A associação espanhola Manos Limpias (Mãos Limpas, em português), conotada com a extrema-direita espanhola, apresentou esta segunda-feira uma denúncia contra David Sánchez Pérez-Castejón, irmão do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. David é acusado de tráfego de influência e de fraude contínua contra a segurança social e as finanças espanholas (Hacienda espanhola). A magistrada do Terceiro Tribunal de Instrução de Badajoz, Beatriz de Biedma, despachou a denúncia, pedindo informações relativas à situação profissional e às condições do contrato de David Sánchez à câmara legislativa de Badajoz.

Primeiro a mulher de Sánchez, depois o irmão

29 de abril, Palacio de la Moncloa (Madrid, Espanha). O que poderia ter sido um discurso de demissão, foi um sentido agradecimento por parte do Presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez. Apesar das acusações contra a sua família, Sánchez decidiu não abdicar do seu cargo. E justificou a sua continuação com o compromisso nobre para com a dignidade, rejeitando por completo qualquer tentativa de degradação de pessoas inocentes que ocupam cargos políticos e públicos e considerando esta agressão mero produto de uma “contenda ideológica”. Garantiu “aguentar esta campanha” e respondeu à pergunta retórica que colocou — “É isto que queremos para Espanha?” — com um não.

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Porém, a associação Manos Limpias (em português: “Mãos Limpas), tinha outros planos. Depois de colocar Begoña Gomez sob suspeita e de ter ampliado a sua denúncia contra a mesma em maio – o que levou à retirada do embaixador espanhol de Buenos Aires, resultado de Milei, Presidente da Argentina, ter descrito a mulher de Sánchez como “corrupta” –, o sindicato avançou agora para o irmão do líder do governo espanhol David Sánchez Pérez-Castejon – cujo nome artístico é David Azagra. O sindicato acusado-o de prevaricação, tráfego de influência e de fraude contínua.

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A juíza Beatriz de Biedma, magistrada do terceiro Tribunal de Instrução de Badajoz, aceitou e despachou a denúncia feita pelo sindicato, no sentido de a mesma começar a ser investigada. Acontece que a pessoa em questão – neste caso, David Sánchez – ainda não é considerada culpada, nem as acusações que são feitas contra esta são consideradas verdadeiras. Logo, e por enquanto, não podem ser levadas a cabo diligências para apurar a sua responsabilidade ou inocência — apenas é possível uma resposta de direito que pode resultar na admissão, ou não, da denúncia apresentada.

Assim, o Tribunal de Instrução pediu informação sobre o contrato, as funções e o salário de David Sánchez à câmara legislativa de Badajoz depois de, em 2017, este ter sido nomeado coordenador de dois conservatórios de Badajoz e diretor do programa Ópera Joven (“Ópera Jovem” em português), além de ser coordenador de atividades dos conservatórios de música da área de cultura, juventude e bem-estar de Badajoz. A juíza exigiu ainda uma fiança de 10.000 euros ao secretário-geral do sindicato Manos Limpias, Miguel Bernard, para avançar com a denúncia, como reporta o jornal espanhol El Mundo.

A denúncia do Manos Limpias

No relatório apresentado pelo Manos Limpias, David Sánchez é acusado de receber um salário público sem ir trabalhar. Ou seja, não exercendo a sua função de diretor da orquestra sinfónica de Badajoz – posto para o qual tinha sido designado em 2017, poucos meses depois da tomada de posse do seu irmão como líder do governo espanhol.

O Boletim Oficial de Badajoz anunciou, em 19 de maio de 2017, as bases e as condições para o posto de trabalho de coordenador de atividades dos conservatórios de música da área de cultura, juventude e bem-estar cultural no regime laboral da alta direção de Badajoz. Entre as principais funções deste cargo, encontrava-se a direção da orquestra e da banda sinfónica e ainda da orquestra municipal de Badajoz.

O Manos Limpias destaca um panfleto de 18 de janeiro de 2019, onde se vê Azagra a dirigir a orquestra. Porém, no relatório considera “surpreendente” que Azagra não tenha dirigido a orquestra em muitas outras ocasiões, sobretudo considerando o vasto e preenchido calendário de atividades e atuações anunciado pelo organismo. Ainda segundo a mesma associação, muitos outros diretores ocuparam este posto – sendo este exclusivo a David Sánchez. “Ainda mais grave”, considera o grupo, foi descobrir que este alegadamente não acudia ao seu posto de trabalho na câmara de Badajoz, “salvo em poucas ocasiões”, optando pelo teletrabalho desde Elvas, Portugal.

A denúncia também sublinha a suposta aquisição por parte de David Sánchez de um palacete em Elvas, onde residia, tendo mudado assim a sua residência fiscal para Portugal, onde pôde evitar pagar o IRPF (Impuesto sobre la Renta de las Personas Físicas) – o equivalente ao IRS em Portugal. É ainda destacado que David Sánchez terá vários carros, bem como dois apartamentos, um em Madrid e outro em São Petersburgo (Rússia), além de 64.000 mil euros em criptomoedas e 1.4 milhões de euros em ações bancárias. Segundo a informação que consta do documento da associação, David Sánchez um salário anual de 55 mil euros desde 2017.

A denúncia contempla ainda Miguel Ángel Gallardo – presidente da câmara provincial de Badajoz, nomeado secretário geral do PSOE da Extremadura em março – e ainda o chefe de serviços de apoio jurídico e de inspeção da área de recursos humanos da administração de Badajoz, Alejandro José Cardenal, como avançado pelo jornal El Español.

PSOE: Denúncia “falsa” e comportamento “irrepreensível” de David Sánchez 

O PSOE (Partido Socialista Operário Español) não demorou a reagir. Defendeu o irmão de Pedro Sánchez e descreveu a denúncia como “falsa” e garantiu que não era mais que um “bulo” (boato em português) de um sindicato de “ultradireita”, não havendo qualquer “indício de delito”.

Garantiu ainda que em breve, uma vez apresentados todos os documentos requeridos pelo Tribunal de Instrução, seria possível comprovar o comportamento “irrepreensível” de David Sánchez e da administração onde desenvolve o seu trabalho e diferentes funções.

Em linha com esta certeza, quando, em maio, o PP (Partido Popular espanhol) solicitou que se abrisse uma comissão de inquérito a David Sánchez, esta foi aprovada, com maioria absoluta, pelo grupo socialista, que garantiu “não ter nada a ocultar” e que o pedido não era senão mais uma tentativa por parte dos populares para “sujar” a vida política. Porém, o PSOE não se debruçou sobre a acusação do PP a David Sánchez de não pagar os impostos em Espanha ao fazer teletrabalho desde Elvas, como avança elDiario.es.