Numas eleições que bateram recordes de afluência às urnas, a União Nacional de Marine Le Pen carimbou uma vitória clara sobre o partido do Presidente Emmanuel Macron, que caiu para terceiro lugar, atrás da Frente Popular de Esquerda. Os resultados levaram partidos a unirem esforços contra a extrema direita, desde logo dando conta de que uns candidatos vão desistir em prol de outros para tornar a maioria absoluta da União Nacional mais difícil de atingir.

Com todos os votos contados, os resultados revelam que a União Nacional venceu em 297 círculos, seguida da Frente Popular de Esquerda, que levou a melhor em 159, do Renascença, que venceu em 70, e dos Republicanos, que ficaram à frente em 20. Em termos oficiais, o Ministério francês da Administração Interna deu conta, segundo a AFP, da eleição de 39 deputados à primeira volta (o que implica vitórias por maioria absoluta nos círculos em causa) pela União Nacional e 32 de partidos que integram a Frente Popular de Esquerda.

A taxa de participação na primeira volta das eleições legislativas — que ficou nos 66,71% — representa um recorde com dezenas de anos. A imprensa francesa, relativamente aos últimos dados oficiais da afluência às 17h00 (59,39%), dava conta de que desde a primeira volta das legislativas francesas de 1978 que não se registava um valor tão elevado de participação, com exceção para 1986, quando foi implementado um sistema pouco duradouro assente na representação proporcional. Feitas as contas, trata-se de um recorde com 46 anos se forem tidas em conta as eleições de 1978 ou com 38 anos no caso do ato eleitoral de 1986.

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O aumento de votos por parte dos eleitores franceses beneficiou o grande vencedor da noite, a União Nacional, que na primeira volta de 2022 tinha conseguido 4,2 milhões de votantes e que os dados agora apontam para os quase 10 milhões.

Le Pen diz que “a democracia falou”, Attal diz que “extrema direita está às portas do poder”: as reações à vitória da União Nacional

Os primeiros resultados da noite obrigaram a reações rápidas por parte dos derrotados, principalmente com a noção de que a segunda volta das eleições iria ter mais do que dois partidos/coligações a votos: o Renascença e o Frente Popular de Esquerda anunciaram que vão retirar os seus candidatos que ficaram em terceiro lugar, respetivamente, um em prol do outro. O objetivo é claro: travar o avanço da extrema-direita e a evitar que esta conquiste uma maioria absoluta na segunda volta das eleições. Seja em formato de comunicado, seja através de vozes associadas aos dois lados, a noite fica marcada por um consenso entre as forças políticas de que é preciso uma união contra Le Pen.

A verdade é que Le Pen foi a única a cantar vitória na noite eleitoral e, além do primeiro lugar da União Nacional e aliados, até o fez em nome próprio: foi um dos nomes que conseguiu uma eleição à primeira volta através de uma maioria absoluta no círculo eleitoral de Pas-de-Calais, a cidade costeira francesa que há anos lida com problemas de imigração. Também a irmã mais velha, Marie-Caroline Le Pen, qualificou-se para a segunda volta das legislativas depois de vencer o círculo por onde se candidatou, em Sarthe, com 39,3% dos votos.

Caminho inverso fez o líder do Partido Comunista, Fabien Roussel, que anunciou que vai ser eliminado na primeira volta das eleições legislativas no norte de França após ter sido derrotado pelo candidato da União Nacional, Guillaume Florquin. Quem venceu o círculo por onde se candidatou, mas não conseguiu uma eleição à primeira volta foi Gabriel Attal, atual primeiro-ministro francês e o homem que encabeçou a candidatura pelo partido de Emmanuel Macron. Segue para a segunda volta.

E quem não vai ter vida fácil é Eric Ciotti, o líder dos Republicanos que abriu uma fenda dentro do próprio partido ao decidir aliar-se à União Nacional nestas eleições (não sendo acompanhado por parte do partido), não conseguiu assegurar a eleição na primeira volta e terá uma segunda ronda a três no círculo por onde se candidata. Já François Hollande, antigo Presidente de França, venceu o círculo eleitoral em Corrèze com 37,63% dos votos, mas não o suficiente para ficar eleito à primeira volta. Aliás, vai também concorrer contra dois adversários — a não ser que um deles retire a candidatura.

Vários membros do governo francês acabaram por ter de desistir das suas candidaturas devido aos resultados eleitorais e às terceiras posições em diversos círculos. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Marie Guévenoux, ficou em terceiro lugar no círculo de Essonne e anunciou que se retira e não participa na segunda volta pelo “risco de uma vitória da União Nacional” e a secretária de Estado Sabrina Agresti-Roubache também abandonou a eleição em Marselha.