Rodeado de combatentes e ex-combatentes, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a cerimónia do 10 de Junho, em Pedrógão Grande, para colocar água na fervura na questão das reparações históricas — que o atiraram para mínimos históricos de popularidade. O Presidente da República voltou a puxar o assunto: “Éramos poucos e aportámos a todos os continentes. Acertámos e falhámos e assumimo-nos como somos. Sem complexos na confissão dos erros, mas orgulhosos do mais que nos fez ser o que temos sido.”

É verdade que Marcelo manteve a tónica do confessar os erros sem complexos e falou em falhanços, mas assumiu orgulho pelo que fizeram “os nossos antigos combatentes, os nossos soldados”. Disse o Presidente que “os de ontem como os de hoje, como os do futuro” são “garantes da nossa soberania” e da “nossa liberdade”.

O Presidente procurou ainda esse equilíbrio entre o orgulho do passado e os erros cometidos quando disse que “Portugal não é só a memória das glórias, das euforias, das fortunas de quase nove séculos. Não é só a memória dos fracassos, dos dramas das memórias. É tudo isso.”

Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou a fazer depender a sua recandidatura da não existência de outros incêndios como os de 2017, voltou a deixar um apelo: “Que este 10 de junho de 2024 queira dizer que tragédias como as de 2017 nunca mais.” O Presidente fez questão de evocar “com respeito, comoção e saudade a tragédia de junho de 2017 e todas as suas vítimas”. Acrescentou, no entanto, que a cerimónia “evoca o passado, mas quer sobretudo dizer futuro”. E nesse futuro inclui os imigrantes como repovoadores do interior:  “Quer dizer reconstrução, novos jovens. Novos residentes, nacionais e estrangeiros.”

O Presidente da República evocou ainda Camões, lembrando que se comemoram os “500 anos do nascimento do génio. Daí que vá passar o resto do dia em Coimbra “na terra e na universidade em que terá podido aprender as suas letras, que tão bem se casaram com outra vida. Do atravessado de mares. Do aventureiro. Do viandante por esse mundo fora.” E ainda acrescenta, desta vez a falar de Camões: “Que outro 10 de junho conseguiria ser tão completo assim. Não omitindo a tragédia e a morte, mas sonhando com a redenção e a vida?”.

Marcelo Rebelo de Sousa terminou a intervenção a sugerir que os portugueses são melhores do que os “outros” pensam, sem concretizar quem são esses “outros”. “Portugal e os portugueses são sempre mas sempre melhores do que as antevisões dos arautos dos infortúnios. Nós portugueses somos sempre melhores do que às vezes pensamos e do que muitos outros gostam de pensar. E por isso nós, orgulhosamente, vivemos quase 900 anos de passado sempre feito futuro.”

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