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A ameaça dos asteróides "é bem real", mas pode ficar escondida pelo brilho de milhares de satélites no céu

Este artigo tem mais de 6 meses

Os enxames de satélites em órbita são um obstáculo para os cientistas que procuram sinais de asteróides perigosos. Mas a corrida aos satélites não tem fim à vista. Só a Space X quer chegar aos 42 mil.

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ESO/M. Kornmesser

ESO/M. Kornmesser

A aproximação de um asteróide de dimensões assustadoras da rota terrestre tem servido de inspiração para inúmeros filmes de Hollywood. E se, até agora, o pior dos cenários era não existir uma estratégia de defesa espacial eficaz — razão que levou a NASA a lançar uma nave de 300 milhões de dólares contra a lua de um asteróide –, há outra preocupação que começa a afligir os cientistas. E se os milhares de satélites na órbita baixa da Terra, mais de metade dos quais propriedade da Starlink de Elon Musk, ofuscarem a aproximação de asteróides, de menores ou maiores dimensões, que possam ser perigosos para a humanidade?

A ameaça dos asteróides “é bem real”, sublinha o astrofísico espanhol Josep Maria Trigo Rodriguez em declarações ao Observador. A ameaça é há muito conhecida pela comunidade científica, que investiga os céus em busca de sinais de perigo, uma tarefa que está agora a ser dificultada pelo enxame de satélites que brilha nos céus e que os cientistas têm vindo a alertar que pode prejudicar algumas observações astronómicas. É particularmente um problema para os telescópios que captam imagens de longa exposição, sendo os satélites na órbita baixa da Terra os que mais prejudicam os seus esforços.

“Infelizmente, a presença contínua dos rastos [de satélites] nas imagens condiciona a profundidade destas imagens, ao afetar a exposição longa, e por isso escapam-nos potenciais objetos de impacto“, diz o cientista do Instituto de Ciências Espaciais (CSIC/IEEC), em Barcelona. As suas palavras são um eco do aviso da União Astronómica Internacional (UAI), que este ano publicou um relatório em que pede medidas contra a proliferação descontrolada de satélites na órbita baixa da Terra por, entre outros perigos, prejudicar a deteção de “objetos potencialmente perigosos desconhecidos.”

A questão é particularmente sensível dado o curto intervalo de tempo entre o momento da deteção de um asteróide e o seu impacto. “Temos de ter em conta que a maioria desses pequenos asteróides são potencialmente observáveis por alguns dias ou até horas, apenas quando estão muito próximos da Terra”, refere. Basta lembrar o episódio de janeiro deste ano que produziu uma bola de fogo impressionante nos céus a 50 quilómetros de Berlim. O asteróide só foi detetado três horas antes de atingir a atmosfera do nosso planeta. Foi apenas o oitavo a ser avistado antes do impacto.

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Quantos satélites são demais? “Esse número já foi ultrapassado”

O número de satélites ativos em órbita praticamente quintuplicou em apenas cinco anos e o brilho de alguns ofusca a maioria das estrelas que poderíamos ver. Esse esforço foi, em grande medida, impulsionado pela rede Starlink da Space X, cujo objetivo é garantir cobertura de Internet e de rede móvel.

Em 2019, a empresa lançou a sua primeira frota de 60 satélites de comunicação e um ano depois era alargada em cerca de 800. Hoje são mais de 6 mil, com o empresário Elon Musk a admitir que planeia chegar aos 42 mil nos próximos anos. Até lá são várias as entidades que também querem alcançar a órbita baixa da Terra. É o caso da Amazon, que com o Projeto Kuiper quer fornecer um serviço de Internet com mais de 3 mil satélites para competir com o Starlink.

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Este ano a SpaceX lançou 22 satélites a bordo do Falcon 9 para a órbita baixa da Terra

Getty Images

Um balanço recente da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), agência norte-americana que regula as telecomunicações, dá conta desta explosão de interesse. Já foram submetidas candidaturas para o lançamento de mais de 50 mil satélites, segundo revelou a presidente do organismo, Jessica Rosenworcel. Mas quantos satélites são demais? “Esse número já foi ultrapassado”, considera o astrofísico Josep Maria Trigo Rodriguez.

Esta convicção já está a levar algumas associações de astrónomos a partir para os tribunais. Foi o caso da International Dark Sky, que recorreu pela primeira vez de uma decisão do FCC para conceder à Space X licenças para lançar a sua segunda geração de satélites Starlink sem antes fazer uma avaliação real do seu impacto. “Com planos para lançar e manter dezenas de constelações de satélites, com mais de 100 mil satélites a orbitar a qualquer momento, é fundamental que as agências federais responsáveis por tomar decisões sobre o futuro do céu noturno – um elemento essencial do ambiente humano – sigam as leis”, sublinhavam.

O satélite BlueWalker 3, da empresa norte-americana AST Space Mobile, é um dos objetos mais brilhantes no espaço

Para o astrofísico Josep Maria Trigo Rodriguez, o problema em torno dos satélites traz à memória episódios como o da queda de um asteróide na região russa de Tunguska, em 1908. Os relatos da época dizem que “uma bola de fogo entre os 50 e os 100 metros” atingiu o solo e incinerou cerca de 3 mil quilómetros quadrados de floresta.

“Para evitar este tipo de eventos perigosos, estamos focados em descobrir a maioria dos asteróides desta gama de tamanhos (algumas dezenas de metros), e as análises com telescópicos estão a fazer um grande trabalho até agora”, refere, acrescentando que vai ser necessário encontrar formas de lidar com o problema colocado pela presença de cada vez mais satélites.

O brilho de cada satélite da rede Starlink já é dez vezes superior ao que a comunidade de astronomia considera ser desejável. Multiplicá-lo por 42 mil é, por isso, visto como preocupante por alguns astrónomos. Confrontada com estes receios, a Space X tem procurado, em colaboração com astrónomos, contornar o problema, mas sem grande sucesso.

Primeiro, a empresa tentou pintar os satélites com uma cor escura. O objetivo de reduzir o seu brilho foi alcançado, mas não foi o suficiente e provocou um superaquecimento do satélite. Também tentaram reduzir o brilho ao aplicar um revestimento anti-reflexo e viseiras com novos modelos (DarkSat e VisorSat). Até agora, nada disso foi suficiente para apaziguar os receios dos cientistas.

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