Artigo atualizado domingo, dia 19, com as informações do Instituto de Astrofísica de Andaluzia (IAA-CSIC)
O enorme clarão que iluminou o céu de quase todo o país nos últimos minutos deste sábado foi um meteoroide. A rocha espacial que coloriu de azul e verde o céu de Portugal e Espanha libertou-se de um cometa, incendiou-se ao entrar na atmosfera a uma velocidade de cerca de 161 mil quilómetros por hora a uma altitude de 122 quilómetros perto de Badajoz, percorreu depois cerca de 500 quilómetros num percurso para noroeste cruzando o nosso país e extinguiu-se a 54 quilómetros de altura, sobre o Atlântico, já acima do Porto. Neste longo trajecto rompeu-se em vários fragmentos, que tornaram esta bola de fogo ainda mais brilhante, mas nenhum deles caiu no solo.
A informação é do Instituto de Astrofísica de Andaluzia (IAA-CSIC), que centraliza as informações dos detetores de várias estações do projeto SMART em Espanha (Huelva, Toledo, Granada ou Sevilha, por exemplo) e também Portugal. O SMART monitoriza continuamente a atmosfera para observar e analisar o impacto de possíveis objetos do Sistema Solar contra o nosso Planeta. Foi tornada pública esta manhã e coloca assim de parte a possível queda de qualquer fragmento da rocha em Castro Daire, como chegou a ser admitido pela Proteção Civil, que emitiu um alerta (pouco habitual) para a queda de um meteorito na região de Pinheiro, Castro Daire, Viseu, já na madrugada de domingo, retirando esse mesmo alerta uma hora depois.
Não sei quantas vezes a ANEPC abriu uma ocorrência de queda de meteorito, mas Castro Daire está no mapa hoje! ☄️ pic.twitter.com/yBMAU8L6iW
— Hugo Lopes (@hugomvlopes) May 18, 2024
Os avistamentos começaram dez minutos antes da meia noite e Proteção Civil abriu uma ocorrência para “queda de meteorito” na zona de Castro Daire. Mas depois desmobilizou os meios de socorro na zona. “Pelo menos agora durante a noite não foi encontrado nada”, adiantou à Lusa fonte do Comando Sub-regional de Viseu Dão Lafões por volta das 2h45.
Seis veículos auxiliados por 20 operacionais, da GNR e dos bombeiros de Castro Daire, estiveram na zona de Pereira e da serra de Montemuro. Por volta da 1h20, a mesma fonte disse à Lusa que “houve efetivamente um alerta de possível queda de meteorito” e que, “uma vez que as pessoas referiram que viram um clarão numa zona de antenas”, as equipas patrulharam também “parques eólicos ali ao redor”.
Especialista de Instituto da Andaluzia afasta queda de fragmentos
Na manhã deste domingo, o Instituto de Astrofísica de Andaluzia explicava cientificamente o fenómeno e garantia que não tinha havido queda de fragmentos. O evento foi analisado pelo responsável pelo projeto SMART daquele instituto, o astrofísico José María Madiedo, que avançou vários detalhes: a rocha espacial chegou à atmosfera terrestre à tal velocidade impressionante de 61 mil quilómetros por hora (45 km por segundo); tinha uma trajetória quase paralela e rasante com a Terra (apenas 10 graus de inclinação); veio de um cometa; e tratou-se de um meteoroide.
Mais. O astrofísico acrescentou que ao impactar com a atmosfera bruscamente e a tão grande velocidade, o meteoroide se tornou então incandescente, o que produziu a bola de fogo brilhante que foi avistada no céu. A rocha espacial entrou na atmosfera em Don Benito (perto de Badajoz), a cerca de 122 km de altitude, e depois fez um percurso para noroeste de 500 km cruzando Portugal, onde se “apagou” já sobre o Oceano Atlântico, a 54k de altura, para lá do Porto.
Ao longo deste trajeto, em que foram muitos os avistamentos, mesmo à distância (vão desde Madrid, a Jaen e Sevilha — em Espanha —, passando por Coruche, Santarém, Lisboa, Viseu, Porto e Braga — em Portugal), o meteoroide sofreu várias explosões. Essas explosões acontecem à medida que a rocha se vai partindo em vários fragmentos, normalmente pequenos detritos, o que, quando acontece, aumenta a sua luminosidade. Nenhum desses fragmentos, garante o Instituto de Astrofísica de Andaluzia, chegou ao solo. Daí que qualquer indício de queda em Castro Daire e respetivas buscas tenham sido em vão, apesar do alerta da Proteção Civil.
Pouco antes da meia-noite, começaram a surgir relatos nas redes sociais do clarão avistado em vários pontos do território nacional. E muitas imagens circularam nas redes sociais.
???? ÚLTIMA HORA
— Márcio Santos - Meteorologia e Ambiente (@MeteoTrasMontPT) May 18, 2024
Enorme clarão nos céus nacionais há instantes!
Possível bólide! ☄️
Também viu? pic.twitter.com/eoeyUrslvC
Espectacular bola de fuego anoche sobre #España y #Portugal
— Tutiempo (@tiempobrasero) May 19, 2024
Fue producida por una roca procedente de un cometa. La roca entró en la atmósfera a 161.000 km/h según los datos de @jmmadiedo
Si hubiera quedado algún fragmento sería un #meteorito
pic.twitter.com/0uJmEdOQ8O
Meteorito?????? https://t.co/tKWP4EvjkI pic.twitter.com/zkVAvSUT0j
— kiko ⚡ (@_kiko92_) May 18, 2024
Porto ☄️ pic.twitter.com/TZuYuIgkSf
— Márcio Santos - Meteorologia e Ambiente (@MeteoTrasMontPT) May 18, 2024
☄️????
— Márcio Santos - Meteorologia e Ambiente (@MeteoTrasMontPT) May 18, 2024
Noite memorável em ???????? pic.twitter.com/v6Kf5Dkep5
Clarão em Vila Real! ☄️???? pic.twitter.com/M3AO6Rq9eI
— Márcio Santos - Meteorologia e Ambiente (@MeteoTrasMontPT) May 18, 2024
tomem lá imagens do cometa/meteoro pic.twitter.com/6wqljMqiLF
— ???????????????????? ???????? (@rvbzzx) May 18, 2024
Just incredible! Another view of the meteor/fireball in Portugal. What a belter!!! ☄️????pic.twitter.com/dlDSZwKTAN
— Volcaholic ???? (@volcaholic1) May 18, 2024
Tires, Cascais ☄️ pic.twitter.com/SK5jrFJ2Hw
— Márcio Santos - Meteorologia e Ambiente (@MeteoTrasMontPT) May 19, 2024
Ficou de dia em Portugal, cometa ???? pic.twitter.com/toYwA3T31R
— Dre (@FCPDre) May 18, 2024
????AGORA: Bola de fogo cruza o céu de Portugal, provoca clarão e surpreende moradores na noite de sábado (18). Moradores relatam ter ouvido barulho de explosão https://t.co/C2CzdyiN0v pic.twitter.com/h1nbR2jrIk
— Astronomiaum (@Astronomiaum) May 18, 2024
Os meteoroides podem variar de tamanho, desde serem quase insignificantes — micrometeoroides ou poeira espacial —, a terem quase um metro de largura. Esse é um dado sobre o qual ainda não existe informação. Na sua maioria são fragmentos de cometas ou asteroides, mas podem também ser detritos de impactos desses corpos com planetas. Neste caso, já se sabe que era uma pedra de um cometa.
Em qualquer caso, quando um meteoroide (ou um asteroide) entra na atmosfera da Terra a uma velocidade superior a 72 mil quilómetros por hora (e no caso deste sábado estamos a falar quase do dobro), o aquecimento aerodinâmico no contacto com o ar produz um raio de luz, porque a pedra fica incandescente porque explode e porque deixa à passagem um rastro de partículas brilhantes. Nesta fase já se pode chamar meteoro ou, como muitas vezes as conhecemos, “estrelas cadentes”. Os meteoros são visíveis quando estão a cerca de 100 km acima do nível do mar.
Meteoro é o que se se chama à luz brilhante do pedaço de rocha que se desprende do cometa e se incendeia ao entrar na nossa atmosfera, as estrelas cadentes. E os meteoritos são já o que resta dessa rocha depois de atravessar a atmosfera e cair na Terra.
Esses pedaços da rocha, que caem sobre a Terra (25 milhões de meteoroides, micrometeoroides e outros detritos espaciais caem todos os dias), normalmente são bastante pequenos, mas há rochas de maiores dimensões que caem sobre zonas habitadas ou sobre estruturas, causando danos. O que não foi o caso.
El meteorito que ha sobrevalorado España, tomado esta noche por una cámara de Sevilla. pic.twitter.com/3szNM8e8Go
— José Miguel ???? (@gacob0) May 18, 2024
Estoy asimilándolo todavía, en Galicia parecía que se podía tocar #meteorito pic.twitter.com/8K1Hd16mvB
— aan (@rvgzan_) May 18, 2024
Impresionante visto desde la sierra oeste de Madrid #meteorito pic.twitter.com/bNKRjimLzT
— MNGLS (@Marina_lobo36) May 18, 2024
Estes não são fenómenos raros. As conhecidas chuvas de estrelas são exatamente isso, detritos de meteoros que entram na atmosfera terrestre em grande velocidade, devido à interação de um cometa com a Terra, em que rochas desse cometa se desprendem da sua órbita, ou, ao contrário, quando é a Terra a cruzar essa órbita.
No caso deste sábado ter-se-á tratado seguramente de uma rocha de alguma dimensão, que entrou a uma enorme velocidade e passou a uma altitude muito baixa. Um bólide, como é conhecido. Este tipo de caso já é fenómeno mais raro: tornam-se extremamente brilhantes, são sempre menos habituais e de uma beleza extraordinária. E há sempre um perigo relativo.
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