Não ia ser uma tarefa fácil, tornava-se uma tarefa obrigatória. Até às meias-finais do playoff da Liga, quando foi surpreendido pela Ovarense, o FC Porto tinha ganho todos os encontros da principal competição nacional disputados no Dragão Arena, incluindo o primeiro clássico com o Benfica. Em paralelo, e por ter terminado a fase regular na primeira posição, tinha a vantagem do “fator casa” que ditou leis noutras modalidades como o voleibol, o andebol ou o hóquei em patins. Entre tudo isso, os encarnados precisavam de ir buscar um jogo à Invicta para tentarem depois resolver a questão na Luz. Não foi um, foram mesmo os dois. E num misto entre a melhor fase da época e uma espécie de “resposta” a quem falava numa equipa “velha”, esta segunda-feira podia trazer a decisão logo no jogo 3 da decisão frente a uma formação portista aquém do esperado.

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“Eu vou focar as minhas palavras em pouco. Há jogadores nesta equipa que não parecem focados em lutar pelo título nacional e a intensidade com que estão em campo é algo em que nós não nos revemos. Temos de tomar decisões. Não é impossível dar a volta a esta final, ainda é possível e, enquanto nós tivermos oportunidade de fazê-lo, eu e os jogadores que estiverem prontos para jogar iremos deixar tudo dentro de campo para conseguirmos virar”, tinha comentado Fernando Sá após o jogo 2, num discurso com um tom bem mais crítico do que no jogo 1 em que o Benfica ganhou por uma diferença clara de 23 pontos.

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“As equipas, de jogo para jogo, em playoff, tentam sempre pequenos ajustes. Não estávamos à espera que o [Max] Landis jogasse e isso aumenta o número de combinações. Têm sete estrangeiros e não sabemos os cinco que vão a jogo. Isso é algo que não sabemos e não dominamos. O que dominamos é o que podemos fazer entre nós. Tal como nas épocas anteriores, estamos no melhor momento nesta altura. Estamos a defender muito bem. Isso para nós não é uma escolha mas sim uma necessidade extrema porque o FC Porto tem jogadores com imenso talento. O mais importante é manter a humildade. Temos de ter ambição, foco, não entrar em euforias e manter os pés no chão”, pedira Norberto Alves, técnico das águias.

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Estava tudo nas mãos do Benfica, uma equipa que teve uma fase complicada da época com várias derrotas e deslizes inesperados mas que, na hora da verdade, voltou a marcar diferenças. A diferença entre o que é ter experiência ou ser velho. A diferença entre bons ataques que ganham jogos e boas defesas que conquistam os títulos. A diferença entre ter um bom grupo de jogadores e uma boa equipa. Era assim que, após o autêntico “atropelo” no jogo 1 e do triunfo construído na segunda parte do jogo 2, os encarnados podiam fazer a festa do tricampeonato numa época em que entrou na fase de grupos da Liga dos Campeões, ganhou a Supertaça e a Taça Hugo dos Santos e foi à final da Taça de Portugal. O 30.º título estava a 40 minutos, naquele que era um número redondo a mostrar a hegemonia na modalidade (FC Porto e Sporting juntos têm 21 títulos), e foi isso que demorou para a sua concretização, com mais uma exibição onde ficou clara a separação que existe entre uma equipa “velha” e uma equipa experiente – e com mais qualidade do que as outras.

Os encarnados começaram ligados à corrente, com um parcial de 7-0 nos minutos iniciais a aproveitar as defesas com superioridade de estatura para fazer diferença como acontecia com Ivan Almeida e Max Landis. Só mesmo Tanner Omlid, com dois triplos e oito pontos, impediu um fosso maior no resultado mas sempre que os azuis e brancos davam sinais de recuperação havia um lançamento exterior ou um ressalto ofensivo da equipa da casa que desequilibrava. O FC Porto tinha tudo para “quebrar” mas continuou a lutar, a dar tudo como num ressalto na tabela ofensiva com afundanço de Phil Fayne e passou pela primeira vez para a frente com 17-16 antes de dois triplos que fizeram o 25-18 antes do 25-20 no final do primeiro período.

O segundo parcial trouxe uns dragões na mesma muito agressivos em termos defensivos mas com um tiro menos certeiro que mexeu nas percentagens de lançamento e permitiu a recuperação gradual do Benfica. A formação de Norberto Alves estava longe do que tinha sido capaz de fazer no Dragão Arena no plano ofensivo mas conseguiu voltar para a frente do marcador com a entrada de Toney Douglas, vital a defender e a atacar (33-32). Com Charlon Kloof no balneário por lesão, era quase como se o FC Porto perdesse o gás e o Benfica voltasse a encher o balão, o que permitiu uma diferença de seis pontos ao intervalo (41-35).

Com Kloof de fora, no banco com o braço ao peito por um problema no ombro, os dragões tinham de fazer das suas fraquezas forças (literalmente) para manterem viva a esperança de adiarem a festa do Benfica. E foi isso que aconteceu, de novo com uma defesa mais agressiva a conseguir “secar” em grande parte o ataque da equipa da casa e a fazer um parcial de 11-2 que recolocava os azuis e brancos na frente por 48-46. O FC Porto iria mesmo terminar o terceiro período na frente por 59-56, com Trey Dreschel a ser o único que conseguia “furar” a boa defesa visitante. Procuravam-se heróis para a decisão, com Aaron Broussard a “agarrar” na equipa do Benfica antes de Toney Douglas surgir com os habituais triplos nas alturas chave que voltaram a colocar os encarnados na frente até ao triunfo final e à grande festa na Luz com o triunfo por 83-76.