Ainda havia um Manchester City-West Ham e um Arsenal-Everton no final da Premier League mas não havia outra forma de olhar para o dramático epílogo do Campeonato inglês que não fosse à luz de duas decisões. Na primeira decisão, este domingo, o Arsenal cumpriu a sua missão e ganhou ao moribundo Manchester United a quem tudo acontece. Agora, era a vez de o Manchester City dizer de sua justiça. E por mais que os últimos encontros na competição em casa possam sempre abrir espaço a eventuais surpresas, era em Londres frente ao Tottenham que estavam as decisões do título… e com os próprios adeptos divididos na preferência.

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Alguns, aqueles que queriam ver premiada a temporada de estreia de Ange Postecoglou, não pensavam num outro cenário que não fosse uma vitória que permitisse pressionar o Aston Villa na última ronda pelo quarto lugar. Outros, aqueles que olham mais para rivalidades do que para o próprio bem, não se importavam de perder tendo em conta que esse resultado poderia mais uma vez retirar o título ao vizinho Arsenal.

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“Adeptos que querem perder? O que é que isso significa, qual é a percentagem? 50%, 20%, 1%? As pessoas podem sentir aquilo que quiserem mas é importante que este clube não procure atalhos para chegar onde quer chegar mas sim trabalho, resiliência e qualidade. Temos de saber o que é o verdadeiro sucesso e isso são os troféus. Tudo o resto, como motivos de gabarolice, isso é absolutamente insignificante para mim. Temos um jogo que queremos vencer e nunca entenderei adeptos que queiram que a sua equipa perca. O desporto não se resume a isso, não há nada que goste mais do que de competitividade”, apontou o técnico australiano, dando o mote para 90 minutos que poderiam decidir tudo numa Premier League de 38 jogos.

“A mentalidade é fácil de descrever: se não vencermos, não ganhamos a Premier League. A tensão e o foco certos têm de estar presentes. Se jogarmos estes jogos de forma relaxada, é um grande problema até porque eles vão jogar ainda pela qualificação para a Liga dos Campeões. É algo enorme para eles e nós também temos um enorme objetivo. Já jogámos muito bem muitas vezes mas não fomos capazes de marcar e ganhar os jogos. É a altura certa para fazê-lo. Caso contrário, é o Arsenal que vai ser campeão”, referira Pep Guardiola. Era altura de ser pragmático e foi assim que o Manchester City segurou os três pontos que podem ser determinantes nas decisões finais para o tetracampeonato e o sexto título… em sete temporadas.

A primeira parte mostrou as dificuldades acrescidas que o Manchester City iria enfrentar nesta deslocação a Londres. Phil Foden ainda teve uma oportunidade flagrante aos 16′, com Guglielmo Vicario a fazer uma defesa fabulosa com uma mão quando o avançado inglês estava sozinho, mas até essa situação nasceu mais por demérito dos spurs (neste caso com um erro individual de Höjbjerg) do que por mérito dos citizens, que só mesmo quando conseguiam sair em transições criavam sensação de perigo no último terço de campo onde depois ficava a faltar o último passe para finalização. Mesmo quando havia remates na área, aparecia sempre alguém, como aconteceu em cima do minuto 45 quando Haaland rematou contra Van de Ven e Dragusin fez um corte milagroso de cabeça para canto na segunda bola de Bernardo Silva que ia para a baliza.

Algo teria de mudar no segundo tempo e Kevin de Bruyne deu o mote logo a abrir, com um remate para nova intervenção fantástica de Vicario. Parecia que nada nem ninguém conseguiriam bater o guarda-redes italiano mas Haaland, o suspeito do costume que até aí passara ao lado do jogo, apareceu para fazer a diferença na pequena área depois de uma assistência de De Bruyne após passe na desmarcação de Bernardo Silva (51′).

Foi aí que entrou a tal veia pragmática no encontro. Ao contrário do que é normal, o Manchester City não carregou no plano ofensivo para fechar o encontro mas tentou arriscar o controlo do jogo entre um susto enorme de Kulusevski, que surgiu sozinho na área para um remate travado por Stefan Ortega, que entretanto rendera o lesionado Ederson (70′), num cenário que se voltou a repetir mais tarde num erro de Rúben Dias (80′) e num lance em que Son apareceu lançado de trás e isolado depois de mais uma perda de bola proibida de Akanji para mais uma defesa enorme do guarda-redes alemão (86′). Os adeptos dos citizens faziam a festa de forma muito sofrida mas alguns adeptos do Tottenham também não saíam muito tristes do estádio antes de Erling Haaland, depois de um penálti de Pedro Porro sobre Doku, fazer o 2-0 decisivo aos 90+1′.