Os últimos anos do Barcelona revelaram uma mudança substancial da estratégia do clube, muito por conta da grave crise financeira em que os catalães se envolveram. Longe vão os tempos em que nomes como Messi, Neymar, Suárez, Xavi ou Iniesta vestiam a camisola blaugrana e conquistavam (quase) todos os troféus possíveis.
Joan Laporta foi eleito o 42.º presidente do clube em março de 2021, numas eleições marcadas pela pandemia da Covid-19, em que terminou à frente de Víctor Font, nome por muitos desconhecido, mas que se encontra na antecâmara do poder do clube catalão há vários anos. Font fez parte de uma lista candidata em 2010, em maio de 2015 apresentou o seu projeto para o Barcelona e, em 2018, anunciou que seria candidato três anos mais tarde.
Regressando a 2024, Víctor Font, que tem 51 anos e é empresário, é uma das principais vozes da oposição no clube e, claro está, não tem poupado nas críticas a Laporta. Nos últimos tempos, Font marcou uma conferência de imprensa para “expor todas as verdades que o clube não conta” mas, um mês antes desse encontro com os jornalista, deu uma entrevista à Catalunya Ràdio em que abordou o estado de saúde do Barcelona.
“Em três anos perdemos mil milhões de euros. A instituição vive uma confusão total. Não estou preocupado em não ganhar títulos, mas sim com o caos institucional. O Barça continua a ser um comboio que vai a 300 quilómetros por hora contra o muro. Estamos muito piores do que há três anos”, começou por dizer o antigo candidato à presidência dos catalães.
Quanto à atual situação financeira do clube, Font considera que a direção “não diz a verdade” e está envolva numa série de declarações “falsas”. “O clube está sem um plano de viabilidade há três anos”, garantiu. O empresário aproveitou ainda para falar sobre o Real Madrid, garantindo que o Barcelona podia competir com o rival “se as coisas fossem bem feitas”.
No clube estão apenas amigos e familiares do Laporta. Quem toma as principais decisões é o ex-cunhado de Laporta, que não tem posição, mas está em todas as decisões, Deco, amigo do ex-cunhado, Yuste, uma boa pessoa, e Laporta, que pode amar o clube tanto quanto quiser, mas não é competente. O Laporta de antes sabia liderar, tinha Cruyff e Txiki como conselheiros… não tem nada a ver com o de agora”, acrescentou Víctor Font.
Questionado sobre uma eventual moção de censura à liderança de Laporta, Font assegurou que não tenciona partir para essa via, já que “as pessoas devem poder trabalhar” e “a estabilidade no clube é fundamental”. “Se houver crimes ou corrupção é outra coisa, estás a ultrapassar os limites, como aconteceu com Bartomeu”, recordou.
Por fim, Víctor Font pediu à direção para explicar a saída de Vitor Roque, que foi contratado em janeiro, afirmou que os recentes acontecimentos que envolveram o treinador Xavi Hernández – anunciou que ia sair no final da temporada para, recentemente, assegurar a continuidade – demonstram a “falta de estrutura” no Barcelona e sublinhou que, se as eleições fossem amanhã, “de certeza que concorreria”. Para já, deixou apenas uma garantia: “Não sei o que vai acontecer daqui a dois anos [ano de novas eleições], mas não vou parar de trabalhar”.