O nível de alerta relativo ao vulcão de Santa Bárbara, na Terceira, subiu para V3 e o do sistema vulcânico fissural da ilha para V1, devido à atividade sísmica, segundo o centro de vigilância sismovulcânica dos Açores.

Considerando que desde março de 2024 a atividade sísmica no setor oeste da ilha Terceira se encontra francamente acima dos níveis normais e tem sido acompanhada por alguns sinais de deformação crustal [nos corpos rochosos], factos que indiciam a ocorrência de uma intrusão magmática em profundidade, o gabinete de crise decidiu elevar o nível de alerta do vulcão de Santa Bárbara para V3 e do Sistema Vulcânico Fissural da Terceira para V1”, lê-se na página na internet do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).

Nos níveis de alerta vulcânico, V0 significa “estado de repouso” e V6 “erupção em curso”, de acordo com a informação disponível na página do CIVISA.

O vulcão de Santa Bárbara estava no nível V2, que significa uma possível reativação do sistema, passando agora para o nível seguinte (confirmação de reativação do sistema).

Segundo o Instituto de Vulcanologia da Universidade dos Açores (IVAR), a informação obtida através da rede de monitorização gerida pelo CIVISA permite aferir que a crise sismovulcânica que se regista na ilha Terceira desde 24 de junho de 2022 “se mantém, evidenciando sinais de claro incremento”.

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No âmbito desta crise, a atividade sísmica tem estado centrada “com maior incidência dentro do perímetro do vulcão de Santa Bárbara e tem sido caracterizada essencialmente pela ocorrência de microssismos”.

O sismo mais energético ocorreu em 14 de janeiro de 2024, às 7h19 horas locais, com a magnitude de 4,5 na escala de Richter e epicentro a cerca de um quilómetro a este da Serreta, e foi sentido com intensidade máxima de VI na escala de Mercalli Modificada, no setor oeste da ilha.

Na ocasião, e segundo o CIVISA, “foram registadas algumas fendas em habitações com pouca resistência à ação sísmica, queda de muros de pedra solta, danos em algumas vias de comunicação e derrocadas no interior da ilha e em arribas”.

De acordo com a escala de Richter, os sismos são classificados segundo a sua magnitude como micro (menos de 2,0), muito pequenos (2,0-2,9), pequenos (3,0-3,9), ligeiros (4,0-4,9), moderados (5,0-5,9), fortes (6,0-6,9), grandes (7,0-7,9), importantes (8,0-8,9), excecionais (9,0-9,9) e extremos (quando superior a 10).

A escala de Mercalli Modificada mede os graus de intensidade dos sismos.

Com uma intensidade III, considerada fraca, o abalo é sentido dentro de casa e os objetos pendentes baloiçam, percecionando-se uma “vibração semelhante à provocada pela passagem de veículos pesados”, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Por outro lado, o CIVISA explica que a sismicidade registada tem abrangido igualmente, embora com menor frequência, o Sistema Vulcânico Fissural da Terceira, especialmente num troço que atravessa a serra de Santa Bárbara e que se estende até às proximidades do Clube de Golfe, a leste.

O organismo refere ainda que se tem gerado atividade mais a sul, para leste da área de influência do vulcão de Santa Bárbara, numa zona entre as Cinco Ribeiras e Angra do Heroísmo, “e no mar, a oeste e a sul da ilha”.

“O fenómeno que está a afetar a ilha Terceira não se pode dissociar do incremento da atividade sismovulcânica que se tem verificado na região dos Açores e, em particular, no grupo Central, desde o início de 2022”, explica.

O CIVISA admite a possibilidade de continuarem a ocorrer eventos sentidos pela população, que poderão atingir magnitudes e intensidades superiores às registadas até à data, tendo em conta “o padrão de atividade observado”.

Já esta quinta-feira, o governo dos Açores apelou  à calma após a subida do nível de alerta relativo ao vulcão de Santa Bárbara, na ilha Terceira, e garantiu que as entidades estão preparadas para reagir caso a crise sismovulcânica se agrave.

Importa neste momento encontrar tranquilidade e a normalidade possível num contexto de crise sismovulcânica, tendo a certeza de que estamos mais preparados do que no passado. Nunca o vulcão de Santa Bárbara esteve tão vigiado”, declarou o secretário do Ambiente e Ação Climática, Alonso Miguel, que tutela a Proteção Civil.

“Esta nova circunstância não altera em nada os procedimentos em curso, nem induz neste momento procedimentos especiais”, afirmou Alonso Miguel.

Questionado sobre as implicações de o maior hospital da região estar inoperacional caso se verifique um agravamento da crise sismovulcânica, o governante garantiu que “todos os meios à disposição da Proteção Civil serão ativados caso haja justificação”.

Estaremos preparados para dar melhor resposta possível”, prometeu.

Alonso Miguel reiterou, contudo, o apelo à calma, lembrando que “este tipo fenómeno pode durar meses ou anos”.

“Em São Jorge tivemos um ano e meio em alerta V3. Portanto, não vale a pena criarmos alarme social. Importa, sim, estar vigilante e fazer monitorização e intensificar a articulação entre todas as entidades”, defendeu.

Segundo o Instituto de Vulcanologia da Universidade dos Açores (IVAR), a informação obtida através da rede de monitorização gerida pelo CIVISA permite aferir que a crise sismovulcânica registada na ilha Terceira desde 24 de junho de 2022 “se mantém, evidenciando sinais de claro incremento”.

No âmbito desta crise, a atividade sísmica tem estado centrada “com maior incidência dentro do perímetro do vulcão de Santa Bárbara e tem sido caracterizada essencialmente pela ocorrência de microssismos”.

O Vulcão Santa Bárbara fica situado na ponta ocidente da Terceira. É um vulcão com duas caldeiras, uma externa,  com cerca de 2,5km, que terá resultado de um colapso do vulcão entre os 30 mil e os 25 mil anos. A interna é mais recente e ter-se-á formado há 10 mil anos. Terá sido nela que ocorreram as últimas e principais erupções.

O vulcão tem cerca de cem centro eruptivos, na caldeira e nas vertentes do cone, a norte, noroeste e este. Mas nos últimos 20 mil anos só foram identificadas oito erupções, a última em 1761, na vertente este: formaram-se, na altura, oito pequenos domos traquíticos e coulées (montes de lava), conhecidos por Mistérios Negros, segundo o Instituto de Investigação em Vulcanologia dos Açores.