Primeiro falou Rafael Leão, depois entrou na sala Roberto Martínez. Como era esperado, as perguntas foram diferentes, os tempos de resposta também. O selecionador nacional tem um especial cuidado com aquilo que passa para fora, optando sempre por ouvir as questões de forma atenta enquanto vai acenando com a cabeça antes de retorquir em português, em espanhol-com-toques-de-português ou em inglês sempre com aquele tom cordial. Ainda assim, e ao contrário do que acontecia, o treinador também responde a perguntas com perguntas quando quer dar outro tipo de “resposta”. E foi isso que aconteceu quando o tema foi Ronaldo e a capacidade ou não de aguentar em termos físicos mais 90 minutos vindo da Liga saudita.

– Acha que utilizar o Cristiano durante 90 minutos ao longo de todo o torneio faz sentido? Ele não pressiona o guarda-redes nem os defesas contrários com tanta frequência…
– Posso fazer-lhe uma pergunta? Sabe quantos minutos o Cristiano fez na temporada passada?
– …
– O Cristiano tem muita experiência, não houve mais nenhum jogador na história do futebol que estivesse em seis Europeus. É importante perceber o que um jogador traz. O Cristiano traz experiência, traz oportunidades de golo, traz outra maneira de abrir espaços. O Cristiano está porque merece cá estar, basta olhar para o que tem feito e para o que fez nas últimas provas, com 50 golos em 51 jogos no seu clube…

“Necessidade de colocar um jogador mais próximo de Ronaldo? O Cristiano fez três remates enquadrados e foi o que mais remates enquadrados teve entre os avançados na primeira jornada. Foi muito disciplinado, trabalhou muito e é um matador, um jogador de área muito importante. Abre espaços. No golo do Chico, o espaço abre-se porque o Cristiano está na área. Trabalhamos com um foco e o Cristiano é importante para nós, naquilo que tentamos fazer na grande área. Mas é importante lá chegar. A nossa equipa não é uma equipa de jogo direto, de procurar o ponta de lança rapidamente. Queremos chegar ao último terço com cinco, seis, sete jogadores. O estilo de Portugal não é jogar de forma direta. Não precisamos de ter um jogador, precisamos de ter quatro, cinco ou seis perto do ponta de lança”, tinha referido o técnico antes.

Durante toda a conferência, o espanhol foi abordando vários outros temas. Elogiou a capacidade da equipa da Turquia, recusou a ideia de ser um encontro mais “fácil” por teoricamente existir mais espaço para ser explorado, reforçou os aspetos positivos retirados do triunfo com a Rep. Checa e relativizou o peso que o resultado possa ter, destacando que “é no final dos primeiros três encontros que se fazem balanços”.

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“São adversários diferentes. O jogo da Rep. Checa não foi o que planearam porque tiveram um bloco baixo cedo pelos problemas que conseguimos criar. A Turquia é uma mistura incrível de talento jovem, vimos o que jogadores como Arda Güler fazem. Depois, têm a experiência de jogadores como Çalhanoglu. Acho que essa mistura traz muita qualidade com bola, sendo que o treinador também deu uma estrutura defensiva muito boa e forte. Têm um jogo interior muito forte e precisamos de parar isso, de estar compactos e ter uma ideia clara de como parar a Turquia. Mas também precisamos de ser nós mesmos, controlando e dando largura o jogo. O jogo com a Geórgia mostrou uma Turquia que pode defender mas que sempre tem o ataque em foco. O último golo mostra isso, mostra a personalidade e a atitude da equipa”, apontou o técnico.

“Francisco Conceição titular? Temos 23 jogadores de campo, dez que vão para o onze inicial e uma equipa que termina o jogo. O importante é que todos estão preparados. O Francisco entrou e mostrou o porquê de estar na Seleção, Neto e Inácio igual, tal como Nelson Semedo. É isso que precisamos de fazer. Para nós é importante chegar ao torneio e crescer. Depois do jogo com a Rep. Checa somos melhores e estamos mais preparados. Foi o primeiro jogo em que conseguimos dar a volta ao marcador depois de sofrer o primeiro golo. Precisamos que todos estejam preparados, o importante não é estarem no onze”, acrescentou.

“Acho que o resultado tem um peso importante no futebol. Para nós, as estatísticas do jogo com a Rep. Checa, como 73% de posse de bola e 13 cantos, foram muito boas. Precisamos de melhorar o que fizemos na primeira parte, não tivemos o número de remates que queríamos. A nota mais positiva foi a reação depois de sofrer o golo. A equipa controlou o jogo, mostrou maturidade e personalidade. Nesse momento fizemos cinco remates enquadrados, marcámos três golos [n.d.r. um anulado, a Diogo Jota], foi uma reação muito boa. A equipa cresceu e isso é muito importante. Há muitos dados que mostram o que fizemos bem e o que precisamos de melhorar”, salientou ainda sobre a partida de estreia de Portugal neste Euro-2024.

Por fim, e numa questão um pouco mais “fora”, Roberto Martínez comentou também aquelas que são as suas principais referências como técnico. “O treinador que marcou mais a minha forma de ver o jogo foi Johan Cruyff, mudou a forma de ver todo o jogo. Tive a oportunidade de ver treinadores com outras metodologias, como a de Fabio Capello, de [Francisco] Maturana, sempre treinadores que trabalharam muito bem os vários aspetos de uma equipa. Mas a influência maior foi de Cruyff”, destacou o espanhol.