A provedora em gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa revelou no Parlamento que na primeira reunião com a ministra da Segurança Social, a 12 de abril, foi questionada sobre quantos despedimentos a mesa planeava fazer. Ana Jorge diz que essa pergunta — à qual respondeu “nenhum” — lhe transpareceu a intenção de o Executivo avançar com despedimentos na instituição, mas essa alegação foi contestada pelo grupo parlamentar do PSD, que sugeriu que Rosário Palma Ramalho estaria, com a pergunta, a expressar “preocupação”.

Ana Jorge foi chamada ao Parlamento devido à situação financeira da Santa Casa e à sua polémica exoneração que foi justificada pelo Governo, em parte, com a “não prestação de informações essenciais ao exercício da tutela” ou com “atuações gravemente negligentes”. A provedora exonerada reconheceu que a Santa Casa não tinha um plano de reestruturação propriamente dito, com objetivos e metas, mas na reunião de 12 de abril assegurou à nova ministra que estavam em andamento medidas para garantir a sustentabilidade financeira que começaram a ser tomadas em junho.

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É nessa altura que, segundo Ana Jorge, foi questionada por Rosário Palma Ramalho e o respetivo chefe de gabinete sobre quantos trabalhadores “vai despedir”. “Eu disse nenhum”, conta Ana Jorge. E diz que foi dito que uma reestruturação iria suspender a aplicação do acordo de empresa que tinha acabado de ser renegociado.

A audição subiu de tom por breves instantes quando Ana Jorge reiterou que ficou com a ideia de que haveria pela parte do novo Governo uma intenção de fazer despedimentos devido à pergunta que lhe foi feita. “Foi uma conclusão pessoal”, disse. A deputada do PSD Carla Barros contestou, sublinhando que essa era uma conclusão pessoal.

Ana Jorge pediu-lhe que a deixasse terminar a intervenção. “A pergunta [da ministra] foi quantos pensam despedir porque é evidente o peso com os recursos humanos (…). Quando perguntaram quantos despedimentos, eu pensei, e foi a minha interpretação, de que para haver reestruturação como as que se fazem nas empresas pressupõem-se despedimentos”.

A deputada Carla Barros interrompeu questionando porque é que entendeu a pergunta como uma intenção e não uma “preocupação” expressada pela ministra. O grupo parlamentar do Chega viria depois a pedir que não houvesse diálogos apenas entre dois partidos (PS e PSD) e a provedora, uma vez que Ana Jorge já estava na intervenção final (já tinha passado o período das perguntas).

Já sobre os cargos de dirigentes, Ana Jorge reconhece que é preciso reestruturar e mostrou-se disponível a Rosário Palma Ramalho para continuar esse processo porque “não é funcional com tantos dirigentes”. O problema não é só o custo, mas o facto de ser uma “casa muito repartida” o que leva a ineficiências.

Nesta questão há, também, uma divergência entre a tutela e a mesa exonerada, já que a vice-provedora demissionária, no Parlamento, contradisse a ministra da Segurança Social, em entrevista à RTP na semana passada, sobre o número de cargos de dirigentes que foram eliminados (Palma Ramalho falou em 19, Ana Vitória Azevedo em 40, Ana Jorge fala em 42).

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Ana Jorge também referiu que quando a ministra perguntou sobre os despedimentos, a então provedora referiu que há muitos profissionais da Santa Casa que querem pedir reformas antecipadas porque sentem que “já não são produtivos”, o que “do nosso ponto de vista seria ótimo”, tendo em conta cálculos feitos sobre o peso que estes trabalhadores têm nos custos com pessoal.

São trabalhadores que “não são muito eficientes” e têm o direito à reforma antecipada, sendo que o processo “tem de ser feito de forma pensada” para não comprometer a prestação de cuidados. Rosário Palma Ramalho terá respondido, segundo Ana Jorge, que essa estratégia de reduzir custos com as reformas antecipadas “não é uma solução”.

A ministra Rosário Palma Ramalho terá oportunidade para responder às declarações de Ana Jorge na audição parlamentar desta quinta-feira, onde será ouvida sobre a situação na Santa Casa.

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