A organização do espaço aéreo sobre Lisboa vai mudar no próximo dia 16 de maio quando entrar em operação o Point Merge System, uma nova técnica de sequenciação do movimento de aproximação dos aviões que vai responder ao aumento do tráfego aéreo sobre a região da capital portuguesa.
Desenvolvido pela NAV (Navegação Aérea) em colaboração com o Eurocontrol (organização europeia para a segurança aérea), a aplicação deste sistema vai implicar uma rearrumação do espaço aéreo com a conquista para o tráfego comercial de espaço que antes estava reservado ao uso militar da Base de Sintra e uma pequena parte da Base de Monte Real. Serão implementadas novas trajetórias para os aviões que tiverem de aterrar ou levantar do sistema aéreo de Lisboa.
Numa apresentação feita aos jornalistas, a NAV defende que esta nova gestão permite também reduzir os tempos de espera dos aviões para aterrar em Lisboa em situações de pico de tráfego que são cada vez mais frequentes, passando a situações de planalto, por causa do congestionamento do aeroporto Humberto Delgado.
Em vez das aeronaves realizarem voos circulares e repetidos para preencherem o tempo de espera enquanto aguardam as instruções da torre de controlo para aterrar, serão encaminhadas para arcos, a um nível mais elevado do espaço aéreo e mais afastado da cidade. Ficam alinhadas em pontos desse arco, a uma distância equidistante do aeroporto, a partir do qual é definida uma sequência para a aterragem até se dirigirem ao merge point (que em português pode ser traduzido como o ponto de precisão para onde convergem os aviões antes de dar início às operações finais de aterragem).
Este novo sistema terá ainda o efeito de aumentar a capacidade no espaço aéreo sobre Lisboa de um valor médio de 38 movimentos por hora (que pode chegar aos 40 em picos de procura) para 46 para voos com origem ou destino a capital. Mas para se tirar o máximo partido desta margem adicional terão de ser adotadas também medidas em terra, nomeadamente o muito anunciado projeto de otimização da operação no Humberto Delgado, a cargo da ANA.
De acordo com a NAV, este sistema será positivo para as companhias porque reduz o tempo de voo enquanto esperam por aterrar, com impacto sobretudo na fatura com o combustível, e também com efeitos positivos no ambiente porque menos tempo no ar significa menos emissões de CO2. São ainda assinalados benefícios para a população de Lisboa pela diminuição do ruído. Isto porque as atuais esperas circulares feitas à altitude de quatro mil pés (mil pés equivale a 300 metros), serão substituídas pelo posicionamento dos aviões em dois arcos situados a sete mil e oito mil pés.
Otimização, previsibilidade e precisão são três vantagens apontadas com o novo sistema que permitirá igualmente reduzir o número de comunicações entre a torre de controlo e os pilotos quando os aviões estão em espera para aterrar, na medida em que as aeronaves são conduzidas para os novos arcos de espera através de sistemas de bordo automáticos. De acordo com fonte da NAV, estas alterações terão impacto em todas as operações do sistema aeronáutico de Lisboa que tenham como partida ou destino os aeroportos comerciais de Lisboa e o aeródromo de Tires.
A modulação das trajetórias para as partidas e chegadas cobre as duas orientações possíveis da pista única do aeroporto de Lisboa — Norte/Sul e Sul/Norte que são definidas em função da direção do vento (os aviões aterram e descolam contra o vento). Este novo sistema vai potenciar novos corredores aéreos sobretudo para sair de Lisboa nas direções norte — Europa central e do norte, América do Norte — e sul —Europa do sul, África e América Latina.
O software para este sistema começou a ser modelado em 2018, tendo recorrido a simulações baseadas em dados reais. Inicialmente foi contemplado um aumento de movimentos aeronáuticos previsto com o desenvolvimento da solução Portela mais Montijo, que entretanto foi abandonada. Legalmente, o passo decisivo foi dado com uma resolução do Conselho de Ministros de 2019 na qual é aprovada a cedência de espaço aérea nas duas bases militares com vista à operacionalização deste Point Merge System. O processo envolveu uma longa negociação com a Força Aérea para viabilizar esta solução que determina a transferência para a base de Beja da escola de pilotos em Sintra.
O calendário inicial para este novo sistema era março de 2020, mas por causa da pandemia a sua implementação foi adiada. Só no final do ano passado, é que o Governo voltou a dar orientações à NAV para concluir o processo até ao final do terceiro trimestre deste ano. A escolha da data recaiu no segundo trimestre, para evitar o maior pico de procura no verão. A implementação destas alterações tem uma janela de um só dia por mês e cabe às companhias aéreas introduzirem nos sistemas de bordo das suas aeronaves as alterações, atualizando os respetivos softwares às novas regras.