Um terço das refeições diárias dos portugueses vai para o lixo, revelou esta quinta-feira à Lusa a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome do Porto, Bárbara Barros, que pediu solidariedade, também, em nome da sustentabilidade do planeta.

Em entrevista à Lusa, no âmbito dos 30 anos de atividade da delegação do Porto do Banco Alimentar (BA), Bárbara Barros colocou o acento tónico na necessidade de evitar o desperdício alimentar e na consciência de fazer chegar os alimentos a quem mais precisar.

“Isto tem de existir nas nossas casas. Um terço do prato que todos os portugueses comem vai para o lixo, isto é uma coisa que tem de ser muito bem pensada, formada e educada. Se conseguirmos que esses alimentos não sejam descartados, mas sim encaminhados para quem precisa, [torna-se] num trajeto solidário, de sustentabilidade do planeta, é uma cadeia que deve ser mantida”, disse a responsável, ligada ao Banco Alimentar desde 2010 e presidente desde 2023.

E prosseguiu: “a proximidade que as instituições que apoiamos mantêm com as famílias é fundamental. Aquilo que doamos é aquilo que temos na lista quando vamos às compras, e quando surgem fatores externos como a guerra percebe-se a dificuldade em receber determinados produtos, como os cereais, o óleo e o azeite”.

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A título de exemplo dessa ampliação conjuntural do esforço em reunir alimentos, Bárbara Barros relatou que no “último mês tiveram grande dificuldade em encontrar peixe enlatado para doar e a solução foi ir junto da indústria agroalimentar e cada um deles deu o que podia, e resolveu-se o problema”.

Segundo a responsável, o Banco Alimentar do Porto apoia mensalmente, nos 18 concelhos do distrito do Porto, 300 instituições parceiras, assim chegando a cerca de 48 mil pessoas e mais 10 mil através de um projeto europeu.

Enfatizando que a “adaptação ao evoluir dos tempos foi fundamental” no percurso de três décadas do Banco Alimentar do Porto, a presidente recuou aos anos da pandemia da covid-19 para relatar um momento de “grande transformação” na instituição logo após todos terem sido obrigados a confinar.

“Assim que se desconfinou as pessoas vieram em massa trabalhar connosco, criando uma rede de amigos e familiares que nos trazia os bens. E assim foi possível fazer o que acontecia numa campanha normal. Foi uma evolução gigante, das maiores que aconteceu nos 30 anos da organização”, disse sem disfarçar o orgulho pela dinâmica criada.

Ainda sobre a gestão dos alimentos, Bárbara Barros alertou para o facto da logística do Banco Alimentar “não permitir que se consiga dar sempre peixe e carne”, optando por “dar essa proteína em versão enlatada, com prazo de validade maior, para que as famílias as consigam conservar”.

“Não nos podemos esquecer que este apoio é dado a pessoas que não têm frigorífico e que aquilo que vão receber é quase para consumo imediato”, acrescentou.

Parte fundamental da operação são os voluntários, descrevendo Bárbara Barros que se dividem entre “estudantes, pessoas mais velhas com disponibilidade de tempo, outras mais jovens e já com essa disponibilidade”, num esforço onde há “cada vez mais voluntariado empresarial, mas também voluntariado de capacitação de trabalho, dentro de áreas específicas, além de muitos que se coordenam ao nível do trabalho para colaborar semanal ou quinzenalmente, esses na faixa dos 40 anos”.

Os voluntários nunca chegam porque o processo é dinâmico. O número quase que muda de semana para semana. Daí o apelo para que mais gente se junte, pois quantos mais houver, mais atividades se desenvolvem”, respondeu quando questionada se há pessoal suficiente todos os dias.

No Porto, “queremos ter diariamente 20 voluntários a trabalhar no apoio e outros 10, em casa, no apoio ‘online’. É um número que temos algumas vezes, mas que se pudesse tornar-se permanente seria excelente”, disse.

Para o futuro, Bárbara Barros deseja “que as coisas corram melhor”, lembrou que o Banco Alimentar do Porto “é de todos e para todos”, e insistiu que, “mantendo-se a necessidade de apoiar, não se deve deitar alimentos para o lixo sem os garantir onde eles fazem falta”.