A semana de França, na antecâmara da estreia no Euro 2024 e no pós-eleições europeias, foi muito marcada por declarações politizadas. Começou com Marcus Thuram, que comprovou que ouviu tudo o que o pai Lilian disse lá em casa, e continuou com Kylian Mbappé, que não passou à margem da vitória do partido de Marine Le Pen e do anúncio de eleições antecipadas por parte de Emmanuel Macron.

“Quero falar para o povo francês. Os extremistas estão a subir no poder. Quero pedir a todos os jovens que vão votar para perceberem os valores da tolerância. O Marcus disse para votarmos contra a extrema-direita e concordo com ele, estou com ele. Vamos tomar uma posição sobre as eleições muito em breve, enquanto grupo e equipa. Já estivemos a discutir sobre este assunto e queremos fazê-lo da forma mais apropriada e correta. Estou a pedir que votem contra os extremistas que querem dividir o nosso país. Quero sentir-me orgulhoso por vestir esta camisola, não quero representar um país que não representa os meus valores”, disse o já jogador do Real Madrid.

Ora, era neste contexto que França dava o primeiro passo no Euro 2024, esta segunda-feira e contra a Áustria, procurando encaminhar desde já o apuramento para os oitavos de final e responder aos Países Baixos, que no dia anterior venceram a Polónia e assumiram a liderança do Grupo D. Do outro lado, porém, estava uma Áustria de Ralf Rangnick que tinha o objetivo claro de repetir os oitavos de final do Euro 2024, o melhor resultado de sempre do país na competição.

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Assim, Didier Deschamps apostava numa equipa mais experiente do que jovem e lançava Kanté, Rabiot e Griezmann no setor intermédio, com Dembélé e Thuram no apoio a Mbappé e Tchouaméni e Camavinga no banco de suplentes. Já Ralf Rangnick tinha um onze inicial sem Arnautovic, com Konrad Laimer, Baumgartner e Grillitsch a surgirem nas costas de Gregoritsch.

França começou melhor e teve o primeiro lance de algum perigo, com Mbappé a rematar cruzado para defesa de Patrick Pentz (9′), mas a Áustria foi reagindo ao domínio inicial do adversário e cresceu no jogo. Os austríacos colocavam os blocos muito subidos no terreno, assentes numa zona intermédia, e os dois avançados eram os primeiros a implementar uma pressão alta que servia de tampão.

A equipa de Didier Deschamps tinha dificuldades para lançar o ataque, passando a apostar no erro do adversário e na transição rápida, e a Áustria até poderia ter marcado por intermédio de Baumgartner, que permitiu a defesa de Mike Maignan (37′). Logo depois, a muralha austríaca quebrou: Mbappé acelerou na direita, cruzou atrasado à procura do desvio de Griezmann e Wöber cabeceou para a própria baliza (38′). Os franceses foram a vencer para o intervalo, mas a exibição estava longe de ser satisfatória.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e Mbappé voltou a ter o primeiro lance de perigo, ao atirar ao lado quando estava isolado na cara de Patrick Pentz (55′). Ralf Rangnick mexeu à hora de jogo, lançando Arnautovic, Wimmer e Trauner de uma vez, e a Áustria melhorou bastante, adquirindo uma energia nova que causava mais desequilíbrios no último terço francês.

França respondeu com velocidade na profundidade que os austríacos permitiam, Deschamps lançou Kolo Muani e Camavinga e Mbappé acabou por sair lesionado, depois de cabecear contra um adversário e ficar a sangrar abundantemente. Até ao fim, já nada mudou: França venceu a Áustria pela margem mínima e com um autogolo, numa exibição sofrível dos franceses que foi uma espécie de empate técnico com um vencedor mediano.

A pérola

Mesmo sem ser brilhante, Kylian Mbappé. O avançado é o agitador constante de França, procurando velocidade e espaço em todo o lado e conquistando a atenção da defesa adversária sempre que toca na bola, o que liberta linhas de passe para os colegas. Não marcou, mas criou o lance do golo, e foi o único francês a mostrar-se permanentemente inconformado com o resultado magro.

O joker

N’Golo Kanté. O médio foi uma das surpresas relativas no meio-campo de França, já que seria mais expectável ver Eduardo Camavinga no onze inicial, mas tornou-se absolutamente crucial na forma como equilibrou uma equipa que esteve sempre em subrendimento. O jogador do Al-Ittihad regressou à seleção para o Euro 2024, mesmo estando a jogar na Arábia Saudita, e deixou boas indicações num jogo difícil em que foi um autêntico polvo que controlou as ocorrências.

A sentença

Com este resultado, França juntou-se aos Países Baixos na liderança do Grupo D e deu um passo importante no apuramento para os oitavos de final do Euro 2024. Por outro lado, Áustria e Polónia ficam com as tarefas ainda mais dificultadas, sendo que as exibições dos franceses e dos neerlandeses também não deixam antecipar enormes discrepâncias nas duas jornadas restantes.

A mentira

França não é a grande favorita à conquista do Euro 2024. Mas é candidata. Sem ser possível excluir a equipa de Didier Deschamps das contas da vitória final, até por ser vice-campeã do mundo, o jogo desta segunda-feira demonstrou que é possível fazer frente aos franceses e explorar as debilidades, essencialmente defensivas, que ainda não estão bem resolvidas.