Em condições normais, a última jornada do Campeonato tendo Benfica e Racing Power seria sobretudo uma preparação para a final da Taça de Portugal, que se joga no Jamor na próxima semana. No entanto, contra o que tem acontecido nos últimos anos no panorama feminino, trazia um cenário completamente em aberto a nível de título com as encarnadas a dependerem apenas de si mas o Sporting a poder ainda sonhar com o primeiro lugar na última ronda. E as contas eram fáceis de fazer: se as águias ganhassem no Seixal, eram campeãs; se não conseguissem bater a equipa da Associação de Setúbal, teriam de esperar pelo resultado das leoas, que jogavam à mesma hora fora com o Damaiense de ouvidos colados ao outro encontro.

19 vitórias em 20 jogos, 92 golos marcados, só cinco sofridos: Benfica vence em Gaia e sagra-se tricampeão nacional de futebol feminino

Nos últimos anos, com uma aposta no futebol feminino que se começou a desenhar quando a equipa estava ainda na Segunda Liga, o Benfica conseguiu criar uma hegemonia. Agora, a tentativa de chegar ao “tetra” surgia naquela que tem sido a melhor temporada das encarnadas: ganharam a final da Taça da Liga e da Supertaça frente ao Sporting (a primeira por 1-0 com golo de Chandra Davidson nos minutos finais, a segunda no desempate por grandes penalidades), estão na decisão da Taça de Portugal e conseguiram a sua melhor campanha de sempre na Liga dos Campeões, com um histórico apuramento para os quartos. Agora, o próximo desafio era somar mais um triunfo para assegurar também o quarto Campeonato seguido.

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Da parte do Sporting, as melhorias com Mariana Cabral no comando tinham esse condão de adiar tudo para a última jornada mas com esse “risco” de haver mais uma temporada sem qualquer triunfo. As duas vitórias em dérbis frente ao Benfica mostraram que as leoas encontraram um patamar bem mais competitivo sem perder a constante aposta em jogadoras mais jovens mas alguns deslizes numa fase inicial da prova tiveram um peso demasiado grande na pontuação final como as derrotas fora com Valadares Gaia e Racing Power ou o empate caseiro frente ao Damaiense. Apesar disso, ainda sobrava uma réstia de esperança.

Com meia hora de jogo no Seixal e na Damaia, tudo se mantinha sem golos mas o intervalo chegaria com a lei do mais forte a imperar. Carole Costa, numa grande penalidade que o VAR pediu à árbitra para verificar se mantinha a decisão (que manteve, assinalando uma falta sobre Andreia Faria na área), fez o 1-0 para o Benfica aos 37′ antes de Lena Pauels fazer uma defesa fantástica a um livre direto, ao passo que o Sporting materializou o domínio no período de descontos, com Fátima Dutra a aparecer isolada na área após um grande passe de Brenda Pérez para fazer o 1-0 (45+2′). Contas feitas, o título ficava nas encarnadas.

Se dúvidas ainda existissem, o arranque do segundo tempo “ameaçou” acabar de vez com qualquer emoção que ainda restasse: Chandra Davidson foi lançada na profundidade na sequência de um corte defeituoso de uma defesa, marcou na recarga a uma primeira defesa mas o golo acabaria por ser anulado após uma longa revisão no VAR (48′). E os minutos passariam com tudo na mesma até aos últimos minutos, com Lúcia Lobato a fazer o empate no Seixal na sequência de um livre lateral (84′), Joana Martins a aumentar de penálti a vantagem do Sporting na Damaia para 2-0 (85′) e Carole Costa a fazer o 2-1 que decidiu o encontro e o Campeonato em mais uma grande penalidade convertida no primeiro de dez minutos de descontos. Ou seja, e durante seis minutos, as leoas estiveram na frente da prova antes de nova vantagem das encarnadas.

Com mais uma conquista, e com uma temporada pelo meio em que o Campeonato acabou por ser anulado pela paragem da Covid-19, o Benfica passou a contar com quatro Campeonatos (2021, 2022, 2023 e 2024), uma Taça de Portugal (2019), quatro Taças da Liga (2020, 2021, 2023 e 2024) e três Supertaças (2021, 2022 e 2023), tendo ainda chegado por três ocasiões à fase de grupos da Liga dos Campeões, onde chegou pela primeira vez aos quartos da competição, sendo eliminado pelas favoritas francesas do Lyon.