Era difícil olhar para a final da Liga dos Campeões de outra maneira. De um lado, estava um todo-poderoso à procura de um estrondoso 15.º troféu. Do outro, estava uma surpresa à procura de um dos melhores dias da própria história. Real Madrid e Borussia Dortmund enfrentavam-se em Wembley, em Londres, numa final que poucos poderiam antecipar no início da competição.

E ainda que estejamos a falar de uma final, era quase impossível não defender que o Real Madrid partia como favorito. Numa temporada em que já conquistaram a liga espanhola e eliminaram Manchester City e Bayern Munique para chegar a Wembley, os merengues iam em busca da 15.ª Liga dos Campeões e da segunda vitória europeia em três anos. E para isso, naturalmente, contavam com o engenho de Carlo Ancelotti.

Ficha de jogo

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Borussia Dortmund-Real Madrid, 0-2

Final da Liga dos Campeões

Wembley Stadium, em Londres (Inglaterra)

Árbitro: Slavko Vinčić (Eslovénia)

Borussia Dortmund: Gregor Kobel, Julian Ryerson, Schlotterbeck, Mats Hummels, Ian Maatsen, Emre Can (Donyell Malen, 80′), Sabitzer, Adeyemi (Marco Reus, 72′), Julian Brandt (Sébastien Haller, 80′), Jadon Sancho (Jamie Bynoe-Gittens, 88′), Füllkrug

Suplentes não utilizados: Alexander Meyer, Marcel Lotka, Salih Özcan, Felix Nmecha, Marius Wolf, Youssoufa Moukoko, Niklas Süle, Kjell-Arik Wätjen

Treinador: Edin Terzić

Real Madrid: Courtois, Dani Carvajal, Rüdiger, Nacho, Ferland Mendy, Fede Valverde, Eduardo Camavinga, Toni Kroos (Luka Modric, 85′), Jude Bellingham (Joselu, 85′), Rodrygo (Éder Militão, 90′), Vinícius Júnior (Lucas Vázquez, 90+4′)

Suplentes não utilizados: Lunin, Kepa, David Alaba, Tchouaméni, Dani Ceballos, Fran García, Brahim Díaz, Arda Güler

Treinador: Carlo Ancelotti

Golos: Dani Carvajal (74′), Vinícius Júnior (83′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Vinícius Júnior (35′), a Schlotterbeck (40′), a Sabitzer (43′), a Mats Hummels (79′)

“A final da Liga dos Campeões é o jogo mais importante e também o mais perigoso. Temos de desfrutar o mais possível do facto de estarmos aqui e só depois é que nos preocupamos com o que pode correr mal. O mais importante é ganhar a Liga dos Campeões, mas depois vem o medo de a perder. Chegar a uma final é muito difícil, muito difícil. Estamos tão perto do sucesso que temos medo. A Liga dos Campeões não é uma obsessão, mas ganhá-la é muito importante”, disse o treinador italiano na antevisão da partida.

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E ainda que estejamos a falar de uma final, era quase impossível não defender que o Borussia Dortmund partia como wildcard. Numa temporada em que não foram além do 5.º lugar na Bundesliga, os alemães chegavam a Wembley em busca da primeira Liga dos Campeões desde 1997 e da vingança de 2013, ano em que também chegaram à final e perderam com o Bayern Munique. E para isso, naturalmente, contava com a criatividade de Edin Terzić.

“O Real Madrid não perde uma final da Liga dos Campeões há 40 anos. É a minha idade. Se queres conquistar a Liga, tens de ganhar aos Campeões. Eles ganharam 14, nestes últimos anos estão sempre aqui a ganhar. É claro que os números estão com eles, mas nós temos de estar concentrados. É só um jogo. Oxalá possamos mudar esta dinâmica vencedora. Queremos este troféu grande e estamos focado no que nos espera”, atirou o técnico alemão na conferência de imprensa.

Ora, tal como antecipou logo na antevisão, Carlo Ancelotti lançava Courtois na baliza, face à gripe que tem afetado Lunin nos últimos dias, e colocava Jude Bellingham como uma espécie de falso ‘9’ com o apoio de Vinícius e Rodrygo. Do outro lado, Edin Terzić tinha Jadon Sancho, Julian Brandt e Adeyemi nas costas de Füllkrug, com Sabitzer a fazer dupla com Emre Can no meio-campo. Pelo meio, a final da Liga dos Campeões marcava ainda duas despedidas: a de Toni Kroos, titular nos merengues e a realizar o último jogo pelo clube antes de terminar a carreira depois do Euro 2024, e a de Marco Reus, suplente nos alemães e a realizar o último jogo pelo clube antes de partir para outras paragens ao fim de 12 anos.

Os primeiros 10 minutos foram de algum estudo mútuo, sem que nenhuma das equipas chegasse perto das balizas contrárias. Valverde até teve o primeiro lance mais perigoso, com um remate que passou muito por cima da trave (12′), mas não foi preciso esperar muito para entender que as câmaras iriam estar apontadas para o outro lado do relvado durante a larga maioria da primeira parte.

Brandt teve a primeira verdadeira oportunidade do jogo, com um remate cruzado que passou perto da baliza de Courtois (14′), e o Real Madrid demonstrava alguma dificuldade na hora de travar a velocidade do Borussia Dortmund. Os merengues até tinham mais bola e pareciam controlar o meio-campo, mas os alemães soltavam a transição ofensiva com muitos elementos e uma vertigem admirável que explorava cada centímetro de profundidade.

Adeyemi ficou muito perto de inaugurar o marcador, que ainda passou por Courtois depois de um passe extraordinário de Hummels mas permitiu o corte de Carvajal (21′), Füllkrug atirou ao poste num momento de total desconcentração da defesa espanhola (23′) e o mesmo Adeyemi viu o guarda-redes belga roubar-lhe novamente o golo com uma boa defesa (28′). À meia-hora, o Borussia Dortmund estava claramente melhor do que o Real Madrid e era a única equipa a ficar perto de marcar, apesar de oferecer a iniciativa aos merengues para depois conquistar o espaço nas costas da defesa adversária.

Até ao fim da primeira parte, Sabitzer ainda teve mais um lance em que poderia ter marcado mas esbarrou na noite inspirada de Courtois (42′) e Hummels ia conseguindo anular as investidas de Vinícius no corredor esquerdo. Ao intervalo, todas as oportunidades de golo da final da Liga dos Campeões pertenciam ao Borussia Dortmund, mas o Real Madrid não se mostrava propriamente desconfortável em campo.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o Real Madrid não demorou cinco minutos a alcançar o primeiro remate enquadrado na final, com Kroos a obrigar Kobel a uma defesa atenta na sequência de um livre direto (49′). Os merengues pareciam controlar melhor a profundidade, evitando as transições rápidas do Borussia Dortmund, mas continuavam a ter muita dificuldade na hora de construir ataques organizados.

A segunda parte mostrava-se menos vertiginosa do que a primeira, muito discutida na zona do meio-campo e sem um verdadeiro ascendente de nenhuma das equipas, e as oportunidades iam surgindo através de erros não forçados e não necessariamente da criatividade dos jogadores. Füllkrug ficou muito perto de abrir o marcador, com um cabeceamento fortíssimo que Courtois parou (63′), e Edin Terzić foi o primeiro a mexer ao trocar Adeyemi por Marco Reus.

Até que, a pouco mais de um quarto de hora do fim, aconteceu Real Madrid: canto marcado por Kroos na esquerda e Carvajal, a aparecer ao primeiro poste e demasiado livre de marcação, cabeceou para bater Kobel e abrir o marcador (74′). Os merengues poderiam ter aumentado a vantagem em diversas ocasiões logo depois, com Bellingham a aparecer na área a rematar ao lado (78′), Kroos a marcar outro livre direto perigoso (80′) e Camavinga a forçar Kobel a uma defesa monumental (81′), e Edin Terzić voltou a mexer com as entradas de Haller e Malen.

Já dentro dos últimos 10 minutos, tudo ficou fechado. Erro colossal de Ian Maatsen na saída de bola, com Bellingham a receber no meio e a soltar Vinícius, que apareceu na área a atirar cruzado para aumentar a vantagem dos merengues (83′). Füllkrug ainda bateu Courtois de cabeça, com o golo a ser anulado por fora de jogo (87′), e já nada mudou até ao apito final à exceção das entradas de Modric (para a saída apoteótica de Kroos), Joselu, Éder Militão, Lucas Vázquez e Jamie Bynoe-Gittens.

No fim, tal como ninguém poderia negar antes do apito inicial, o Real Madrid confirmou o favoritismo e venceu o Borussia Dortmund para conquistar a Liga dos Campeões pela 15.ª vez e a segunda em três anos, alargando ainda mais o estatuto de recordista absoluto da competição. Não é sorte, não é fortuna, não é só por acaso: quando se trata da liga milionária, quando se trata da final da liga milionária, os merengues trazem ao de cima o ADN de quem só sabe o maior do mundo.