Existem contratações anunciadas, como a ida de Kylian Mbappé para o Real Madrid. Existem contratações previsíveis, como a ida de Ian Maatsen para o Aston Villa. E depois existem contratações que ainda nem sequer eram oficiais, mas já tinham sido confirmadas por todas as partes envolvidas — e o caso mais paradigmático é o de Leandro Barreiro, que vai reforçar o Benfica a partir da próxima temporada.

O médio de 24 anos foi oficializado esta terça-feira, mas tinha tudo acertado com o Benfica desde janeiro e a saída do Mainz já tinha sido anunciada, com Leandro Barreiro a deixar o clube alemão a custo zero e no final do contrato. O jogador só chegou a Lisboa no fim de semana para realizar os habituais testes médicos, mas, ainda em maio, Rui Costa confirmou desde logo que Leandro Barreiro seria reforço ao longo do mercado de verão.

“O Leandro também é jogador do Benfica. É um médio muito rotativo, muito dinâmico, e vem completar o meio-campo, um espaço que nos faltava. Será mais uma solução no meio-campo. Tem uma rotatividade muito grande, uma capacidade física elevada, uma qualidade técnica fiável para jogar no Benfica. E temos esperança de que seja um grande elemento na próxima temporada”, disse o presidente encarnado, na mesma entrevista em que confirmou que o clube tinha acionado a opção de compra prevista no empréstimo de Álvaro Carreras.

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Nascido em Erpeldange, no Luxemburgo, Leandro Barreiro tem ascendência angolana e também conta a nacionalidade do país africano, para além de ter família a viver em Portugal. Deu os primeiros passos no Racing-Union e no Erpeldange e terá chegado a atrair o interesse do scouting do PSG, que chegou a assistir a alguns jogos do médio durante a formação. O salto, porém, acabou por ser feito através de outro clube: com apenas 16 anos, em 2016, aceitou o desafio do Mainz e mudou-se para a Alemanha para integrar a equipa Sub-17.

Assinou o primeiro contrato profissional dois anos depois e estreou-se na equipa principal em fevereiro de 2019, numa goleada sofrida contra o Bayer Leverkusen a contar para a Bundesliga. “O treinador [Sandro Schwarz] disse-me: ‘Hoje vais ser titular, boa sorte, faz aquilo que costumas fazer nos treinos’. Estava nervoso, mas também estava entusiasmado. Tinham passado 13 minutos de jogo, olhei para cima e pensei no quão difíceis são as coisas no início, mas as minhas pernas aguentaram os 90 minutos. Perdemos e no final estava arrasado, era o meu primeiro jogo. Fui para casa a conduzir e tinha cólicas, quase não conseguia pôr as mudanças. Hoje já consigo falar nisso, até consigo rir desse momento”, disse Leandro Barreiro numa entrevista recente aos meios oficiais do clube alemão.

Desse dia de estreia, porém, tem outro momento mais aparatoso para recordar: num duelo aéreo, acertou com a testa em cheio no nariz de Julian Baumgartlinger e provocou uma fratura ao austríaco. Daí para a frente, ao longo das últimas seis temporadas, não voltou a sair da equipa principal do Mainz e tornou-se cada vez importante e imprescindível, sendo que somou 31 jogos e quatro golos marcados tanto em 2022/23 como em 2023/24. A ligação de oito anos ao clube, fortalecida pelo facto de ter chegado muito novo, fez dele um dos favoritos dos adeptos — algo que explica a emoção com que viveu a despedida no final da época.

“A despedida trouxe emoção e caos. Foi naquele momento que me caiu a ficha, foi ali que percebi que era o meu último jogo pelo Mainz”, recordou na mesma entrevista, lembrando a derradeira partida, contra o Wolfsburgo, onde acabou de joelhos no relvado a ser ovacionado pelas bancadas. “No caso do Mainz, percebi rapidamente, logo no fim das primeiras conversas e do primeiro treino à experiência, que era isto que desejava para mim. Ainda por cima não era assim tão longe do Luxemburgo. Senti saudades de casa, mas também tive uma sensação de bem-estar. Tudo começou com coisas muito positivas e momentos bonitos”, explicou, com o presidente dos alemães a garantir que a porta do clube estará “sempre aberta”.

Leandro Barreiro é internacional pelo Luxemburgo desde março de 2018, soma 56 internacionalizações e dois golos, e é assim o segundo reforço do Benfica depois do grego Vangelis Pavlidis, que chegou do AZ Alkmaar. Na Luz, vai competir com Florentino, João Neves, Fredrik Aursnes e João Mário, os elementos do meio-campo de Roger Schmidt, e fortalecer o setor com experiência de várias temporadas na Bundesliga e até um toque de sentimento: é que a família angolana e a que vive em Portugal tornaram o novo médio encarnado num fervoroso benfiquista.

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