Ein Leben lang, Blau und Weiß ein Leben lang
Em alemão, a frase significa “uma vida inteira, uma vida inteira de azul e branco”. É um dos cânticos mais conhecidos e reconhecidos do Schalke 04, cujos adeptos enchem estádios há décadas a jurar essa fidelidade eterna ao clube. O que poucos sabem, contudo, é que o Schalke 04 oferece a esses mesmos adeptos a possibilidade de tornarem literal a expressão “vida inteira” — e até de irem para lá disso.
No topo de uma colina, a cerca de 500 metros da Veltins-Arena onde Portugal defronta esta quarta-feira a Geórgia, em Gelsenkirchen, existe um cemitério com vista de e para o estádio. Com 1.904 túmulos ao longo de 4 mil quilómetros quadrados, o espaço pertence ao Schalke 04 e está reservado a adeptos, antigos jogadores ou antigos treinadores do clube. Inaugurado em 2012, conta com um gigantesco escudo dos alemães formado por flores azuis e brancas e ainda um pequeno campo de futebol com duas balizas.
As 1.904 campas são uma homenagem ao ano de fundação do clube e o Schalke 04 tem cumprido a promessa de não aumentar a capacidade do cemitério. O valor de cada túmulo chega aos 5.400 euros, sendo que o valor não entra diretamente no orçamento dos alemães e garante 25 anos de manutenção, e antes da inauguração já existiam 100 reservas — sendo que algumas famílias decidiram mesmo mudar a campa de alguns entes queridos do sítio original para o cemitério do clube.
Na altura, há mais de dez anos, a CNN fez uma reportagem sobre o local e falou com um adepto que já tinha reservado uma campa. “Para uma pessoa normal, pode ser uma decisão louca. Mas para mim não é. Apoio o Schalke 04 há 26 anos, para mim é só uma forma adicional de demonstrar o meu apoio. Pagamos pela manutenção, ninguém tem de cuidar da campa. O Schalke 04 faz parte da cultura de Gelsenkirchen. Sem o clube, não existia nada aqui. A cidade vive a partir do clube”, disse Arthur Gore, que tinha 34 anos.
A cidade alemã faz parte do imaginário português devido à final da Liga dos Campeões de 2004, quando o FC Porto venceu o Mónaco em Gelsenkirchen para conquistar o troféu, e a Seleção Nacional disputou dois jogos na Veltins-Arena no Mundial 2006, contra o México e Inglaterra. Esta quarta-feira, o percurso português volta a cruzar-se com o estádio do Schalke 04 — que também tem uma capela onde os adeptos mais acérrimos podem casar, sendo que o clube também tem uma parceria com um hospital local para que uma parte da enfermaria esteja reservada aos apoiantes.
Apesar de ser um projeto inovador e até surpreendente, a verdade é que não é inédito. Desde 2006 que o Boca Juniors também conta com um cemitério reservado aos adeptos do clube argentino, sendo que, também na Alemanha, o Hamburgo inaugurou um espaço semelhante no ano seguinte.