A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) considerou esta quinta-feira que os hospitais estão “desejosos” de enviar os internamentos sociais para as instituições, que “não podem ser o despejo” dessas pessoas que permanecem internadas após terem alta.
“Os hospitais estão desejosos de mandar as pessoas para as instituições, mas as instituições também não podem ser o despejo dos hospitais, nomeadamente, se não tiverem condições para isso”, afirmou Maria João Quintela, da direção da CNIS, ouvida na comissão parlamentar de Saúde a pedido do PS.
Esta audição decorreu na sequência do último barómetro promovido pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, divulgado no final de maio, e que indicou que os hospitais do Serviço Nacional de Saúde tinham, em 20 de março, 2.164 camas ocupadas com internamentos sociais, mais 11% face ao mesmo período de 2023.
O estudo estimou ainda um total de mais de 378 mil dias de utentes internados inapropriadamente, ou seja, todos os dias que um doente passa no hospital quando já tem alta clínica e não existe um motivo de saúde que justifique a sua permanência em ambiente hospitalar.
Perante os deputados, Maria João Quintela salientou que estes doentes, após receberem alta hospitalar pela razão que levou ao seu internamento, “levam as comorbilidades” de que sofrem para as instituições que os acolhem, continuando a necessitar de cuidados em várias áreas.
Estas pessoas “saem da situação aguda — e podem sair bem tratadas — mas levam consigo situações crónicas que depois precisam de cuidados”, realçou a dirigente da CNIS, para quem é necessário refletir sobre se os hospitais também estão preparados para ter uma população cada vez mais envelhecida.
“Será que o paradigma hospitalar é suficiente, porque chegam-nos pessoas que ainda precisam de cuidados, não digo hospitalares de internamento, mas de continuidade”, questionou a dirigente da CNIS, recordando que 20% da população portuguesa tem 65 ou mais anos.
Como uma das eventuais soluções para a questão dos internamentos sociais, Maria João Quintela defendeu que um “caminho possível” passa pelo financiamento de projetos acordados entre as diversas entidades.
“Dependemos da articulação entre a Saúde e a Segurança Social. Não somos nós que mandamos nessa articulação e, se não existir, as instituições particulares de solidariedade social andam de um lado para o outro”, alertou a membro da direção da confederação.
Maria João Quintela realçou também que estas instituições não devem ser vistas “apenas como cumpridoras de uma série de alíneas administrativas”, mas sim como promotoras de uma humanização em todo o território nacional que é realizada em proximidade.
À data da recolha dos dados do barómetro, os internamentos sociais tinham um custo de mais de 68 milhões de euros para o Estado, um valor superior aos 52 milhões de euros em março de 2023, indicou o documento, que, ao extrapolar este cenário para o conjunto do ano, chegou a um impacto financeiro estimado superior a 260 milhões de euros.