissional da idade média. “Sou fascinado por este arquétipo, desde os antigos gregos até aos trovadores medievais”, expõe. “Foram pessoas que contribuíram para a transmissão oral da cultura e que fizeram sonharem com muitas histórias”, diz.

É possível ouvir estes elementos em músicas como Spiral of Smoke, que encerra o disco. Onde, ao som da delicada voz do artista e de uma guitarra acústica dedilhada com precisão, ouvimos a história de um confronto entre um herói e um dragão.

Segundo o compositor, estas personagens servem um propósito metafórico para figuras mais reais. “Esta foi a maneira que encontrei para romantizar um encontro entre um polícia e um traficante. Quando canto ‘Such mighty scales on the fish that I’m reeling in’, é a autoridade a falar sobre o poder do criminoso”, revela.

Outra referência que surge nas suas canções é o demónio Murmur. Em Invocation of Murmur, a figura diabólica surge misturada nos canones do rock ‘n’ roll. “A música foi inspirada no filme do Ari Aster, Hereditário, onde existe um demónio chamado Paimon, que está associado a riqueza. Isto fez-me inspirar se existia alguma entidade associada à música e à inspiração. Foi assim que cheguei a Murmur”, explica.

Na letra, é descrito como Alek tentou percorrer o mesmo caminho que o lendário bluesman, Robert Johnson, para vender a sua alma (neste caso, a Murmur) num cruzamento. No entanto, sem sucesso: “I tried to mimic Johnson’s walk to the crossroads / The only thing I found was kids selling cheap drugs”, canta Rendeiro.

A apresentação das novas canções, em palco e com banda, acontece esta sexta-feira, dia 10 de maio, na ZDB, em Lisboa

FOTOS: VERA MARMELO

Mas não é só de mitos e fantasia que se fazem os versos de Golden Montana. A canção Charlene é um tributo à ativista nativa americana Charlene Teters, que protestou em diversos eventos desportivos que incluíam equipas que usavam indígenas como mascotes. “Ela foi muito corajosa e esteve em vários jogos de basquete e de basebol que se apropriam da cultura indígena. A sua valentia, a encarar centenas de milhares de adeptos, inspirou-me”, confessa.

A Guerra do Vietname também serve de cenário, em Saigon Blues, com Rendeiro a explicar que, na sua mente, lhe fazia sentido imaginar Alek Rein envolvido na recruta para este conflito armado que ainda continua a estar tão presente na realidade norte-americana. “Recentemente, na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, entraram no edifício e ergueram um estandarte a favor da Palestina, tal como tinha sido feito, em protesto em protesto â invasão no Vietname”, recordou. “É um movimento que continua nas mentes do movimento estudantil”.

Golden Montana parece existir neste limbo entre a realidade e a fantasia, com Alek Rein a movimentar-se livremente neste espaço. Mas e esta personagem? Qual é a linha que separa Alek Rein de Alexandre Rendeiro. “Não posso dizer que é inteiramente uma personagem, porque existe sempre um pouco de mim nele”, argumenta. “Tento fazer um exercício de heteronímia, que me permita ter um novo ponto de vista. Não sou tão rigoroso quanto o Fernando Pessoa – nem tão bom, isso parece-me evidente – mas este exercício ajuda-me a ir a sítios onde não iria se estivesse a assinar com o meu próprio nome”, admite.

Por enquanto, Rendeiro vai aproveitar os frutos deste novo trabalho e levar as canções de Alek Rein ao público, com a apresentação de Golden Montana marcada para esta sexta-feira, 10 de maio na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.

No entanto, o cantautor refere que num futuro próximo não irá ficar tanto tempo parado, revelando que já se encontra em estúdio a trabalhar no terceiro álbum. “Brevemente, vou dar mais novidades, mas, para já posso dizer que não vai ser a Sambado a produzir, vou trabalhar com outra pessoa e experimentar outra abordagem. Desta vez, o silêncio não vai ser tão longo”, prometeu.

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