O Bolonha está de regresso à Liga dos Campeões 60 anos depois, devido a uma temporada de sonho que coloca, por esta altura, a equipa de Thiago Motta na quarta posição da Serie A. Porém, um dos grandes protagonistas deste autêntico milagre desportivo não é o treinador nem os jogadores. É Giovanni Sartori.
Depois de ter realizado dois trabalhos de destaque como diretor desportivo do Chievo Verona e da Atalanta, o agora diretor do Bolonha tem os adeptos aos seus pés. Conhecido por ser um dirigente que fala pouco e não gosta de comparecer perante a imprensa, a sua principal fonte de trabalho é observar os jogadores ao vivo, contrariando a evolução tecnológica dos últimos anos. Numa entrevista dada nos últimos meses, citada pelo Sport, Sartori afirmou que “assiste ao vivo a 90 jogos por ano” e garantiu que não tem o WhatsApp instalado no seu telemóvel.
Pode parecer antiquado e, em certo, ultrapassado pelos companheiros de profissão e pela tecnologia em si, mas o diretor do Bolonha é capaz de entender e colocar em prática os conceitos do futebol moderno, e de levar as suas equipas a alcançarem resultados históricos… como se tem visto no seu percurso.
Sartori ingressou no mundo do futebol como jogador, chegando ao futebol profissional através do AC Milan, na temporada 1974/75. Apesar do início galvanizador, a sua carreira enquanto jogador centrou-se na Serie B e C do futebol italiano. Retirou-se em 1989, depois de cinco anos ao serviço do Chievo Verona. Já como treinador adjunto continuou no emblema do norte de Itália, até 1991.
A partir desse ano embarcou numa nova função, tornando-se diretor desportivo e autor do “milagre de Chievo”. Quando assumiu a nova posição, o Chievo Verona encontrava-se na Serie C – o equivalente da terceira divisão. Mas, no início do século XXI, a equipa subiu pela primeira vez na sua história ao principal escalão do futebol italiano. Na estreia, em 2001/02, o objetivo passava pela manutenção, mas tudo mudou rapidamente.
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Com Luigi del Neri (o célebre técnico que assinou pelo FC Porto em 2004 mas não durou mais do que 27 dias no Dragão…) a comandar a equipa a partir do banco de suplentes, a surpresa desceu do norte de Itália e alargou-se a todo o país. Afinal, a equipa que se estreava na Serie A conseguira apurar-se para a Taça UEFA, terminando o Campeonato na quinta posição. O registo não viria a ser replicado mas o Chievo Verona continuou a realizar temporadas tranquilas, bem acima dos lugares de despromoção.
Em 2014, Sartori abandonou o clube e rumou à Atalanta. Ali a história foi diferente… apenas no início. No primeiro ano a equipa esteve grande parte da temporada em risco de despromoção, terminando no 17.º lugar a apenas três pontos da zona proibida. A partir daí, o cenário inverteu-se, o clube de Bérgamo deixou de lutar pela manutenção e cimentou-se nos lugares europeus.
Em 2016/17, no primeiro ano de Gian Piero Gasperini, os orobici terminaram na quarta posição e regressaram às competições europeias 26 anos depois da última presença. Duas temporadas depois apareceu… a Liga dos Campeões. No primeiro ano, a Atalanta chegou aos quartos de final, acabando, no ano seguinte, nos oitavos de final.
No verão de 2022, Sartori aterrou em Bolonha e os objetivos dos rossoblu deixaram de se centrar na metade inferior da tabela classificativa. No primeiro ano, o Bolonha terminou no nono lugar e esteve perto dos lugares europeus. Porém, esta época, a Liga dos Campeões apareceu mesmo, cenário que parecia impossível no verão.
Thiago Motta, que tinha assumido o cargo poucos meses antes, caracterizou a sua equipa como “pouco competitiva para a Serie A”. Recebeu três internacionais como reforços – Beukema, Karlsson e Odgaard – que foram importantes ao longo da época. Se o futuro do antigo internacional italiano no banco do Bolonha parece incerto, o de Sartori, o verdadeiro herói de bastidores, é bastante animador.