Os Jogos Olímpicos são, por norma, o expoente máximo da carreira de qualquer desportista. São muitos os que trabalham mais de três anos para conseguir o tão desejado apuramento olímpico e poder representar o seu país na maior competição desportiva do planeta. Richard Carapaz não é exceção. Depois de se ter sagrado campeão olímpico na prova de fundo de ciclismo de estrada, em Tóquio, em 2021, seria de esperar ver o equatoriano defender o ouro em Paris, no verão deste ano. No entanto, tal não deverá acontecer.

A situação tem gerado bastante controvérsia no Equador. Em março deste ano, a Federação Equatoriana de Ciclismo (FEC) alterou os regulamentos internos de qualificação para os Jogos Olímpicos, mudança que aconteceu sem aviso prévio dos ciclistas e a poucos meses da competição se realizar, escreve o El Español. Agora, segundo Carapaz, as novas condições prejudicam-no e beneficiam Jhonatan Narváez, da Ineos.

O Equador precisa de uma Federação neutra e sem favoritismo. Este presidente [Santiago Rosero] demonstra, dia após dia, com as suas ações, que não representa uma Federação justa. Existem dados e estatísticas que demonstram algo diferente do que este homem menciona”, escreveu o trepador da EF Education no X (antigo Twitter). A acompanhar o texto, Carapaz partilhou quatro imagens que contariam uma frase atribuída a Rosero: “Narváez é o melhor classicómano da história da América”.

A mudança no “regulamento geral da seleção nacional de fundo” estabelece os seguintes critérios de seleção: pontos no ranking individual da UCI entre 1 de janeiro e 21 de maio de 2024; resultados em provas de um dia entre 1 de janeiro e 21 de maio de 2024; e avaliação feita pelo selecionador entre 23 e 25 de maio.

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Deste modo, segundo os dados recolhidos pelo portal Primicias, Narváez surge claramente em vantagem, já que somou, até ao momento, 1.072 pontos em 2024, ao contrário de Carapaz, que está nos 529. Olhando ao segundo ponto, o ciclista da Ineos também surge à frente do compatriota se tivermos em conta as corridas de um dia.

“Tenho uma base que é válida e a Federação deveria ter em consideração a contagem desses pontos, que o ciclista que vai aos Jogos Olímpicos deve ser aquele que contribui com mais pontos no ciclo olímpico. É algo que conquistamos na estrada, não deve ser decidido por uma pessoa. Não digo isso por capricho ou porque sou o atual campeão olímpico. Contribuí com quase 50% dos pontos do país no ranking da UCI”, respondeu Carapaz em declarações ao Primicias.

A discussão ganha ainda mais contornos polémicos se tivermos em conta que, para Paris-2024, o Equador tem direito a apenas uma vaga, que é atribuída através do ranking da União Ciclista Internacional (UCI), ao contrário do que aconteceu em 2021, quando o país esteve representado por Carapaz e Narváez. Deste modo, a FEC solicitou uma vaga extra à UCI, pedido que deverá ser recusado. O nome final será conhecido no próximo dia 24 de maio.

[Já saiu o primeiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui.]

Governo do Equador fala em “episódio triste” para o país

O caso tem feito correr muita tinta no Equador nos últimos dias, levando inclusivamente a uma tomada de posição de Andrés Guschmer, ministro do Desporto equatoriano. Na rede social X, Guschmer escreveu que o seu ministério “solicitou à FEC um relatório completo que indique e explique, com a maior precisão possível, os critério de pontuação e o sistema de qualificação”, pedindo um “processo honesto, justo e transparente”.

“Como a maioria dos equatorianos e os estrangeiros amantes de ciclismo, estamos entusiasmados por voltar a ter Richard [Carapaz] a lutar por uma nova medalha. Não o ter presente seria um episódio muito triste, não só para o Equador, mas também para o ciclismo mundial”, acrescentou o ministro.